Um novo tempo ou o tempo de sempre? A escolha é nossa! A abertura sempre vem de Deus e se renova a cada instante, a cada ano e a cada ciclo. Há uma semana atrás entramos no período do advento, alguém notou? Que diferença faz? A Igreja nos propõe um tempo de preparação para algo maior que está por vir. Na vida também seguimos o mesmo esquema: sempre nos preparamos para algo novo, para algo maior que está para acontecer. Os exemplos podem ser das coisas mais notáveis às coisas mais simples: um noivado que prepara para o casamento; uma gravidez que antecipa um nascimento; a organização de uma festa; estudar para uma prova... No entanto o advento faz um convite ainda mais profundo: voltar para nós mesmos, refletir sobre a nossa existência: dom de Deus.
O Natal não quer ser uma festa do capitalismo, mas a festa da vida, onde rememoramos algo inaudito: Deus que se fez humano e habitou entre nós. Quem ainda se lembra disso? Nosso advento em lugar de nos preparar para reviver o mistério da Encarnação, se tornou simplesmente, a preparação de grandes banquetes, inúmeras confraternizações, amigo x para lá e pra cá, presentes decorações americanizadas e a crença em um velho gordo e barbudo de vermelho que distribui presentes. Centenas de animais são sacrificados para nos dá um remoto prazer! Celebrar faz parte da vida, eu também amo festas, mas acredito que relativizamos o essencial e demos primazia ao supérfluo. A preocupação se volta sobre as aparências. Tem gente que termina e inicia o ano endividado, por causa de roupas, presentes e luxúria de todo tipo. Onde está o novo? O inaudito? Conheço algumas pessoas que não gostam desse período, e talvez tenham razão, mas por outro lado, estejam completamente erradas, pois não fizeram a experiência de Deus doidinho por nós, doidinho por suas criaturas. Um Deus louco de amor, que foi capaz de se Encarnar e se sacrificar. É certo que até as igrejas se esquecem desta verdade.
O advento nos proporcionar refletir, planejar a vida que queremos, pois ele antecede o natal e o ano novo cívico. E um novo ano, é algo realmente novo, não repetitivo como acreditavam os gregos "em um eterno retorno", viver assim seria terrível! Minha gente, não é possível um ano novo fazendo coisas velhas: as mesmas reclamações, murmurações, pessimismos, preguiça e atitudes. É tomar a vida nas próprias mãos, em uma atitude construtiva. O professor Mário Sérgio Cortella repete constantemente: a sorte segue a coragem! Então coragem! Adiante!
Uma outra atitude que nos proporciona o advento é uma grande ação de graças elevada a Deus, por tudo que Ele fez por nós e em nós ao longo do ano. Porém, esta ação de graças, não pode se resumir ao culto institucionalizado, mas em um estilo de vida que transparece em nossas relações, que vão desde o chefe, amigos, filhos, até o cachorro.
O Evangelho do II domingo do Advento: Lucas 3, 1-6. Nesta narrativa temos o grande anúncio que perpassa o advento: "convertei-vos... endireitai os vossos caminhos para a chegada do Senhor". Este anúncio é posto da boca de João Batista, uma das figuras que fazem conosco o caminho do advento.
No início da narrativa, Lucas faz a descrição das autoridades do poder romano e judaico da época, aos quais o Reino apresentado por Jesus vai se chocar. João Batista também é apresentado distante desta realidade: ele se situa no deserto, enquanto que as notáveis autoridades reluzem em seus palácios nos grandes centros.
Uma voz que grita no deserto, pode alguém escutar? O próprio nome deserto já indica um lugar despovoado, isolado. Somente é capaz de ouvir esta voz, àqueles que "descem" ao deserto de sua existência e se deixam interpelar pela Boa Nova de Deus gestada a cada instante. Somente dali saberá reconhecer-se em seus excessos e dons, só aí poderá se preparar para a chegada de Deus em si, e de modo consciente, pois Deus já nos habita e nos cuida independente de nossas escolhas.
A missão de João não é conferida por si ou por outra pessoa, mas pelo mesmo Deus que o envia ao batismo de conversão (metanoia), mudança de vida e direção. Aqueles que se deixam conduzir realizam um caminho exodal para a verdadeira liberdade dos filhos de Deus.
A liturgia nos apresenta um meio de escutar a Palavra de Deus, mas é sumamente necessário deixar-se tocar por ela, ruminá-la e atualizá-la, para não ser cristãos a meias. Esta semana o Papa Francisco pediu que nos questionarmos: somos cristãos do dizer ou do fazer? Construo minha vida sobre a rocha de Deus ou sobre a areia da mundanidade, da vaidade? Sou humilde, procuro sempre caminhar por baixo, sem o orgulho, e assim servir ao Senhor?
Uma feliz semana a todos, com o desejo de que cada um se volte sobre si e viva segundo o tempo proposto!
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