A liturgia deste final de semana: 23ª domingo do tempo comum, reflete uma vez mais a dinâmica do Reino de Deus, animando-nos a não perder a esperança, por mais desafiadora que seja a nossa realidade. O Reino de Deus não se faz por meio da violência, da intolerância ou indiferença. Infelizmente esta semana constatamos mais um ato de violência pública, desta vez ao candidato Jair Messias Bolsonaro, que tem se apresentado com propostas bastante radicais e de direita, mas isso não vem ao caso. O que gostaria de ressaltar a partir deste evento, é que a violência não se resolve com violência, seja ela a quem for ou de onde vier. Este evento ganhou grande repercussão na mídia por se tratar de uma pessoa pública, porém meus queridos, a violência é uma triste realidade que ocorre todos os dias em nossas cidades, dilacerando famílias e todo um país.
Não minimizo o que ocorreu, mas gostaria de provocar o senso crítico de cada um de vocês que me acompanham por meio das várias reflexões. Percebo no cotidiano que para a maioria das pessoas, a violência parece ter se tornado algo corriqueiro, sem maior importância e que não nos atinge. Mas violência é uma realidade que nos assola dia a dia, amedrontando de forma indireta a população, que se torna cada vez mais refém e "prisioneira" domiciliar, tendo que se proteger com grades, alarmes, câmeras e outros. Por que não prevenimos a violência com políticas públicas e outros meios? É impossível remediar o mal a alguém quando este já espalhou os seus frutos de morte.
Nossa vida vale tudo e, como cidadãos brasileiros, temos sido explorados descaradamente com altos impostos, que deveriam ser devolvidos à população em forma de bens públicos que beneficiasse a todos.
Acorda Brasil! Somos uma nação guerreira desde o berço, não se deixe enganar com discursos de ódio, violência e falsas promessas! O poder está em nós. Nós decidimos sobre quem nos representa e se ninguém está representando nosso direito, não somos obrigados a votar em qualquer um. Um mal passo dado não pode ser retirado e repetido. Somos um povo de luta, fazemos parte do continente da esperança. E lembrem-se, onde há fome, não há Reino de Deus. Não gostaria que isso fosse tomado como um discurso de esquerda ou marxista, para mim isso é o autêntico cerne do Evangelho de Jesus Cristo, fonte da qual bebi desde criança e pauto minha vida entre erros e acertos. Minha mãe, minhas irmãs, amigos, conhecidos, irmãos, vivem sujeitos a esta realidade, como não falar dela se tenho a palavra?
A 2° leitura de hoje, Tiago 2, 1-5, aborda o tema com extrema clareza. Na semana passada o apóstolo se referiu sobre o que consiste a verdadeira religião, hoje ele reflete sobre a coerência da fé em Jesus. Uma fé que não admite acepção de pessoas, seja ela a ricos ou pobres. O autor recorda a preferência pelos mais pobres, tal como as conferências latino-americanas fizeram, por saber que a fome e a miséria ferem a dignidade humana em seus princípios básicos.
A 1° leitura de Isaías 35, 4-7, nos apresenta o protótipo do Reino de Deus instaurado mais tarde por Jesus. O capítulo 35 de Isaías canta a alegria da libertação do povo redimido de Iahweh. Este capítulo tem muita semelhança com o segundo Isaías: 40-55, pois ambos expressam a esperança e a certeza de uma nova terra e um novo povo, onde reinará à vida e à justiça. O texto faz parte de um oráculo destinado a motivar os judeus exilados para que retornem à Jerusalém. O templo não é mencionado, pois havia sido destruído pelos caldeus, por isso Sião ganha destaque como a nova morada de Iahweh.
O Deus que vem, é definido como Deus vingador que salvará o seu povo. Na referência aos cegos, surdos e coxos o autor não pretende narrar milagres ou curas, mas de libertação aos exilados, libertação de tudo aquilo que os oprimia e deformavam enquanto o povo e nação. O tema da água no deserto, suscita a memória de um novo Êxodo de libertação.
O Salmo 145/146, tem estreita harmonia com a primeira leitura. É um salmo de louvor, onde canta a grandeza de Deus, sua bondade e compaixão por todas as criaturas.
O Evangelho de Marcos 7, 31-37, faz realidade a esperança do povo, onde Deus se revela salvador e libertador, em um contexto de opressão imposto pelo império romano e pelo legalismo judaico.
O início do Evangelho (v. 31) nos mostra que Deus Emanuel não é uma realidade destinado único e exclusivamente a Israel, mas uma Boa Nova para todos os povos, em todos os tempos.
"A cura do surdo-mudo, simboliza a libertação das pessoas com os ouvidos abertos e a boca sem mordaça, elas são capazes de ouvir e falar adquirindo capacidade de discernir a realidade e criticar construtivamente a situação que oprime" (Euclides Balacin). Quantas pessoas que se deixam amordaçar e entregam de bandeja sua própria liberdade de ser e de pensar. Jesus nos mostra que o desejo de Deus é a vida em seu pleno gozo. A exemplo disso, pousemos nosso olhar sobre as Sagradas Escrituras, lugar privilegiado onde Deus sempre se revela salvando, mesmo em meio a infidelidade do povo.
Não desanimem queridos irmãos, tenham fé, sejam valentes. Peçamos a Deus o dom do discernimento para sempre agir segundo os desígnios divinos. Que possamos testemunhar ao mundo a beleza de um Deus que é conosco e que realiza o bem em favor de todos, restaurando a dignidade e a integridade física do ser humano.
Uma Feliz semana a todos, lembrando que no
processo de fé, é preciso deixar-se
tocar pelo mestre da vida, para que ele
nos cure de nossa cegueira
e surdez: física, moral e espiritual.
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