sábado, 24 de novembro de 2018

Resgatando o que realmente importa



Com esta a solenidade de Cristo Rei, concluímos o ano litúrgico de 2018. Neste ano celebramos timidamente o ano do laicato, lembrando o papel fundamental dos leigos na Igreja. 

A liturgia deste dia, é um tanto paradoxal, pois a maioria dos cristãos creem em Jesus todo poderoso, cheio de pompas e honrarias, enquanto que o evangelho correspondente a festa, revela um Deus rebaixado de sua condição divina, um Deus que opta pela via da humildade, do despojamento. A este Deus ninguém quer seguir e servir, pois é o Deus que vive em seu próprio ser o flagelo humano do abandono, da dor e da injustiça. 

Deus não deseja ser o soberano das massas, mas íntimo dos corações que a ele se abrem. Parece contraditório falar deste Deus, enquanto movimentos contrários parecem ser mais fortes, defendendo um Deus que mais lhes convém. É preciso sempre recordar e contextualizar a história da nossa Igreja, que oficialmente a partir de 380, passou a ser a religião oficial do Império Romano, que antes a perseguiu. A partir daí, houve a aliança entre o poder religioso com o poder político e, aí surge a questão: como testemunhar um Deus que diverge a essa aliança? Como um Deus que morreu miserável na cruz, como um desgraçado, maldito, poderia justificar sistemas opressores?! Após Constantino, a Igreja foi transformando a compreensão de si mesma e da imagem de Deus. Assim como os bispos e presbíteros, Deus também foi revestido de púrpura e insígnias imperiais. Desde então, fomos catequizados a imagem de um Deus todo poderoso, onipotente... Esta imagem em muito favoreceu o poder e a nobreza, mas o afastou da vida cotidiana dos cristãos. 

Não se esqueçam que o vermelho que cobre nossos altares, é a recordação do sangue derramado de um Deus que se fez carne e habitou entre nós. Os símbolos litúrgicos têm muito valor e nos introduzem na mística do mistério celebrado. Em lugar de cor branca, a liturgia deste final de semana, deveria utilizar a vermelha, pois Jesus nos demonstrou sua realiza através da sua entrega que culminou na cruz. 

Meus queridos amigos e leitores, desde o princípio, nossa fé foi contra corrente, por isso, vos exorto: voltem verdadeiramente ao Senhor, deixem Jesus vos falar, iluminar suas vidas. Não se deixem enganar, pois existem muitas coisas querendo nos tirar do caminho do discipulado. Mesmo na Igreja, temos correntes que atentam contra a nossa fé, seja ela fundamentalista, relativista ou progressista. A verdadeira doutrina sempre nos conduzirá ao evangelho e a práxis cristã a partir dos atos de Jesus. O contrário disso, é um farisaísmo hipócrita, que utiliza da religião para esconder seus verdadeiros interesses. 

Deem mais espaço a Ruah Iahweh. Aquela força criadora que permitiu nossa existência, aquela força que permeou a história da salvação, fazendo possível a encarnação, a própria vida e missão de Jesus e sua ressurreição. Aquele mesmo Espírito que tirou a comunidade de Jerusalém do medo e fechamento que se encontrava. Muitas vezes nossos cultos e liturgias estão vazios desta presença, muitos fiéis vão por tradição ou obrigação, seja aos domingos ou dias santos instituídos pela Igreja. Os presbíteros estão em sua maioria esvaziados de teologia, oferecendo em suas homilias qualquer coisa, celebrando missa apressadamente, sem tempo de acolher e de estar com o povo, seja no dia a dia da paroquia ou no sacramento da reconciliação. Se esquecendo que o povo tem sede de Deus e acabam bebendo de águas equivocadas, superficiais, que não saciam sua sede. Como Deus reinará sim? Qualquer deus não é Deus! Os primeiros cristãos diante da perseguição e morte não deixaram de crer, pois haviam sido tocados por Deus e, assim se assemelha experiência dos cristãos em áreas de riscos e conflitos políticos, como no caso da Igreja na China. Por que não desistiram? Porque encontraram o que realmente importa. E nós, quanto mais longe de Deus estamos, vamos nos enchendo de adornos para esconder o vazio que ameaça.  

Na primeira (Dn 7, 13-14) e segunda (Ap 1, 5-8) leitura, temos dois textos que pertencem ao gênero da apocalíptica. Literatura de resistência que busca animar o povo perseguido. Ambos utilizam uma linguagem simbólica, pois se encontram em tempos de ditadura e não podem falar abertamente, mas por meio de símbolos e mitos, buscam testemunhar a presença de um Deus que não os abandona, seja pela opressão grega (Daniel) ou Romana (Apocalipse). 

O Salmo 92/93, assim como os demais salmos pertencem a séculos antes de Cristo, mas que são relidos a partir da ótica cristã. O salmo de hoje canta: Deus é Rei e se vestiu de majestade. Se nosso rei Jesus, qual é a sua vestidura que deu origem a nossa fé? Volto ao início desta reflexão. Deus encarnado em Jesus, se despojou de sua condição e revestir-se do manto da humildade e, mesmo aí, foi reconhecido como Deus, a exemplo do relato do soldado romano diante da cruz e do bom ladrão. 

A majestade do Deus cristão é inversa, isso nos mostra o evangelho de João 18, 33-37, já comentado acima. Para concluir, destaco a figura de Pilatos, que diante da verdadeira luz que é Jesus, não foi capaz de enxerga-lo e ouvir a sua voz, pois seu coração estava centrado em si mesmo e no poder. Escutamos a voz de Jesus ou nos entretemos com outras vozes? 

Como Igreja iniciaremos uma nova etapa e experiência de um novo nascimento de Cristo e em Cristo. O advento nos vem como um tempo de discernimento para celebrar a chegada do Deus luz, que só pode ser visto pelos que são videntes na fé. 

Abraços a todos e um excelente final de semana!


sábado, 10 de novembro de 2018


Inicio esta reflexão com muito encanto e embebida do Espírito evangélico, pois graças ao meu TCC, estou tendo um minucioso contato com diversas passagens bíblicas e tendo acesso a comentários exegéticos maravilhosos sobre o tema, que são de uma enorme profundidade, lançando-me cada vez cada vez mais naquilo que é o cerne da vida cristã. 

Quanto mais me aproximo das Sagradas Escrituras, mais me apaixono por Deus e seu projeto vivido e anunciado por Jesus. É interessante notar que quanto mais nele mergulho, mais sentido e encanto existencial encontro. Espero que todos vocês possam igualmente ter este encontro com Deus na pessoa de seu Filho. 

Confesso que este encontro me possibilitou vencer barreiras, feridas e medos. Vocês não fazem idéia de como eu era medrosa, insegura, rigorista e boboca (rsrs). Quem me conhece poderá confirmar o que estou dizendo. São João em uma de suas cartas afirma: que onde há temor não há amor, mas onde há amor, não existe o temor. Creio que São João está coberto de razão! Somente o amor verdadeiro pode nos curar e livrar de tais barreiras. Por isso, lhes digo de todo coração: não sejam covardes diante da vida e da busca deste Deus e do conhecimento de si mesmo. Meditem sobre a frase de Agostinho: "Eu me conheça a mim mesmo, e vos conheça Senhor!" Sem autoconhecimento não existe o verdadeiro encontro com Deus. 

Que minha simples reflexão não seja mais uma mensagem entre tantas recebidas, mas que os ajude a colocar-se diante de Deus com sua pequenez e grandeza, sabendo-se muito amado por Ele. Graças a uma inquietante busca de Deus entre erros e acertos, hoje sou uma mulher inteira, feliz, capaz de contemplar a beleza e os detalhes da vida, sabendo sem medo reconhecer que existem desafios, mas sobre tudo, que sou responsável pelas minhas decisões e escolhas. Desculpe-me se falo muito sobre mim e da experiência de Deus, mas quero ser portadora da esperança e, mesmo em tempos de dificuldades, quero anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo, pois já passei muitas coisas que quase me fizeram desistir da vida e de mim mesma, mas graças ao Bom Deus, tive pessoas que souberam me acompanhar no tempo certo. Hoje mais que tudo, desejo a vida e ajudar a outros a não desanimar, mas a descobrir o belo de nossa existência. Sinceramente acredito em Deus me permitiu passar por certas coisas para que eu pudesse ajudar a outros e assim seguirei. Quero ser luz de Cristo, psíquico e espiritualmente. 

Na 1° leitura: 1 Reis 17, 10-16, vemos o continuo cuidado de Deus para com quem se abre a Ele. A pobre viúva foi capaz de oferecer tudo o que tinha a um peregrino desconhecido, mesmo correndo o risco de perecer com seu filho. Assim como a abundância de coração e hospitalidade da viúva, Deus se mostrou generoso e cumpridor de suas promessas: "a vasilha de farinha não acabará e a jarra de azeite não diminuirá até o dia em que o Senhor enviar chuva sobre a face da terra". 

O Salmo 145/146, parece ecoar a voz da pobre viúva de Sarepta, que se viu diante da fome e da miséria, mas também diante da Graça de Deus: "bendize ó minha alma ao Senhor..." Unamos nossas vozes a do salmista e cantemos a fidelidade, a justiça de Deus e seus cuidados, que atende a cada um conforme suas necessidades. 

A 2° leitura da carta aos Hebreus 9, 24-28, nos lembra que Jesus entregou sua vida para a salvação de todos. Peçamos a Ele que nos livre do pecado da avareza, da luxúria, da indiferença e da soberba, para saber partilhar nossos dons com os menos favorecidos e reconhecer que tudo nos vem de Deus. 

O evangelho de Marcos 12, 38-44, nos coloca diante de Jesus que transmite os seus ensinamentos as multidões. Ele como verdadeiro mestre, alerta o povo sobre os falsos mestres que utilizam da religião em benefício próprio. Infelizmente em nossas igrejas estão cheias de cristãos assim, sejam eles da hierarquia ou não, homens e mulheres que abusam da ingenuidade e do medo de muitos. É preciso voltar ao Jesus do Evangelho, que chegou ao coração de multidões e não um Jesus moralista, vingador e monarca. Estas são visões posteriores, especialmente na virada constantiniana e que se consolidou na idade média. Essas imagens reforçavam a aliança da Igreja com a monarquia e o poder, transformando violentamente a compreensão da Igreja sobre si mesma e dos cristãos. Não se esqueçam que a Igreja nasceu a margem do Judaísmo e do império romano, como protesto a todo o sistema opressivo existente. Nascemos como uma Igreja duramente perseguida por Roma, até que se casou com ela (depois já conhecemos a historia). 

O segundo momento do evangelho de hoje, é uma “análise” de Jesus diante do templo. Ele observava como as pessoas depositavam generosamente suas doações no cofre do templo. Dentre as várias pessoas que depositavam, ele destacou uma simples mulher, viúva que depositou duas simples moedas (certamente tudo aquilo que tinha para viver). Em nossas comunidades existem muitas mulheres como esta, que doam generosamente o pouco que possuem. Além do mais, prestam seu serviço à comunidade, com a mesma dignidade que os sacerdotes celebram a Eucaristia. Assim como aquela pobre viúva que depositou tudo que tinha, essas grandes mulheres em nossas comunidades, passam desapercebidas diante da multidão dos fiéis. Mas Jesus é aquele que sabe contemplar minuciosamente os detalhes que realmente importam e, daí tirava os seus ensinamentos. Onde estão postos nossos olhos? Com que intenção eu faço o que faço? Peçamos ao Senhor Deus da vida que perscrute o nosso coração, nos ajude a ser pessoas mais abertas e mais contemplativos para saber apreciar o que realmente importa nessa vida. Que sejamos menos autossuficientes para nos abrir ao mistério de Deus, como a viúva de Sarepta e nos ajude a reconhecer que todo dom vem de Deus e que não podemos apropriar-nos deles egoisticamente. 

Uma excelente semana, iluminada 
pela luz do Deus verdadeiro!

1º Domingo da quaresma 2020