Estamos celebrando o 17º domingo do tempo comum. Com a graça de Deus concluindo mais um mês e preparando para retomar às atividades do segundo semestre. No Evangelho de João 6, 1-15, vemos que novamente Jesus está rodeado pela multidão, porém em um contexto bastante diferente da semana passada. Nessa narrativa de João, nos encontramos no contexto de uma das grandes festas judaicas: a festa da páscoa, onde o povo faz memória da passagem da escravidão do Egito para a liberdade, porém a lei Judaica havia se tornando fria e massacrante para a maioria do povo, que por sua vez reconhecem Jesus a presença de Deus, o novo Moisés, no qual colocam todas as suas esperanças e expectativas messiânicas.
A passagem ocorre em uma região montanhosa do mar de Tiberíades ou mar da Galileia, onde Jesus havia se retirado com os seus discípulos.
É interessante notar que o povo segue a Jesus e deixa de subir para Jerusalém, aquilo que era obrigatório para todos os judeus uma vez por ano, especialmente na festa da páscoa. Isso já nos indica o conflito que seguirá com as autoridades, pois Jesus "estava atentando" contra a fé judaica e seus preceitos. No entanto, se contemplamos a Jesus, percebemos que o seu ministério estava totalmente focada em realizar a missão do Pai e resgatar aliança perdida entre Deus e a humanidade. Ele realiza uma missão completamente descentrada de si mesmo. Em suas relações deixa transparecer a paternidade de Iahweh e seu amor indiscriminado por todas as suas criaturas. Ele revela a "humanidade de Deus".
Vemos que na passagem de hoje, é ele quem percebe a necessidade da multidão e se preocupa por sua subsistência, e desejo que os seus tenham este mesmo cuidado.
Para o Papa Francisco, a principal mensagem de Jesus é a misericórdia, em uma profunda capacidade de sentir com outro, sensibilizar-se perante a sua miséria. Esta realidade podemos constatar em todas as narrativas do Evangelho, onde ele sempre é movido pela compaixão e pelo amor, pois vê diante de si pessoas e suas necessidades. Jamais julga ou condena, mas sempre busca uma brecha para realizar o Reino de Deus. Vemos que a partir de dois pães e três peixes ele faz possível a multiplicação dos pães: mistério do dom de Deus e dom da partilha entre irmãos. Jesus não vê a dificuldade como fez Felipe e faríamos a maioria de nós, mas vê a possibilidade partindo do pouco que se tem, desde que haja o desejo da partilha e abertura de coração.
Jesus oferece aquela multidão a liberdade de filhos de Deus, pois o gesto de sentar era algo para as pessoas livres. Jesus resgata não só a fé e a esperança daquelas pessoas, mas também a sua dignidade de ser humano, que vivia oprimida pelo sistema opressivo: político e religioso, tanto por parte do império romano, como das autoridades judaicas. Quais são as forças que hoje nos oprimem?
A nossa missão como cristãos herdeiros do legado de Jesus, é sempre em favor da vida, da dignidade humana, e seu cuidado. É preciso ser cristão com coração, com ternura, com compaixão, com zelo e com alegria. É preciso estar atento como Jesus para não nos deixar seduzir pelas oportunidades de poder e de cargos, que muitas vezes podem nos descentrar do essencial do Evangelho.
Diante de nós sempre existirá uma multidão faminta, cansada, precisando de alguém que os acolha os escute; que os demonstre carinho e compaixão. O grande diferencial será a nossa atitude, a nossa acolhida.
Assim diz Francisco: "Quanto mais experimentamos o Amor e a infinita misericórdia de Deus sobre nós, tanto mais somos capazes de estar perante muitos feridos que encontramos em nosso caminho, com olhar de acolhimento e misericórdia. Por isso, evitamos a atitude de quem julga e condena das alturas de sua segurança".
Como o país, estamos atravessando um momento bastante desafiador, onde a situação econômica levou muitas famílias ao desemprego e a situação de mendicância. Essas pessoas têm necessidades extremas do material, mas também extremas de um olhar, de um bom dia, de um sorriso, de pessoas que os veja e não os trate como "lixo", como paisagem urbana ou como se não existissem. Isso doe! Constantemente nos deparamos com esta realidade, mas será que eles se tornaram invisíveis aos nossos olhos? Para a maioria das pessoas é certo que sim, mas para um cristão que deseja ser fiel a mensagem de Jesus, não! É algo inadmissível, incoerente! Esta realidade deve nos provocar e nos questionar.
Por maiores avanços científicos e tecnológicos que existam, a humanidade sempre vai requerer no mais íntimo de si, o desejo de um Deus amor, que os acolha e os ame. Reparem, as pessoas estão famintas de amor, atenção e escuta. Quando encontramos uma pessoa, percebemos que ela quer logo nos contar toda a sua vida e problemas. Nas conversas em diferentes ambientes que frequento, percebo a dificuldade do diálogo, da escuta, geralmente de um fala sem que seja escutado, pois o outro também deseja “despejar” uma tonelada de assunto, resultando em um diálogo tropeçado, onde cada um fala de si, interrompe, mas ninguém se escuta.
Eu mesma tenho extrema dificuldade de escutar com paciência, sem querer dar conselhos ou argumentar. Estou inserida nesse ambiente, mas sei que preciso cuidar isso em mim, pois a minha fé me impele, e o desejo de ajudar as pessoas também. É preciso oferecer às pessoas uma "grama verde", um lugar aconchegante, onde elas possam ser acolhidas e experimentar o amor de Deus que passam pelas relações humanas.
A todos uma Feliz semana
e um bom retorno às suas atividades!
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