sábado, 18 de agosto de 2018

Assumida por Deus em sua glória



    Saudações carinhosas a todas as queridas famílias que nesta semana foi celebrada e refletida de modo muito especial pela nossa Igreja. Que sempre possam se sentir amadas e cuidadas por Deus. Que ele derrame sobre cada uma o Dom do amor, do respeito e do cuidado. Que o amor seja uma constante decisão, para que não haja em nossos lares o espinho da divisão e do desamor. 

    No 20º domingo do tempo comum, celebramos a festa da Assunção de Nossa Senhora, onde "Maria é assumida na glória divina" ( Ir. Afonso Murad, em seu livro: Maria toda de Deus é tão humana). 

    A liturgia como sempre nos traz uma grande riqueza inserindo-nos cada vez mais no mistério de Cristo. Celebrar a assunção de Maria é celebrar o mistério de Deus presente na vida humana. A centralidade deve permanecer em Jesus que realiza a obra do Pai, do contrário, não seremos fiéis a Deus. No entanto, há cristãos que creem em Maria a semelhança de uma idolatria, como uma deusa. Maria não é deusa ou semideusa, mas é alguém que se abriu plenamente ao projeto de Deus e foi capaz de enfrentar todas as adversidades para ser fiel a ele! 

    Cultuar a Maria como deusa não corresponde a sua figura na Igreja e na história da salvação. Ela é justamente destacada pela sua simplicidade e humildade. Como mãe de Deus não se enalteceu, mas assumiu o seu lugar de serva. Sua vida e virtudes devem servir de modelo para todos os cristãos e não objeto de idolatria como tem ocorrido. 

    Nossa reflexão será a partir da 1° leitura e do Evangelho. 


    A primeira leitura é tirada do livro do Apocalipse 11, 19; 12, 1-6, 10. Este livro para muitos é sinônimo de ameaça, castigo e fim do mundo, no entanto, o livro é encantador, portador de esperança e encorajamento aos cristãos perseguidos pelo império romano. Porém, a mensagem é transmitida por meio de uma linguagem simbólica (apocalíptica), onde os cristãos não podiam expressar livremente a sua fé. A linguagem simbólica era compreendida pelos iniciados na fé cristã e incompreendida pelas autoridades romanas. Algo semelhante ocorreu na ditadura do Brasil, onde políticos, poetas e artistas se manifestaram por meio de poemas, músicas e outros, para denunciar a violência e protestar contra um governo opressor 

    É interessante notar que a linguagem do livro do apocalipse sempre se dirige como algo que irá acontecer, porém refletia e denunciava tudo aquilo que os cristãos estavam sofrendo. 

    O apocalipse é um livro de resistência e esperança para animar as comunidades perseguidas. O trecho de hoje é relido a partir da Virgem Maria, ainda que o texto não se refira a ela. Analisemos um pouco o texto e contemplemos a finura do autor e a mensagem que ele deseja transmitir. 

    "Abriu-se então, o Templo de Deus que está no céu, e apareceu no Templo a arca da Aliança" (v. 19). "Com essa imagem o apocalipse mostra que mediante a profecia e a resistência das comunidades, acontece a nova aliança entre Deus e a humanidade. Ao dizer que a Arca reapareceu no céu, o apocalipse afirma ter chegado o tempo em que Deus se mostrou misericordioso e reuniu o seu povo. Relâmpagos, vozes, trovões, terremoto e tempestade de pedra são modos de dizer que Deus, de fato, se faz presente e reina mediante a profecia e a resistência das comunidades" (Pe. José Bortolini). 

" Apareceu no céu um grande sinal... (v. 1-2). 

“O autor afirma que a mulher é um sinal. Não se trata, portanto, de uma pessoa concreta, e sim de um sinal que indica uma realidade mais profunda que vai além do sinal” (Pe. José Bortolini). 

    "A mulher recorda Maria mãe de Jesus. Para o autor a mulher é símbolo das comunidades que num tempo de grande tribulação, mantém a profecia e a resistência, dando assim a luz o projeto de Deus na história". A mulher está vestida com o sol e adornada com a lua e as estrelas. Sol, lua, e estrelas tem como lugar natural o céu, que representa a morada de Deus para o apocalipse. Portanto, dizer que a mulher está assim vestida e adornada, é afirmar que Deus a envolve completamente e a protege fazendo com que ela seja de algum modo o esplendor de Deus. Em linguagem simbólica o autor está dizendo que Deus protege e envolve continuamente dia e noite as comunidades que profetizam e resistem” (Pe. José Bortolini). 

    “O parto é um esforço de dá continuamente a luz o projeto de Deus mediante a profecia e a resistência. É assim que o Apocalipse vê as comunidades perseguidas: no sofrimento e na fraqueza que estão gerando o projeto de vida que vem de Deus” (Pe. José Bortolini). 

    “Aparece o segundo sinal: um grande dragão... (v. 3-4a). O dragão é o oposto da profecia e da resistência. É a grande mentira que gera e conserva a sociedade injusta. O dragão impressiona por sua violência e arrogância. Domina o mundo inteiro com sete cabeças e sete diademas (referência ao império romano e seus governadores presentes nas diversas províncias e pelas estátuas do imperador espalhadas pelas cidades, sinal de seu poder opressor). O chifre é sinônimo de força e poder” (Pe. José Bortolini). 

    “O dragão arrogante da mentira que gera e sustenta a sociedade injusta, se põe diante da mulher para devorar o filho. É o conflito entre a profecia e a mentira presente no passado do povo de Deus e novo das comunidades perseguidas. O menino que nasceu também é figura simbólica, representa as vitórias da justiça contra injustiça” (Pe. José Bortolini). 

    "A mulher fugiu para o deserto... (v. 12,6). O deserto recorda o tempo do Êxodo quando Deus fez aliança com seu povo. As comunidades se encontram nessa situação: perseguidas, mas protegidos, amadas e alimentadas diariamente enquanto durar o tempo da tribulação. A perseguição vai acabar, garante o apocalipse. Mas o dia a dia das comunidades compreende, por um lado, tribulação e, por outro, a presença carinhosa do Deus que sustenta a profecia e a resistência" (Pe. José Bortolini, do livro: como ler o apocalipse). 


    No Evangelho de Lucas 1, 39-56, temos vários movimentos e cenas. Após a anunciação do anjo, Maria sai (interior da Galiléia) ao encontro (Judéia) de sua prima Isabel que também fui agraciada por Deus e espera um filho na sua velhice. Na narrativa se dá mais que o encontro entre familiares, ambas são cada vez mais envolvidas no projeto de Deus. "Isabel compreende que não se trata apenas de uma visita de parente em razão da sua gravidez, mas que é a mãe do seu Senhor que a visita. Isabel fica extasiada e Maria não tem dúvidas da sua missão e das palavras que ouviu do anjo. Em lugar de se encher de orgulho e soberba, Maria assume seu papel de serva e acompanha e Isabel até o nascimento de João Batista". (Pe. Johan Konings). 

    Creio que esta liturgia é muito rica e profunda, espero que esta reflexão ajude a cada um mergulhar também no mistério salvífico, atualizando a obra de Deus a partir da própria realidade. Neste final de semana a Igreja agradece e ora pelas vocações a vida religiosa consagrada. Que cada consagrado leve a luz, a misericórdia e o amor do ressuscitado a cada um sem distinção, começando seu serviço e missão pelos irmãs e irmãs de comunidade. Que não sejam um espinho na carne, mas uma oportunidade de amar e de crescer, pois o Senhor os reuniu em comunidade para que formem “uma só alma e um só coração”. Intrigas, fofocas, rigorismo, laxismo, inveja, mediocridade e hipocrisia não são sinais do Evangelho, mas de pobreza existencial, infantilismo e ferrugem da Igreja e da vida consagrada, como já alertou o Papa Francisco. 

    Felicidades meu irmão, minha irmã consagrada. Felicidades aos meus amigos consagrados que dia a dia partilham a minha vida. Um bom final de semana a todos!


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