Celebramos neste dia o primeiro domingo itinerário quaresmal, um período no qual somos convidados a uma interiorização e revisão da nossa atuação como cristãos e cristãs no mundo, bem como de nossa relação com o próximo, dentro e fora da comunidade de fé. A tentação aparece como o primeiro obstáculo para a realização da plena comunhão do homem com Deus.
Na 1° leitura do livro do Gênesis 2,7-9; 3,1-7, temos o segundo relato da narrativa judaico-cristã da criação do mundo, através de uma linguagem mítica, onde tudo é explicado a partir da intervenção divina. A figura central é o homem criado à imagem de Deus e vivificado por seu mesmo Espírito. Após da criação Deus convida o homem e a mulher à uma vida harmoniosa no Éden. A ambos concede plena liberdade de usufruto sobre os bens criados, adverte, no entanto, que o fruto do conhecimento perfeito não lhes pertence, pois está reservado ao próprio Deus. A serpente, a mais astuta entre os animais aparece como a voz da desobediência que incita a mulher a transgredir a vontade de Deus. Ao contrário de Jesus (como veremos no evangelho) a mulher não resiste à tentação e come do fruto proibido, dando início ao rompimento da aliança entre a criatura e o criador. Em seguida seus olhos se abrem e percebem que já não estão na harmonia criacional, mas em um mundo hostil e desconhecido. Percebem também a sua nudez/fragilidade: causa de medo e vergonha. Muitas pessoas acreditam que o pecado original está ligado ao ato sexual, no entanto Deus desde o momento da criação pediu que fossem fecundos e que multiplicassem ou seja, a vida sexual do casal já era parte integrante da criação. O pecado original na verdade, diz respeito a rejeição da vontade de Deus e a ruptura com o seu projeto de vida.
No salmo 50/51, temos o reconhecimento do pecado e a procura da reconciliação do ser humano com Deus. Através desta belíssima oração o homem reconhece a grandeza do amor de Deus, do qual encontra forças para suplicar-lhe desde a sua condição pecadora.
A 2° leitura da carta aos romanos 5,12-19, está em contraposição da primeira leitura, onde Jesus, o Cristo é o protótipo do novo Adão, é aquele que restitui a aliança perdida no Éden, através de sua vida, morte e ressurreição.
No evangelho segundo a comunidade de Mateus 4,1-11, contemplamos Jesus em um longo período de oração no deserto antes de inaugurar sua ação messiânica. Ele aparece como o novo Israel tentado no deserto, mas diferentemente de Israel, Jesus sai vencedor do combate, não se deixando apartar de Deus. O demônio atua no exato momento em que Jesus está mais vulnerável, assolado pela fome e a sede. Através das três tentações percebemos sua ousadia e astúcia. Por três vezes e de diferentes formas prova a messianidade de Jesus: o tenta para que a use em benefício próprio (cf. v.3); para que ostente seu poder (cf. v.6) e adore um outro ser que não a Deus (cf. v.8-9). A terceira tentação é uma das mais ousadas: Jesus é levado a cima do monte, lugar propício do encontro com Deus e de sua manifestação, segundo as crenças de Israel. Ali o diabo propõe a Jesus uma adoração inversa: adorá-lo em lugar de adorar a Deus, curvar-se diante dele para obter glória e poder. Partindo das Sagradas Escrituras e impulsionado pelo Espírito de Deus, Jesus confronta sabiamente o divisor. Mateus afirma que o diabo deixou a Jesus e que os anjos de Deus se aproximaram para servi-lo.
Como vemos as tentações chegam no momento inesperado e de fragilidade, sempre através de propostas sedutoras e atraentes aos nossos olhos ou através do nosso orgulho, soberba e indiferença. O que te é causa de queda hoje? O que fragiliza sua fé? Não se esqueça, Deus é contigo e te acompanha neste itinerário de maturação e encontro com o ressuscitado.
Uma feliz semana