Quinta feira, 31 de maio de 2018, celebramos a festa de Corpus Christi: Corpo de Cristo.
A Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, tem sua origem no século XIII, a partir das visões “eucarísticas” de Santa Juliana de Mont Cornillon, (Bélgica), abadessa do mosteiro. Nas suas visões Jesus teria lhe demonstrado o desejo de uma celebração especial para o mistério da Eucaristia. Tais visões foram comunicadas ao bispo local de Lieja: Dom Roberto de Thorete, também ao douto Dominico Hugh, e a Jacques Pantaleón, futuro papa Urbano IV.
O milagre eucarístico de Bolsena, ocorrido por volta de 1264, em uma cidade próxima a Orvieto, reforçou a necessidade de se celebrar solenemente o dom Eucarístico.
O bispo de Lieja, dom Roberto, ficou impressionado e tendo autonomia para instituir festas locais em sua diocese, convocou um sínodo em 1246, ordenando a todos a celebração solene do Corpo e Sangue de Cristo. Ao mesmo tempo, o papa Urbano IV que ascendia ao pontificado, encomendou a São Boaventura e a São Tomas de Aquino, um oficio próprio para celebrar Corpus Christis.
O Santo Padre movido pelo prodígio, e a pedido de vários bispos, estendeu a festa para toda a Igreja, por meio da bula "Transiturus" de 8 setembro de 1264, fixando-a para a quinta-feira depois da oitava de Pentecostes e outorgando muitas indulgências a todos que assistirem a Santa Missa e o ofício.
A solenidade de Corpus Christis também é celebrada na Igreja grega, pelos sírios, armênios, coptos, melquitas e os rutínios da Galícia, Calábria e Sicília.
A procissão de Corpus Christi surgiu em Colônia e difundiu-se primeiro na Alemanha, depois França, Itália, mas sua origem provém do milagre de Bolsena, onde um presbítero duvidava da presença real de Jesus na Eucaristia. Após o milagre eucarístico, houve uma procissão transladando o corporal manchado pelo sangue de Jesus que havia escorrido da hóstia.
A procissão pelas vias públicas, atende a uma recomendação do código de direito canônico (cânone 944) que determina ao bispo diocesano que a providencie, onde for possível, para testemunhar publicamente a adoração e a veneração para com a Santíssimo corpo e sangue de Cristo, presentes na Eucaristia.
A Festa de corpus Christi tal como celebramos no Brasil, é uma herança dos colonizadores portugueses. Ganham grande destaque na ornamentação as cidades históricas como Castelo/ES, Pirenópolis/GO, Matão/SP, Mariana. Ouro Preto e Coronel Fabriciano/MG, Cabo Frio/RJ... que são famosas pelos tapetes que decoram ruas e avenidas para a procissão do Santíssimo Sacramento.
Ouro Preto/MG
Castelo /ES
A motivação litúrgica para tal festa é o louvor merecido à Eucaristia, fonte de vida da Igreja. Celebrar Corpus Christi significa fazer memória solene da entrega que Jesus fez de sua própria carne e sangue, para a vida da Igreja, e comprometer-nos com a missão de levar esta Boa Nova para todas as pessoas.
Santo Tomás de Aquino destacava três aspectos teológicos centrais do sacramento da Eucaristia: Primeiro, a Eucaristia faz o memorial de Jesus Cristo, que passou no meio dos homens fazendo o bem (passado). Segundo: a Eucaristia celebra a unidade fundamental entre Cristo com sua Igreja e com todos os homens de boa vontade (presente). Terceiro: a Eucaristia prefigura nossa união definitiva e plena com Cristo, no Reino dos Céus (futuro).
Como percebemos em Santo Tomas e veremos em Santo Agostinho, a Eucaristia tem um significado muito mais profundo do que o mero receber a hóstia consagrada. Na Eucaristia recebemos o mesmo ser de Jesus, por meio da Palavra e da comunhão que é distribuída, como sinal do Corpo de Cristo. Em ambas, ele se faz presente e se doa a comunidade.
Para compreende o que ocorre na mentalidade do povo hoje, especialmente na devoção papular, precisamos compreender o contexto onde a festa surgiu, pois por detrás da festa de Corpus Christi existe um marcado contexto histórico, onde o povo vivia a margem de toda a ação litúrgica, já que tudo se centrava na figura do presbítero, que celebrava de costas e em latim. Existia no povo a curiosidade do que ocorria durante a celebração, o que se fazia necessário o levantamento da hóstia, onde o povo silenciava e caia de joelhos. O desejo de ver a hóstia se tornou cada vez mais aguçado, pois ali se encontrava o Sagrado.
Percebam meus queridos irmãos, que nesta época já não existia mais o caráter comunitário, a unidade dos cristãos que na era apostólica e patrística era tão forte e distinguia os cristãos. Estando o povo a margem, foi crescendo cada vez mais o devocionismo e o temor de Deus. A fé passa a ser vivida de um modo intimista: “salvar a alma” e não mais a visão de ser corpo de Cristo. A hóstia vai se tornando um objeto mágico e não sinal de comunhão de Deus com sua Igreja que congrega a todos.
Em Santo Agostinho temos o sentir da Igreja primitiva em relação a Eucaristia. Agostinho era plenamente consciente da presença real de Jesus. Tinha a Eucaristia como o alimento dos peregrinos que caminham para a cidade de Deus, a pátria eterna. Para ele a Eucaristia estava intimamente ligada a comunidade, pois ambas são corpo de Cristo, como afirma São Paulo. Por isso, Agostinho estabelece um paralelo entre a Igreja e a comunidade: sois o que recebeis... (sermão 229 a). Sendo assim, os fiéis vivendo em unidade formam o mesmo corpo de Cristo, por isso é necessário conversão. Convida a todos a ser um membro ativo e sadio dentro do corpo de Cristo, que produza frutos. Igualmente exorta para que não sejamos membros cancerosos dentro deste corpo.
Para Santo Agostinho, a acolhida ao irmão é sinal de amor a Cristo, pois quem honra a cabeça, preserva o corpo. Agostinho em seus escritos sempre tem presente as cartas paulinas, por isso fala de um corpo que se forma na diversidade de pessoas, pois acredita que a verdadeira unidade se dá na diversidade, do contrário seria uniformidade.
Ao comungar o corpo de Cristo somos chamados a ser “Pão” de Deus na vida do outro (a): “quem recebe o corpo de Cristo se converte em Corpo de Cristo, portanto, deve amar a unidade, colocar-se ao serviço dos demais membros de Cristo e esta em unidade, viver sua vida como um continuo sacrifício: oferenda vida em louvor ao Senhor”.
Hoje é um dia oportuno para refletir sobre a Eucaristia. Que ela não seja simples amuleto ou magia, mas presença real de Jesus que humaniza a criação.Feliz dia1
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