Estamos diante de uma obra fascinante de George Orwell, jornalista, crítico e romancista que nos convida a rever nossas estruturas e sistemas de poder, por meio da metáfora da Revolução dos Bichos de 1945, uma crítica ao sistema soviético e a guerra fria que se seguiu. A temática também nos ajuda a rever a atual situação do país, frente a várias mudanças trabalhistas que desfavorece aqueles que lutam dia a dia pelo seu sustento e uma vida mais digna.
O livro nos mostra como se deu a Revolução dos Bichos, que se libertaram do sistema opressor de seus donos, mas de como se tornaram escravos de outros animais, que diante do poder se tornaram tiranos e déspotas, o que confirma a célebre frase de um desconhecido filósofo: “quer conhecer uma pessoa, dê a ela poder!" Muitas pessoas se sentem oprimidas diante de outras pessoas, mas quando sobem ao poder, revelam sua verdadeira ganância e ambição.
Logo no início da fábula, o autor por meio do sábio Major (um velho porco), questiona natureza da vida animal (projetando sempre na realidade e estruturas humanas) sem nenhum pessimismo, mas com total objetividade, ele nos convida a encarar a realidade em que vivemos, por vezes miserável, trabalhosa e curta, onde se recebe o mínimo para sobreviver e se explora até as últimas forças os que produzem para depois descartá-los sem nenhuma piedade.
Será mesmo esta a ordem das coisas? Terá se tornado esta terra tão pobre que não ofereça mais condições de vida para seus habitantes? Perguntas que todos podemos nos fazer diante de uma terra rica, porém com as riquezas mal distribuídas.
Sem nos darmos conta vivemos e alimentamos um sistema injusto, que cada vez mais exclui, segrega quem não pode consumir e descarta quem não produz. Pior ainda é a realidade do trabalhador, que sofre o peso de instâncias superiores que somente visa o lucro e massacra a pessoa.
Se sabemos de tudo isso, por que permanecemos nesta miséria? Por que outros usufruem do esforço de nosso trabalho?
"Todos os nossos problemas se resumem em uma palavra: ganância, que habita o ser humano. Retira de cena um homem com sua ganância, que a causa principal da fome, da sobrecarga de trabalho desapareceram para sempre".
O homem é a única criatura que consome sem produzir " não dá leite, não põe ovos, é fraco demais para puxar o arado, não corre o que dê para pegar uma lebre, mesmo assim é o senhor de todos os animais". "Todos os males da nossa existência tem origem na tirania dos homens".
O sábio Major convida a uma mudança de atitude que não seja mais submissa e que favoreça a exploração, mas que eles elevem sua voz contra a opressão sofrida e se conscientizem da importância de lutar pelos os seus direitos:" lembrai-vos camaradas, ,jamais deixem fraquejar vossa decisão, que nenhum argumento possa vos desviar. Fechem os ouvidos aos que dizem quando que homens e animais têm interesses comuns, e que a prosperidade de um, é a prosperidade do outro. É tudo mentira"!
Quando uma classe é oprimida, ela precisa se unir e lutar pelos valores do grupo e não se deixar levar por ideologias externas. O velho Major, também alerta para que depois de libertos não sejam tiramos uns dos outros, pois existem pessoas que assumem o lugar do opressor quando experimentam a liberdade.
Animados pelo ideal da revolução resumem assim seus ideais: "jamais um animal deverá tiranizar o outros animais, fortes ou fracos, espertos ou simplório, somos todos irmãos". No capítulo 2, vemos como ocorre a revolução dos bichos e a primeira experiência de liberdade de tudo aquilo que os oprimia. O capítulo 3, traz o resultado de seus esforços e união, bem como sua organização.
Nos capítulos seguintes, porém, a coisa toma um rumo diferente, estando no poder Napoleão e Bola de Neve, dois porcos inteligentes, vão aos poucos se tornando manipuladores e tiranos dos próprios animais. Para justificar suas atitudes sempre ludibriavam os demais e os ameaçavam sutilmente com a ameça de um medo comum: a volta do fazendeiro Jones, tirando e explorador. Diante de tal ameaça, qualquer questionamento era silenciado. Aos poucos as regras básicas e fundamentais vão sendo destruídas e substituídas por outras que legitimavam as atitudes déspotas de Napoleão. Tudo o que antes os oprimia foi reproduzido nas lideranças dos porcos, que foram perdendo sua identidade e ideal, ao ponto em que entre homens e porcos, não se podia distinguir quem era o quê.
Infelizmente aqueles que desejaram a liberdade e a segurança, ficaram sem uma e sem a outra. Nossos sistemas podem nos transmitir esta mesma ilusão de liberdade e segurança, por isso, olhos finos para contemplar a realidade. Sempre se perguntem meus irmãos, o porquê das coisas que a mídia nos apresenta, pois se queremos uma mudança no sistema, precisamos ir na raiz dos problemas que ferem o coração da humanidade e não remendar as coisas ou tapa-buracos.
A Revolução dos Bichos com seus questionamentos podem nos ajudar a ler o tempo presente, onde muitas promessas são feitas para ludibriar o povo, enquanto os sanguessugas sorrateiramente atacam os tantos trabalhadores e trabalhadoras deste país. Já não é mais possível uma sociedade onde o pobre explore pobre, o rico explore o pobre, o mais fraco. Precisamos lutar por uma sociedade mais igualitária e mais justa, onde sobressaia a equidade e a fraternidade entre diferentes espécies e classes.
Boa Leitura!
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