Nos encontramos no 6º domingo do tempo comum, onde a Palavra de Deus vem ao nosso encontro impulsionando-nos à esperança e à coragem. O relato evangélico é o conhecido Sermão da Montanha (Mt 5, 1-12) ou da planície (Lc 6,17-26). Como estamos no ano C, refletiremos a versão lucana, que aprofunda mais o tema a partir de questões sociológicas, diferente de Mateus que se refere a atitudes, por isso também se somam sentenças para aqueles que causam a fome, a pobreza, a dor e a perseguição.
Para Lucas, o anúncio das bem-aventuranças ocorre após a instituição dos doze apóstolos, que descem para servir, para ir ao encontro dos principais destinatários da mensagem do Reino de Deus: os pobres, não porque sejam eticamente melhores, mas porque dentre os filhos de Deus são os que mais sofrem e precisam de um cuidado especial.
O discurso ocorreu em um contexto rural, no interior da Galileia, na dura realidade sofrida pelos pobres e camponeses que sofriam mais de perto a exploração e o domínio do império romano, que invadiam suas terras e levavam grande parte de sua colheita. A estas pessoas Jesus dirigiu uma mensagem de encorajamento. De acordo com estudiosos e Biblistas conhecedores do grego antigo e do hebraico, a correta a tradução não seria felizes, mas adiante, em frente todos vós os pobres... em frente todos vós que chorais... Sendo assim, a mensagem ganha um caráter muito mais dinâmico, que impulsiona as pessoas a serem protagonistas de suas vidas, a não se acomodarem e conformarem com fórmulas prontas.
Seguindo esta lógica, a mensagem de Jesus não é simplesmente um consolo para os pobres após a morte, onde receberão de Deus um prêmio pela provação suportada, mas uma mensagem de ânimo, de resistência frente as dificuldades sofridas. É como se Jesus dissesse aquelas pessoas: não baixem a cabeça ou se resignem, mas lutem e sigam adiante para reverter seu quadro de fome, de miséria e de dor; não assumam o papel de vítimas, de coitados, mas sejam protagonistas de uma história que não terminou, não chegou ao fim.
Este mesmo ciclo se repete constantemente em nossos dias: vivemos ameaçados por estruturas massacrantes que querem nos subjugar, em parte alcançam, mas os nossos sonhos e a nossa mente, não podem dominar se não o permitimos. O grande exemplo disso foi o psiquiatra Viktor Frankl, vítima da perseguição nazista e que esteve por anos preso no campo de concentração de Auschwitz. Seu corpo estava preso, mas seu espírito lutou para não sucumbir. Viu milhares de judeus morrendo e se entregando à morte. O cenário era nefasto, mas mesmo assim encontrou um sentido de vida e razões para lutar, para não se entregar ao sistema de morte dos nazistas.
Jesus lamentou por aqueles que geravam o desequilíbrio social, a fome e a miséria de seus semelhantes, não porque uma pronta condenação os esperava, mas porque não eram capazes de amar e de entrar na lógica do projeto de Deus.
Jesus também encorajou todos aqueles que são perseguidos por anunciarem sua Boa Nova e denunciarem tudo o que a ela se opõe. Vale Recordar os cristãos de todos os tempos que a Palavra de Deus não pode ser ouvida por todos do mesmo modo, pois ela é uma mensagem dinâmica, coletiva, mas também pessoal que provoca em cada um fruto necessário.
Um excelente final de semana
July Lima
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