Neste final de semana, a liturgia vem nos lembrar a dinâmica do Reino de Deus, Reino que não se resume ao céu ou a uma realidade após a morte, mas algo concreto, que se constrói a partir da realidade em que estamos inseridos. Muitos não suportam esta concepção do Reino associada à vida, porque ela nos diz desacomoda e exige de nós uma ação concreta para que este Reino seja uma realidade. No entanto, a Palavra de Deus, deve nos interpelar, incomodar e cativar. Há cristãos que dizem amar a Deus, porém são incapazes de amar os crucificados da história. No lugar de amor e defesa da vida, dão um testemunho concreto contra o próprio Evangelho, revelando-se anti-cristo dentro fé cristã, munidos de discursos vazios e moralistas.
Minha gente, a vida e a proposta de Jesus são fascinantes, e não algo engessado, imóvel pelo peso das estruturas... leiam mais os Evangelhos, percebam que ele rompeu com tudo isso, começando pela sua religião materna. Hoje em seu nome ditamos palavras de ordem ao povo, dizendo o que pode ou não pode. Jesus andava com os marginalizados, com os últimos, com as mulheres, crianças, doentes de todos os tipos, o que representava um escândalo para o Judaísmo e sinal de desrespeito à lei. Jesus rompeu com todo rigor, ele se deu como Palavra de Deus para todos. Por que em seu nome excluímos? Marginalizamos?
Sua morte foi a radicalidade última desta entrega. Que palavras temos dado a sociedade? Dado a nós mesmos? A nossa família? Aos nossos colegas de trabalho?
O nome de Deus/Jesus se tornou moda na boca do povo, mas não uma realidade, uma consigna de vida. Fazer Deus realidade em nossa vida, não se resume no cumprimento de preceitos religiosos, mas na prática do amor, como tão bem nos narra São João em seus escritos.
Ao contrário do que muitos pensam, nem tudo que está na Sagradas Escrituras, são palavras de Deus, mas ressonâncias da experiência de Deus em diferentes épocas, feita por um povo. Foi na história de vida que Israel foi descobrindo a presença de Deus e selando com ele uma aliança de vida. Neste ponto, cabe ressaltar que existem diversas expressões e passagens bíblicas que contradizem a imagem do próprio Deus, imagens que chegaram até nós e que permanecem no inconsciente do povo. Ao mesmo tempo que compreendem que Deus é amor, também o concebem, como um Deus castigador, que salva a uns e condena a outros. Tais passagens e expressões, são resultados da compreensão de um povo, expressões que foram reunidas ao longo de vários séculos, passando por diferentes contextos e gerações. No entanto, o mais importante de tudo isso, é que em meio de inúmeros fatores puderam fazer uma verdadeira experiência de Deus e transmitir para nós sua fé.
Agora compete a nós, meditar esta Palavra, trazê-la para nossa vida e atualiza-la. Porém, vale recordar, que nossas palavras serão divinas, na medida em que elas forem inclusivas, pois a diversidade em nada fere a Deus, sendo que o mesmo Deus é uma realidade Trina, formada por diferentes pessoas que se relacionam a partir da sua alteridade (identidade).
O mesmo Jesus quando nos apresenta o Reino, utiliza diferentes linguagens e simbologias, pois o Reino é dinâmico e deve estar aberto para os homens e mulheres de todos os tempos, cada qual com sua diversidade, pois todos nós somos sementes de Deus (irrepetível), ele espera que demos folhagens e frutos, capaz de abrigar a vida (1° leitura Ez 17, 22-24). Não podemos ser árvores secas e infrutíferas, pois o sopro do Criador nos habita.
O Sl 91, traz a expressão de pessoas verdadeiramente felizes, que fizeram uma profunda experiência de Deus, que dilata pela vida, pelos poros... O salmista exclama: "como é bom agradecermos ao Senhor"! Esta frase é de uma beleza, me transmite leveza e liberdade sem igual. Que possamos expressar com ele: "meu Deus, o meu Rochedo", em uma fé límpida, sem temor, sem escrúpulos.
Paulo em sua 2° carta aos Cor 5, 6-10, se expressa em uma linguagem tipicamente judaica: prêmio, castigo, tribunal e etc, mesmo que o ponto de partida seja a pessoa de Jesus Cristo. O mais importante que Paulo destaca, é o nosso caminhar para Deus, caminho que não se dá as claras, mas em meio às dificuldades da vida.
Cristo será nosso farol agindo misteriosamente no seio da nossa vida, fazendo com que ela aconteça (Evang. de Mc 4, 26-34).
Existem muitas pessoas que perderam o sentido de vida, pois lhes faltam a seiva da vida e uma terra fecunda onde Deus possa brotar. Nenhuma planta sem raiz sobrevive, nenhum cristão com a fé superficial é capaz de fazer germinar a Vida Nova de Cristo Jesus.
Um bom final de semana para todos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário