sábado, 9 de fevereiro de 2019

Avançai para águas mais profundas


Nos encontramos no 5º domingo do tempo comum, com um marcante convite: avançar para as águas mais profundas. Como Igreja a água faz referência ao campo da fé e aos valores do Reino. O contrário disso vemos na violência disseminada pelo mundo afora, onde o ser humano diante do outro perde o seu valor; onde a ganância põe em risco a vida de todos; onde o prazer e o lucro não conhece limites...

O evangelho não condena riqueza, mas o egoísmo de quem acumula e ignore a miséria do outro. Nossa querida Minas Gerais tem chorado a morte de muitos filhos e filhas, pelo assustador mar de lama que chegou sem pedir licença, desmoronando famílias e comunidades inteiras. O que será deste povo? Com toda certeza, renascerá das cinzas, levando suas feridas, mas o que causa indignação é a impunidade e a vista grossa das autoridades em relação aos verdadeiros culpados. A culpada não é unicamente a Vale, mas todos os sistemas que deixaram de atuar com ética e com justiça. A verdadeira culpada é a ganancia, é o desejo do poder e do ter, que é capaz de cegar a todos. Oremos acompanhamos com gestos concretos os menos favorecidos desse sistema e denunciemos exigindo uma lei justa para todos.

O evangelho lucano neste final de semana, propõe a passagem da "pesca abundante" e a necessidade de avançar para águas mais profundas no campo da fé e da vida como um todo. O cenário é o interior da Galileia em uma região Costeira a beira do lago de Genesaré, também conhecido como mar da Galileia ou mar de Tiberíades. Ali se encontrava Jesus, no cotidiano daquelas pessoas. Ele chegou como uma Boa Notícia e lhes falava a partir do seu contexto e linguagem. Como um bom semeador lançava sementes do Reino, que podem ou não ser acolhidas. 

Como vimos em reflexões anteriores Jesus já havia iniciado sua vida pública oficialmente na sinagoga de Nazaré, quando anunciou seu projeto de vida (Lc 4, 14-21). Na passagem de hoje: Lucas 5, 1-11, Jesus se encontra seguido por uma grande multidão, composta de pessoas que testemunharam nele a presença do próprio Deus. Além da multidão, possivelmente Jesus também se encontrou com diversas pessoas que compunham o cenário do Lago: pescadores, crianças correndo por todo lado, vendedores, prostitutas e compradores de peixe. Especificamente o evangelho destaca os barcos de Simão e dos irmãos zebedeus, principais líderes do cristianismo primitivo. Jesus subiu na barca de Simão, sentou-se (atitude própria dos grandes mestres) e pois se a ensinar-lhes. 

Quanto ao conteúdo do ensinamento não temos conhecimento, mas o certo é que Jesus causava fascinação em seus ouvintes. Em um segundo momento, Jesus dialoga com Simão: "avançai para as águas profundas e lançarei as redes!" Este imperativo de Jesus vai muito além do pedido para uma pesca, mas reflete na própria vida de Simão: para não se contentar com a superficialidade da vida, mas ir além, aprofundar na fé e lançar as redes da confiança no projeto de Deus inaugurado por Jesus em um mundo em caos. 

A barca e símbolo da Igreja que é guiada pela Palavra de Jesus e o tem como seu fundamento. Simão se inclinou ao apelo de Jesus, e o resultado foi uma pesca abundante, pois a confiança na Palavra de Jesus e seu anúncio audaz, são forças de atração para o Reino. 

Lucas se adianta no novo nome de Simão (Lc 5,6), pois ali iniciou o seguimento de Pedro à pessoa de Jesus. Simão Pedro teve um gesto de profunda humildade, que o levou a atirar-se aos pés de Jesus, reconhecendo-se como pecador. Pedro reconheceu Jesus a santidade de Deus em Jesus, a qual não devia mais se aproximar, por isso exclama: afasta-te de mim que sou pecador" Mas no caminho do discipulado descobrirá que Jesus veio para os pecadores e como médico veio para curar os feridos. 

Acredito que a maioria de nós tem essa mesma tendência de se afastar daquilo que crê ser Sagrado, esquecendo-nos que eles são intermediários na terra que nos apontam para Deus e que seu papel não é emitir juízos condenatórios em nome de Deus. A Igreja não é santa, mas santa e pecadora, composta de homens e mulheres que são conscientes do seu pecado e fragilidade, tendo necessidade de Deus em suas vidas e se propõem a um segmento onde os valores que acreditam e encontram no evangelho, são norma de vida. 

Com Jesus os valores daquela sociedade ficaram invertidos, já não mais um imperialismo de uma sociedade, elitista, machista e patriarcal. No Reino inaugurado por Jesus as barreiras de classes são vencidas e novas relações são construídas, o contrário disso é uma ruptura com o pensamento e a práxis de Jesus na realização da obra do Pai. 

Um ótimo final de semana! 
Com carinho July Lima

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