1º Domingo da Quaresma
O grande chamado da liturgia deste final de semana é a conversão, pois o Reino de Deus está próximo. O Reino de Deus se entende como o governo de Deus sobre todas as coisas, tendo como princípios a justiça, a equidade e a solidariedade com toda a humanidade e com toda a criação. Creio que estamos longe deste Reino! A cada dia os jornais estampam os horrores da violência, onde a vida perde seu valor. Podemos constatar o desequilíbrio humano onde as pessoas dão mais valor as coisas materiais do que a família, a um bom relacionamento, ao dialogo... desequilíbrio tal que desfigura o ser humano, que por sua vez desfigura a criação. Podemos claramente ver os males contra a criação: os rios e nascentes que se secam, os mares e as cidades poluídas, o horrendo sacrifício de animais para alimentar o canibalismo desenfreado humano, as tempestades, os furacões e os tornados que matam a milhões de pessoas, a corrupção deslavada que tira o alimento da boca de inocentes, enquanto o trabalhador é explorado e esmagado. O Reino de Deus e seus valores tem pressa, urgência.
Neste domingo a Igreja faz abertura da Campanha da Fraternidade 2018, que traz reflexões e interpelações importantíssimas sobre a crescente violência que assola nosso país e devasta famílias. Há cristãos católicos que desprezam a CF, porque não são capazes de atualizar o Evangelho frente aos inúmeros clamores da humanidade. O Evangelho ganha seu pleno sentido quando ilumina a vida, do contrário seremos covardes que se escondem detrás da religião. A CNBB através da CF 2018, deseja lembrar ao mundo por meio de nós cristãos, que todos somos irmãos, que sofremos as mesmas realidades onde quer que estejamos, por isso precisamos unir forças contra qualquer tipo de violência.
Na 1º leitura de Gênesis 9, 8-10 temos algo belíssimo: a aliança que Deus faz com Noé, com toda a sua descendência e com todos os animais, aves do campo, peixes, os animais domésticos e selvagens, enfim, todos os animais (confira o v. 9 e 10). Passamos toda uma vida destruindo os animais e os tratando segundo nossos desprazeres, esquecendo que todos fazem parte da bela criação de Deus e que algum dia pedirá conta sobre os nossos atos frente a sua obra.
O salmo 24/25 mostra que a verdade e o amor são os caminhos do Senhor, enquanto que a mentira, a enganação, manipulação, a exploração física e psíquica são instrumentos do demônio e de covardes.
Na 2º leitura da 1º carta de Pedro 3, 18-22, destaco o v. 22: como já sabemos, o batismo é uma forma de adesão a Cristo e um sinal de pertença a sua comunidade, mas o apostolo acrescenta que o batismo é um pedido a Deus de consciência em virtude da ressurreição de Cristo. Temos esta consciência? Outro dia um dos grandes historiadores do Brasil afirmou que no século XVI a preocupação da Igreja era a evangelização dos povos indígenas, já no século XIX era a evangelização dos asiáticos e dos africanos, mas que hoje o grande desafio é cristianizar os cristãos, pois estão longe de viverem o que pregam. Isto diz muito sobre nós, pois queremos um Deus de mágica e não damos espaço ao Deus encarnado e despojado!
No Evangelho de Marcos 1, 12-15, temos duas grandes cenas: Jesus no deserto e Jesus pregando pela Galileia. Na primeira cena, temos Jesus no deserto, lugar de solidão, de purificação, de dureza, de encontro com Deus e consigo mesmo. O número 40, representava toda uma vida para o cidadão daquela época, ou seja, Jesus teria sido tentado toda a sua vida a abandona o projeto do Pai e para que seguisse caminhos mais fáceis. Satanás é a representação de tudo aquilo que nos desvia e se opõe ao projeto de Deus. Na segunda cena temos Jesus anunciando a chegada do Reino, ao mesmo tempo que revela seu programa de vida e o que o movia. Se completou o tempo é sinal de urgência da implantação do Reino, que vai acontecendo com a presença de Jesus, mas para aderi-lo é necessário conversão de mente e de coração, pois só assim crerão na Boa Nova de Jesus Cristo.
Como vemos, o Evangelho em nada mudará a nossa vida se não estamos dispostos a vive-lo. Crer é fácil, mas a fé precisa baixar para todo o corpo, para as nossas relações, pensamentos e palavras.
Uma feliz e abençoada semana!
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