sábado, 20 de outubro de 2018

É necessário fazer memória para não esquecer as raízes



      A cantora argentina, Mercedes Sosa, canta em sua bela música a seguinte ação de Graças: obrigado a vida por tudo que me deu, me deu dois olhos que quando abro distinguo perfeitamente o preto do branco... me deu o som do alfabeto e com ele as palavras que eu penso e declaro... Obrigada à Vida por tudo que me deu, deu marcha aos meus pés cansados... o coração... o riso e o pranto... 

      Para aqueles que desejam ouvir a canção de Mercedes Sosa



     Desta forma poética, Mercedes Sosa eleva a Deus sua ação de graças pelas coisas elementares da vida, mas sobretudo o sentido recebido sobre ela. Pode parecer estranho, mas esta canção veio como um sopro do Espírito ao iniciar esta reflexão, pois também me sinto agradecida a Deus pelos seus cuidados e mimos. No entanto, algo da canção de Mercedes ou só me chamam bastante atenção, quando ela se refere aos olhos e o coração, pois Deus nos deu dois olhos para distinguir as coisas e também um coração, duas coisas complementares que ao mesmo tempo percebo estarem baixa em nós brasileiros atualmente. Enfraquecemos na capacidade de discernimento e sensibilidade da percepção do outro. 

  As recentes disputas políticas temos deixado cegos e irracionais e violentos. Confesso estar preocupada com o presente e o futuro do meu país, mas também com a vida dos meus amigos, familiares e da população de um modo geral, especialmente a classe mais excluída. Nosso país está sofrendo o câncer da desesperança e da perda de luz da razão. O mais admirável é ver cristãos de todas as tradições defendendo valores contrários aos do Evangelho, relativizando o nome de Deus em detrimento de interesses egoístas. Infelizmente as pessoas estão se atacando para defender partido A ou B. Quando a questão envolve religião fica ainda pior. Faço presente a frase do Pe. Manfredo Araújo de Oliveira: nenhuma religião séria pode aprovar um projeto que desconheço e que não leva a sério o eixo fundamental da dignidade do ser humano. Somos criados à imagem e semelhança de Deus. Cabe a nós cristãos, a tarefa fundamental de testemunhar em todos os níveis, especialmente da organização social, os critérios que para Jesus são fundamentais para a construção do seu Reino: a dignidade humana e seus direitos. Lembre-se, nosso voto é livre, no entanto, exige de nós o mínimo de sensatez e responsabilidade. 

    Estamos celebrando o 29º domingo do tempo comum, comemorando o dia mundial das missões, lembrando sobretudo o caráter missionário da Igreja, que nascer a partir dos gestos e palavras de Jesus e de sua entrega no lenho da cruz. Celebramos também nacional o dia da juventude, refletindo sobre sua realidade, lutas, sonhos e desafios. 

     A 1º leitura do livro do profeta Isaías 53,10-11, temos o quanto cântico do servo sofredor, que reflete a situação do próprio Israel em meio a perseguições e sofrimento, mas que sobretudo, busca ser fiel a Deus. Esta passagem foi mais tarde, relida pelas primeiras comunidades, identificando a Jesus como o servo sofredor, que carrega sobre si os pecados da humanidade. Gesto realizado por amor e consequências de uma religião e um governo corrupto, que torturou e matou a Jesus, por revelar as verdades do Reino e denunciar os abusos cometidos em nome de Deus. 

     A 2º leitura da carta aos Hebreus 4, 14-16, nos recorda que Jesus é o sumo sacerdote, que parte das realidades humanas e se caracteriza pela misericórdia. 

   No evangelho de Marcos 10, 35-45, percebemos uma dissonância entre o que Jesus ensina e o desejo de seus seguidores. Nesta narrativa temos dois momentos: o dialogo de Jesus com Tiago e João e o diálogo com os demais discípulos. Na primeira cena, Tiago e João demonstram ainda não entender a mensagem de Jesus e seus gestos. Continuam alimentando a antiga concepção de um messias glorioso, que viria com poder e majestade. Eles assim como nós, eram cabeçudos, pois Jesus falava a todo instante de renuncia, desempenhava sua missão entre os mias pobres e marginalizados. Desgraçadamente muitos cristãos permanecem cegos, atribuindo a Jesus algo que ele nunca foi e até repudiaria. Mas quantas vezes alimentamos uma fé cheia de caprichos, ambições, excluindo a uns e salvando a outros?

    O pedido dos dois revela uma briga que todos nós travamos interiormente: a briga entre o homem velho e o homem novo que nos habita. Irá sobressai aquele que mais alimentarmos. As vezes preferimos o caminho da fama, da gloria, sem querer passar pelos desafios e podas da vida, pois este caminho nos dá comodidade e segurança“. Jesus, pelo contrário, lhes propôs um caminho inverso: “quem quiser ser o primeiro seja o servidor de todos ”. Ele mesmo entrega sua vida como máxima, de amor, deixando um exemplo aos seus. Por isso, alerta para que não sejam como os chefes das nações, que oprimem e tiranizam, pois, seu legado é o do amor.

     Como cristãos, se faz necessário um constantemente regresso as fontes. para não perder nossas raízes e origens. Desejo a todos uma feliz semana, promotora do bem comum e da justiça e baseada na equidade e não na justiça cega. 

  O professor Leandro Karnal dá um banho da essência do cristianismo. Quem tiver coragem assista.


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