sábado, 26 de janeiro de 2019

O ungido de Deus


"O espírito do senhor está sobre mim!" Neste 3° domingo do tempo comum, iniciamos uma caminhada com o Evangelho de Lucas propósito para 2019. O evangelho da comunidade lucana é conhecido como o Evangelho da misericórdia, com passagens inesquecíveis como: a pecadora perdoada; a conversão de Zaqueu; o pai bondoso; o bom samaritano; o bom ladrão e outras belas tantas que nos dão a conhecer a face de um Deus amor, sempre disposto a acolher, ouvir e perdoar.

Na 1° leitura de Neemias 8, 2-4a.5-6.8, nos insere no contexto do pós exílio, onde a comunidade judaica luta para refazer suas forças e identidade. Esdras e Neemias foram os grandes responsáveis da reestruturação política e religiosa do Judaísmo oficial. Após terem sofrido tantas perdas e ameaças, encontram sua força no Senhor Deus. Infelizmente na tentativa de resguardar a própria identidade, o judaísmo acabou se fechando em si mesmo e sendo duro diante de algumas realidades, levando aos extremos a lei de Moisés.

O Salmo 19b/18b, recorda que a Palavra do Senhor são espírito e vida, que é um conforto para alma e alegria ao coração. O salmo nos ajuda a compreender que o que provém de Deus gera vida, força e paz interior. Não peso e rigorismo, e muito menos acepção e exclusão. 

Na 2° leitura 1 Coríntios 12, 12-30, Paulo nos recorda que somos batizados pelo mesmo Espírito, e que a diversidade de dons que possuímos, é para compor o corpo de Cristo e realizar a sua missão no mundo.

O Evangelho de Lucas 1, 1-4.4,14-21, traz como tema central o programa messiânico de Jesus. Nos encontramos no interior da Galileia, na pequena aldeia de Nazaré, em um dia de sábado (consagrado ao Senhor), onde toda a comunidade se reunia em torno da Palavra de Deus. 

Jesus tomou iniciativa de ler as Escrituras, uma função que podia ser realizada por qualquer judeu do sexo masculino acima de 12 anos. Lhe entregaram o livro do profeta Isaías, ao ler a passagem Jesus se revelou como cumpridor daquelas promessas. Na passagem de Isaías 61, Jesus reconheceu um projeto de vida a seguir. Jesus se reconheceu como p ungido do Pai, enviado para anunciar a Boa Nova do Reino aos pobres, para proclamar a libertação aos cativos, curar os cegos, oferecer a liberdade aos oprimidos e proclamar o ano da Graça do Senhor. 

Toda a práxis de Jesus foi direcionada a estes quatro grupos: aos pobres como privilegiados do reino, por se encontrarem entre aqueles que mais sofrem no mundo. Para eles foi presença de amor e esperança, lembrando-os que são portadores de uma dignidade inviolável, independente da pobreza e da escassez de vida. Jesus também se sentiu enviado para aqueles que eram cativos e oprimidos. Cativos da exploração, de estruturas geradoras de morte e opressão. Também se sentiu enviado para os cegos biológicos e sobretudo para os cegos do egoísmo, que são incapazes de enxergar a realidade como ela é, e de descobrir a vontade de Deus. E se sentiu enviado para anunciar uma vida conforme os planos de Deus, onde não existissem senhores e escravos, pobres e ricos, oprimidos e opressores, mas uma sociedade marcada pela fraternidade e pela igualdade de direitos, onde todos tenham o básico para viver com dignidade.

Este projeto devem ter bem claro os seguidores de Jesus, pois foi onde ele derramou sua vida e se deixou guiar sem reservas. Qual é o projeto que norteia nossa vida? Como bem sabemos a vida é um dom, mas também uma missão de realização, crescimento e descobrimento.

Que nos abramos para que o Espírito do Senhor também esteja sobre nós, nos oriente, norteie e fortaleza nossa caminhada de fé e vida. Ser ungido é ser luz na existência do outro.

Um lindo final de semana! 
Com carinho July Lima

sábado, 19 de janeiro de 2019

A festa da vida


"Enchei as talhas de água!" Neste 2º domingo do tempo comum, nos encontramos na querida Bodas de Caná, em uma cidade do interior da Galileia, que ficou conhecida por um dos grandes sinais realizados por Jesus: a água convertida em vinho (Jo 2,1-11). Nesta narração do evangelista João, se encontram muitos detalhes e simbolismo. A passagem de começa com "no terceiro dia..." O terceiro dia representava um momento último da manifestação de Deus, mas também tem ressonância na ressurreição de Jesus. O casamento era uma das festas onde se encontravam as famílias e os amigos. A família de Jesus também se encontra, tanto a família sanguínea representada pela mãe, quanto a família que se forma com o anúncio do Reino de Deus, representada pelos discípulos. 

O detalhe observado por Maria indica que ela era muito próxima a família dos noivos e talvez ajudasse no serviço, pois lembrem-se que era uma festa dispendiosa que durava 7 dias. Seria um escândalo se o vinho acabasse, a festa estaria terminada. 

A presença de Maria mais do que advogada dos aflitos, representa a verdadeira discípula que permanece com Jesus do início ao fim. Também representa a comunidade cristã que se coloca a serviço daqueles que necessitam e oferece o vinho novo que é Jesus. Muitos questionam o porque Jesus a chama de mulher e não de mãe. Todo o evangelho é escrito na dinâmica do discipulado, onde não existem privilégios de uns sobre os outros, e nele Maria também se torna discípula. Ademais, na cultura judaica, a família exercia total controle sobre os jovens e o pai sobre todos. Tudo já estava pré-determinado, inclusive os matrimônios para levar adiante o nome da família. No entanto, Jesus para realizar a sua missão rompe com essa estrutura familiar patriarcal, optando por um caminho completamente diferente. Ao romper com os laços familiares ele deixava de ser filho a exemplo da parábola do pai misericordioso de Lucas 15.

Muitas vezes olhamos com olhos inocentes sobre a vida de Jesus, achando que tudo foi fácil porque ele era filho de Deus, mas ele assim como nós, nasceu em um contexto bastante dominador, que não deixava margem para muita coisa. Jesus se o estudamos um pouco mais a fundo em seu contexto histórico, se revela ainda mais apaixonante. Jesus foi um rebelde pela causa de Deus e pela causa humana. Dentro do Judaísmo relativizou às instituições que não geravam mais vida, o que ocasionou muito conflito com as autoridades judaicas. 

As seis talhas de pedras se destinavam para um dos ritos de purificação, mas que se encontravam vazias de sentido, no entanto, Jesus a partir delas demonstra a abundância de Deus sem limites. Se revela o vinho da vida, mas ao mesmo tempo, o noivo que desposa a humanidade com máximas de amor até a cruz. 

Através do mistério da vida celebramos a cada dia as "bodas" deste amor de Deus para conosco. Aproveite que estamos no início de um novo, permita que Deus renove seu vinho e recomponha o que está faltando. Faça a opção de uma fé renovada, sem mesquinharias ou superficialidade. Muitos criticam os cristãos pela incapacidade de fecundar a vida com a Boa Nova de Jesus. Ele não pode ser um fenômeno ocorrido na história. Ele deseja ser o vinho bom no seio da humanidade, o que não significa que devemos impor a nossa fé, mas testemunhá-la. 

Que talha da tua vida hoje está vazia? 
O que tem armazenado dentro da tua talha: água fresca e o vinho da alegria ou vinagre, azedume, água barrosa que não gera vida ou sacia a sede? 

O importante não é se culpar, mas a decisão e a determinação de onde quer chegar. 

Abraço e desejo de uma feliz semana
July Lima

sábado, 12 de janeiro de 2019

Mergulho nos mistérios de Deus


Neste final de semana recordamos o batismo de Jesus realizado no rio Jordão por João, mas também, o batismo do Espírito de Deus que reafirmou e conduziu à sua missão. A partir deste evento, Jesus não foi mais o mesmo, deixou de ser um rosto anônimo na Galileia e passou a ser a presença do próprio Deus no meio do povo, anunciando o reino de seu querido Pai, até consumir a sua própria vida. 

As leituras nos ajudam a reconhecer em Jesus nosso Senhor, a quem por livre e espontânea vontade, aderimos através do compromisso do batismo e da pertença a uma comunidade. A questão se torna um pouco complicada quanto ao batismo de crianças, que não fizeram a opção e tampouco são orientadas para a vivencia cristã. 

A 1ª leitura de Isaías 40, 1-5;9-11, se encontra no contexto do fim do exílio babilônico, quando o rei Ciro (Persa), começou a ter suas primeiras vitórias sobre o império babilônico. O autor do dêutero Isaías, escreveu uma mensagem de esperança para o seu povo. Como é possível constatar no v. 2, Israel compreendeu o exílio como um castigo da parte de Deus a causa de sua infidelidade (sua conta está paga, da mão do Senhor já recebeu por suas faltas o castigo dobrado), e com o fim do exílio estava pago.
A mensagem dirigida ao povo é de ânimo, de esperança e encorajamento, pois novamente veriam a glória de Deus se manifestar. A fé de Israel se reavivou, inclusive consideraram Ciro como um enviado do Senhor, que os libertou das mãos dos inimigos. Mas o cristianismo ao relê as Escrituras judaicas, compreende Jesus Cristo como este Senhor libertador, no entanto, sua manifestação se deu de um modo inaudito, não correspondendo as altas expectativas messiânicas dos judeus. Mas nos gestos e palavras de Jesus, podemos encontrar um poder sem igual: o poder do amor, que atraiu sobre ele inúmeros seguidores que reconheceram nele a presença do mesmo Deus. 

O Salmo 104/103, nos apresenta um ser regozijado em Deus. 
A segunda leitura da carta de Tito 2, 11-14; 3, 4-7, nos recorda que a graça de Deus manifestada em Jesus, se derramou sobre toda a humanidade, iluminando-nos contra as obras das trevas: impiedade, injustiça, mentira, soberba, etc. Lembra que o gesto oblativo de amor realizado em Cristo, foi gratuito e não por nossos méritos. Para nos fortalecer, nos recobriu de seu Espírito. 

O Evangelho de Lucas 3, 15-16.21-22, traz o testemunho de João Batista sobre Jesus, dando mostras de máxima humildade: "eu não sou digno desatar a correia das suas sandálias" (trabalho realizado pelas mulheres e pelos escravos gentios). Reconhece em Jesus o único capaz de nos transmitir a Ruah de Iahweh. A voz vinda do céu teria motivado e impulsionado a missão de Jesus e toda sua existência. Uma vez mais, ele se soube amado e realizando a vontade do Pai: "tu és meu filho amado." Nosso batismo é um abrir-se para Deus e viver na dinâmica de ser um filho amado, amada de Deus. Batismo é um mergulho nas águas profundas do mistério de Deus, é um compromisso sem volta, é sinônimo de pertença a Deus e a uma comunidade. 

Grande abraço e ótimo final de semana!
Com carinho July Lima

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Meu desejo pra vocês em 2019


Saudações meus queridos amigos e amigas! 
Um tempinho que não escrevo, creio que faltava inspiração suficiente, pois geralmente escrevo porque as palavras já estão em meu coração e saltam de dentro de mim. 
Nesses últimos dias vivemos muitas coisas: festas natalinas, comemorações de todo tipo e do fim do ano. Tudo parece ter passado em um piscar de olhos. Mas nesta época uma certa magia nos envolve, renovando a esperança, os sonhos, nos fazendo sentir mais capazes para viver os 365 dias que despontam diante de nós. Isso é maravilhoso! 
Que não percamos este ânimo, a garra e esperança. Para que isso não ocorra, é necessário cuidar e zelar sobre o dom de nossa vida, dia a dia, pois somos como as simpáticas e frágeis orquídeas, que exigem constante cuidado, temperatura adequada, água a seu tempo e sol sob vigilância. Também nós precisamos destes cuidados, cada qual a seu modo, segundo as características pessoais, temperamentos, projetos, vida e sonhos. 
A natureza tem muito a nos ensinar se paramos e a contemplamos. Assim fazia Jesus, contemplava a obra da criação, as meditava e falava aos corações. Considero de fundamental importância que cada um saiba o que lhe toca no mais intimo, mas também o quê lhe suga a energia, tempo, esperança e sonhos. 
Quando cuidamos das flores e das plantas, de um modo geral tiramos as pedras, os insetos peçonhentos e as ervas daninhas que tiram sua vitalidade. 
E por que permitimos que pessoas invejosas, mentirosas, negativas continuem a ter influência sobre nós? 
Por que somos omissos, covardes para romper com coisas e situações que nos fazem mal e nos sufocam?
Minha gente, aproveite que o ano é novo e nos renovemos também, optando pelo que nos faz mais gente, mais bonitos e saudáveis de corpo e alma. 
É hora de proporcionar uma limpeza no jardim interior, adubando com terra nova e novos ingredientes dosando cuidadosamente a "água" que nos é fonte de vida e faz de nós quem somos (cada um saberá qual é a sua fonte vital, o que lhe motiva, viver, luta e etc). 
Neste ano de 2019 desejo flores no teu jardim, alegria, beleza, coragem, valentia, auto confiança para suportar a dor dos espinhos e os ventos contrários que vem e que vão. 
Também um novo amor no coração, um céu azul, inúmeros sorrisos e a certeza de uma vida com sentido! 
Não desperdice tua existência, faça-a valer a pena, use com maestria teus dons e teu livre arbítrio, seja ousado, otimista e humilde para reconhecer erros, voltar atrás e pedir perdão se for necessário. 
Seja um homem e uma mulher de fé; cultive uma íntima amizade com Deus, fale com ele de teus sonhos e deixe-se iluminar sempre. E lembre-se, nem tanta a razão, nem tanto instinto ou coração, mas equilíbrio. 
Viva a cada dia como se fosse o último: com sentido, gratidão e alegria. Ame de verdade, abrace e descubra a cada instante a força de um amor. Faça a diferença no teu meio, sem pretensões de ser o melhor, mas de dar o teu melhor.

Com carinho
 July Lima

1º Domingo da quaresma 2020