Estamos no contexto de uma belíssima festa. A festa de pentecostes, conhecida pelos cristãos como a descida do Espírito Santo. No entanto, esta festa tem sua origem na cultura judaica, porém com outro contexto. A festa de pentecostes no judaísmo era a festa da colheita, ou savô, onde os judeus subiam a Jerusalém levando os seus dons, ou seja, os primeiros frutos daquilo que haviam colhido e ofereciam ao Senhor como suas primícias. Na festa de Pentecostes ressignificada pelos cristãos, é Deus quem oferece seus dons sem limites a todos.
As primeiras comunidades cristãs souberam muito bem acolher este Espírito que deu um novo vigor a sua fé e vivencia. Animadas pela força do ressuscitado, davam testemunho de amor e acolhida a todos sem distinção, abrindo-se cada vez mais a ação do Espirito Santo, Espírito que sempre esteve presente na história de Israel e chega ao seu cume em Pentecostes, revelando-se como ao mundo, como o mesmo Espírito de Jesus, presente junto aos seus.
A festa de Pentecostes é um evento Trinitário, onde as pessoas da Trindade agem em comunhão umas com as outras, mesmo que uma tenha relevância sobre as demais. Na dinâmica trinitária Deus Pai será sempre é a origem de toda a vida e de toda ação Trinitária, por isso não podemos celebrar pentecostes como algo isolado da Trindade, do contrário fugiremos ao seu princípio, que é congregar e atualizar em nós a vida divina que nos é transmitida.
Na narração da leitura de Pentecostes dos Atos dos Apóstolos, veremos fenômenos da natureza para expressar aquilo que é inexplicável, no entanto, a presença do Espírito Santo presente em uma realidade e em uma pessoa, se torna quase que palpável e bastante visível, pois quando o Espírito Santo se faz presente, ele é capaz de romper as barreiras do medo, tal como podemos conferir no Evangelho ou nos Atos dos Apóstolos, onde do medo, a comunidade da um salto audacioso no anuncio do Evangelho de Jesus Cristo.
O medo em nossa vida é como se fosse uma barreira diante de nós, que nos impede de ver além e até mesmo perceber com clareza a realidade que nos circunda. O Espírito de Deus, traz doçura, alegria leveza, certeza na fé, não como algo alienante que faz levitar, desmaiar, como muitas pessoas pensam. A pessoa que é verdadeiramente possuída pelo Espírito é plena deste Espírito, é alguém que promove a comunhão, concórdia, o dialogo e encarna em sua realidade o exemplo do mesmo Jesus Cristo. Isso podemos ver na vida de São Paulo, São Pedro, Santa Inês, Santa Cecília, São Francisco de Assis, São Luiz Maria de Monfort, Ir. Dulce, Madre Teresa, São João Bosco, Ir. Cleusa, Ir. Dorothy, Chico Mendes e tantas outras pessoas que vivem no silêncio do anonimato, mas realizando o bem e promovendo a vida. Temos muitos exemplos, entre eles, nosso querido Pedro Casaldáliga, Padre Giolvandi, Pe. Anderson, Pe. Amarildo, Dom Aloísio, Frei Léo e tantas pessoas que no âmbito religioso ou não, anunciam com a própria vida a beleza do Evangelho, por meio da doação de si mesmo e do testemunho vivo do amor incondicional de Deus por todos.
Atualmente mais do que nunca, existe um exacerbado destaque a pessoa do Espírito Santo, em coisas que muitas vezes foge a sua própria missão. Os movimentos pentecostais e neo pentecostais que reivindicaram a Igreja um novo frescor, em muitos casos, mais segregam, do que congregam. Como entender determinadas atitudes como manifestações de Deus?
Reparem as manifestações de Deus e de seu Espírito/Rush, ao longo da história: a Moisés ele se manifestou em sua vida cotidiana, por meio de uma sarça que ardia misteriosamente. A Elias ele se manifestou na brisa suave, quando este encontrou paz em seu coração, depois de tantos conflitos e desafios. A Zacarias, pai de João Batista, Deus também se manifestou de modo íntimo e em seu cotidiano.
Se alguém para, ler e meditar a vida de Madre Teresa, e de Ir. Dulce, verá que elas tiveram um encontro no mais profundo de seus corações, e também foram confrontadas com a realidade de dor e de miséria de tantos irmãos. Como vemos, Deus se manifesta na vida, encarnando nossa cotidianidade. Deus se revela no íntimo dos corações e não no meio da multidão. Se perde muito tempo gritando o nome de satanás, enquanto o amor misericordioso de Deus e abafado e posto em segundo plano.
Pentecostes inaugura o tempo do Espírito, do qual o livro dos Atos dos Apóstolos dá testemunho (Pablo Richard). Foi sob a ação do Espírito Santo que a Igreja se constituiu e dá continuamente vida aos ensinamentos de Jesus. Na leitura dos Atos dos Apóstolos 2, 1-11, vemos o relato propriamente dito de Pentecostes, sendo que no mesmo livro existem outros, tal como em Atos 10. A comunidade está reunida nos arredores de Jerusalém, primeiro lugar onde deveria dá testemunho, Lc 24, 47 e atos 1,8 (Pablo Richard).
Os que se reuniam eram em torno de 120 pessoas, número legal para constituir um conselho ou sinédrio que representasse Israel, porém o grupo de Jesus rompe com a lógica de um grupo fechado, formado unicamente por homens. As primeiras comunidades cristãs se constituem na diversidade de pessoas, acolhendo homens e mulheres, ricos e pobres, judeus e gentios.
O Espírito Santo é derramado sobre todos sem distinção, ele é derramado em função de todos os povos (Pablo Richard). Lucas enumera 12 povos e três regiões.
O evangelista insiste que os que estão presentes provem de todos os povos, (vv. 5, 6, 8, 9,10 e 11) compreendem, o discurso de Pedro, cada em sua própria língua nativa. Como vemos, a questão não se trata de glossolalia. Cada povo escuta o Evangelho em sua própria língua, em sua própria cultura. Pentecostes é hoje considerado por muitos, a festa cristã da inculturação do Evangelho.
Segundo o sacerdote e teólogo Pablo Richard, pentecoste teria recuperado a unidade perdida em Babel. Em pentecostes cada povo conserva sua língua e sua cultura, fazendo com que o Evangelho seja encarnado e se torne norte de vida para muitos povos.
O teólogo Josef Korzinger, em sua obra ao comentário dos Atos dos Apóstolos, acredita que o grande milagre de pentecostes foi o da audição, mediante o qual os ouvintes puderam entender em seus idiomas pátrios a mensagem de salvação. Esta é uma visão diferenciada que nos mostra que não basta anunciar o Evangelho, mas como anunciar para que a mensagem seja de salvação para o outro, pois na maioria das vezes o que ocorre é uma transmissão que nem sempre é bem compreendida, pois nem sempre o emissor e receptor estão em uma mesma frequência, fazendo com que haja uma distorção daquilo que é transmitido.
O Salmo 103 põe na boca da comunidade o clamor pelo Espírito do Senhor: enviai o vosso Espirito Senhor, e da terra toda a face renovai!
A bela leitura da 1° carta aos Coríntios, nos mostra que até mesmo o ato de fé de reconhecer Jesus como Senhor, é um impulso do Espírito Santo em nós. Paulo também nos mostra que na Igreja existe a diversidade de dons, carismas e ministérios, por isso, não devem existir divergências, pois todos os dons provém do mesmo Deus, e tem como função enriquecer a comunidade.
Olhando para a nossa realidade de Igreja, de família, de relação de amigos, de trabalho, o que impera: a acolhida ao novo, diferente, ou a manutenção de velhas estruturas (psíquicas e hierárquicas)?
Estando no tempo e espaço, somos sujeitos ao limite de nós mesmos e da própria física, mas nosso ser deve esta orientado para a verdade, para Deus. Viver guiados pelo Espírito é um desafio constante, mas é ele quem nos impulsiona para a vida, para o humano e divino, pois somos continuamente seres em construção.
Feliz Pentecostes! Feliz semana!
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