Escrevo este artigo não pela simpatia que tenha pelo santo, mas pelas inúmeras confusões, limitações no conhecimento de suas obras e pela má interpretação que fazem de seus escritos. São Luís Grignion de Montfort, nasceu em 31 de janeiro de 1673, próximo a cidade de Montfort na região da Bretanha – França. Faleceu precocemente em 28 de abril de 1716.
Montfort foi um sacerdote diocesano que se destacou pela sua ação missionária e pela atenção predileta aos mais pobres. No entanto, atualmente muitos que querem resgatar a sua doutrina, se esquecem de tudo isso e se fecham na “idolatria” mariana, se distanciando de tudo aquilo que propôs Montfort. No livro: o amor da Sabedoria Eterna, (de 1712 ou 14) ele deixa bem claro a sua doutrina, centrada no amor a Santíssima Trindade. Esta obra antecede o que chamamos do tratado da verdadeira devoção a Maria, que surgiu muitos anos depois da sua morte.
No amor da Eterna Sabedoria (Deus), a partir do capítulo XV, Montfort apresenta quatro meios para alcançar a Divina Sabedoria. O primeiro meio é o ardente desejo vivo da Sabedoria. O segundo meio é o da oração continua. O terceiro é o da mortificação universal. Montfort entende mortificação como o controle e o não ceder aos desejos da carne livremente. O quarto meio é o da devoção a Maria, pois foi por ela que a Sabedoria Encarnada: Jesus, habitou entre nós. Este quarto meio foi o mais compreensível para o público de Montfort, lembrando que ele predicava para as pessoas mais pobres e humildes do povo. Visto que este foi o que mais chegou ao entendimento do povo, ele o desenvolveu por meio de suas homilias e ensinamentos.
Em alguns momentos podemos perceber que os escritos de Montfort são contraditórios, pois hora ele fala de vários meios para se alcançar a Eterna Sabedoria e outra ele fala da devoção a Maria como único meio. Montfort, assim como a Igreja de sua época até o concilio Vaticano II, tinha uma visão inferiorizada do corpo, como algo desprezível e pecaminoso. Montfort deixará claro isso em seus escritos. Acreditava em Maria como uma mulher elevada, preparada para a encarnação, por isso ele recomenda guardar a devoção a Maria, leva-la no coração, pois assim, ela nos atrairá Jesus, porque por nós mesmos não podemos alcança-lo. Mas para compreender Montfort e seus escritos, é preciso ter em mente o contexto da época e a evolução de seu pensamento. Montfort via com os olhos de sua época: com limitação, erros e acertos. O grande problema é retomar os seus escritos, sem um maior conhecimento para reforça praticas caducas e pouco expressivas em nossa fé. Os exageros têm sido variados: o uso de correntes, de cadeados, terço no pescoço como simples alegoria, além de escravos e servos de Maria. Se tudo isso, levasse a um maior compromisso social, seria fiel a doutrina de Montfort, um homem se entregava e se doía pela dor e miséria do povo. Mas o que se passa em nossos dias é uma grande alienação do mundo e da verdadeira missão da Igreja que é ser Sal e Luz no mundo.
As pessoas erram, dizendo que se consagram a Maria, mas o que propôs Montfort no livro do Amor a Eterna Sabedoria, foi a consagração de si mesmo a Jesus Cristo Sabedoria Encarnada, pelas mãos de Maria. Porque acreditava que a Maria lhe compete gerar-nos em Jesus e Jesus em nós, até a plenitude total. A formula da consagração está composta por de cinco partes que se complementam e propõem um caminho evangélico. A primeira nos introduz na contemplação da Sabedoria Eterna e Encarnada. A segunda nos introduz no caminho de pobreza evangélica. A terceira medita o caminho de Maria como a peregrina na fé que acolheu em seu ventre a Sabedoria Encarnada. A quarta parte é uma renovação das promessas batismais, com um vivo desejo de se inspirar na vida de Maria. A quinta e última parte, nos apresenta o caminho da vida e o auxílio da Virgem Maria.
Montfort, era um homem muito sensato e centralizado no mistério da Trindade. Elevar Maria como uma deusa, não corresponde a crença de Montfort. Ele mesmo afirma: “Maria é senhora da Sabedoria, não porque esteja ela acima da Divina Sabedoria, Verdadeiro Deus, ou que seja igual, seria uma blasfêmia pensar ou afirmar isso” (livro o amor da Eterna Sabedoria, p. 183). Ele mesmo adverte sobre as falsas devoções a Maria: “é preciso ter cuidado com as falsas com as devoções a Santíssima Virgem Maria, pois o demônio serve-se delas para enganar e levar a condenação muitas almas. Limitar-me-ei a afirmar que a verdadeira devoção a Santíssima Virgem será sempre: interior, sem hipocrisia e sem superstição; terna, sem indiferença e sem escrúpulos; perseverante, sem mudanças e sem infidelidades e santa, sem presunção nem exageros” (livro o amor da Eterna Sabedoria, p. 190).
Que Montfort nos ajude no caminho de fé e que nós cristãos o honremos, sendo fieis e atualizados nos ensinamentos que ele nos deixou: sem exageros e sem superstição, mas com uma fé livre, transparente e profunda.
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