Celebramos o 30º domingo do tempo comum, onde a liturgia nos apresenta como luz e guia diante de uma realidade de incertezas.
Na 1º leitura do profeta Jeremias 31,7-9, a comunidade de Israel está vivendo o exílio da Babilônia, onde o povo está dizimado, disperso e dividido. O profeta anima a comunidade a não perder a fé e a esperança, mas a crer em Deus e em seu plano salvador, na certeza de que o exílio chegará ao seu fim e o povo se reunirá novamente. Alguns membros haviam sido deportados a Babilônia, em sua maioria, a elite de Israel e a corte sacerdotal. Enquanto que outros sofriam o exílio na própria terra: o resto de Israel, vendo a cidade e todas as suas referências destruídas.
O profeta Jeremias nos mostra que mesmo em tempo de crise, não podemos perder as esperanças e a nossa consciência como povo. Em tempos de crise, não podemos nos fechar ao diálogo, este é um dos piores caminhos, pois um povo dividido, é um povo fraco, é um povo fácil de manipular e roubar suas esperanças. Domingo temos uma importante decisão, infelizmente os candidatos se encontram em lados extremistas, polarizantes. A questão já ultrapassou o campo da política, que visa o bem comum, ao campo do subjetivismo narcísico, egocêntrico, que exclui completamente o outro em detrimento de si mesmo e de "seus valores". Involuntariamente me vem a pergunta: que valores são esses? Em nome de que deus falam? Certamente não são porta-vozes do Deus verdadeiro, que tem seu centro na vida e no seu direito.
Nestes tempos sombrios suplico a vocês queridos irmãos, que acima de nossas crenças e ideologias: "que a dor não nos seja indiferente... que injustiça não nos seja indiferente... que a guerra não nos seja indiferente, pois é um monstro grande que pisa forte toda pobre inocência dessa gente... eu só peço a Deus, por mim e por vós, que a mentira não nos seja indiferente, e se um só traidor tem a mais poder que um povo, que este povo não esqueça facilmente... eu só peço a Deus que o futuro não nos seja indiferente, sem ter que fugir pra viver uma cultura diferente..." Estas sábias palavras são da cantora argentina Mercedes Sosa, inspirada em tempos de ditadura e opressão (o link da musica eu só peço a Deus: https://www.youtube.com/watch?v=6_VxXExMdMM
O centro de sua canção é a não-indiferença. Este também é o centro da mensagem de Jesus. Na passagem deste final de semana, temos um claro exemplo disso: Marcos 10 46-52, onde Jesus e o cego Bartimeu se encontram. Uma das minhas passagens favoritas e mais belas das Sagradas Escrituras. Bartimeu que vivia à margem da sociedade, reconheceu em Jesus a salvação de Deus.
Jesus se encontrava a caminho com seus discípulos, seguidos por uma grande multidão que se somava a caminhada. Recordemos que nas beiras das estradas e nos caminhos, viviam inúmeros mendigos e pessoas com todo tipo de enfermidade, na tentativa de ganhar o próprio sustento, entre eles encontramos o simpático Bartimeu, homem de muita fé que no encontro com Jesus dá um passo de liberdade e salvação.
Ao reconhecer a presença de Jesus ele sem medo exclama: Jesus, Filho de Davi; tem compaixão de mim! Observe que a multidão que seguia a Jesus ainda não havia aderido ao seu projeto, mas o seguia por modismo, pois diante daquele homem que clamava, se revelaram como vozes opressoras, impedindo-o de falar e de buscar a Jesus. Na vida precisamos todos os dias ser como Bartimeu, insistir uma e outra vez com mais força, até que alcancemos o nosso objetivo. Somente quando Jesus o percebe que lhe dão voz e vez, sendo capazes inclusive de animá-lo: coragem, levanta-te, Jesus te chama. Neste momento o cego dá um salto da sua condição de marginalizado e é colocado ao centro.
Vejo neste momento uma explosão de alegria invadindo Bartimeu, que mesmo sem uma visão exterior, é capaz de vê Jesus, de um modo que aquela multidão não o havia visto. A sua fé foi o critério de salvação, que lhe permitiu recuperar a visão, assim como seu lugar na sociedade. Saiu do caminho e se pôs a caminho com Jesus e os seus, em um autêntico seguimento.
Feliz semana, muito axé e muita luz!