segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Orar com as mãos, final


Lembrando que o que os autores desejam transmitir não é a origem de cada gesto, mas perguntar as Sagradas Escrituras o que ela associa com cada uma das posturas e tomar consciência da nossa própria tradição.

Cobrir o rosto com as mãos

   Antigamente este gesto era usual depois da comunhão, para agradecer a Deus pelo mistério da Eucaristia. Com este gesto nos isolamos de tudo o que está ao nosso redor e mergulhamos em nosso próprio interior. Algumas pessoas gostam de rezar com este gesto por sentir maior concentração. É importante  prestar atenção nas mãos, pois elas estando mais afastadas ou próximas do rosto revelaram diferentes estados de oração: podemos sentir o calor da fase de Deus ou brigar com Ele. Ao tocar nosso rosto, tocamos ao mesmo a face de Deus, que nos criou a sua imagem e semelhança. 

Imposição das mãos

   No Novo Testamento, a imposição das mãos é um gesto de benção e de cura. Atualmente é usado oficialmente na ordenação diaconal e sacerdotal. Nos últimos cem anos ele foi reabilitado como por exemplo na absolvição dos pecados, no sacramento da reconciliação. Também na benção nupcial e outros ritos. O gesto expressa proteção e aconchego.

   Por sua própria natureza o gesto de imposição das mão,s produz um sentimento positivo na outra pessoa. Ele gera calidez. Algo começa a fluir. Por meio deste gesto os primeiros cristãos passaram o Espirito Santo adiante e curaram os enfermos. Por meio deste gesto, cada um pode torna-se mediador do agir curador e redentor de Jesus para o outro. Podemos passar adiante a plenitude da vida que Cristo nos presenteou. O decisivo é que este gesto transmita mais do que o benquerer pessoal. Ao inspirar deixo que ele flua para dentro de mim, e ao expirar deixo que ele flua através das minhas mãos para dentro do outro. 

Bater no peito

   Este gesto é muito conhecido como sinal de arrependimento e penitencia, mas é também um gesto que entramos em contato com nosso próprio coração.



O sinal da Cruz

   Por incrível que pareça, este gesto não é reservado somente aos cristãos, mas também em outras religiões que não são citadas no momento pelo autor. Desde os primeiros séculos, o sinal da cruz era usual entre os cristãos, como meio de proteção, ao mesmo tempo que a confissão de Jesus crucificado.

   O sinal da cruz une todos os opostos dentro do ser humano. Ele começa na testa, onde assinalamos o amor de Deus em nosso pensamento. Em seguida vai até o abdômen, que representa a vitalidade, a fecundidade e a sexualidade. Depois segue o ombro esquerdo para o direito. O ombro esquerdo figura o inconsciente, o direito o consciente. Mas também existem outros significados, mas o importante que todos os opostos confiamos a Deus.

Fonte: Rezar com o corpo, o poder curativo dos gestos, de Anselm Grus e Michael Recepen, monges cisterciense

domingo, 11 de fevereiro de 2018

São as perguntas que movem o mundo



   Que sou eu? Será que alguém realmente é capaz de responder a esta pergunta? Quando somos questionados com este tipo de pergunta, tentamos responde-las com características superficiais que nos distinguem, ou respondemos com as coisas que realizamos. Mas quem somos realmente? O que Deus projetou ao nos criar?

   A sociedade com seu sistema frenético nos pressiona para seguir uma carreira, para que tenhamos carro, casa, e quanto mais riqueza melhor. As escolhas têm seu preço, mas será que realmente escolhamos ou somos forçados a um modelo? Modelo pelo qual lutamos para ser felizes, mesmo o sendo. O modelo implantado que gera competitividade, ativismo, destruição e seres humanos infantis e imaturos. 

   Tal modelo cega para as verdadeiras coisas da vida, tais como a apreciação do momento presente, a interioridade, espiritualidade (que nada tem a ver com religião). São modelos que cremos ser o melhor e único caminho, mesmo com as pistas e sinais que recebemos. Quanto mais aferrados estivermos a estes modelos sociais, mais longe de nós mesmos estaremos. Diante de qualquer acontecimento, seremos defraudados pelas nossas emoções e sentimentos imaturos, porque evitamos os sofrimentos, as dores, as quedas e com toda razão, pois somos educados para o sucesso, para as grandezas, mas ninguém nos ensina a lidar com as perdas, com nossas emoções, com a morte, com o fim de um relacionamento, com nossas feridas e com um coração partido, mesmo que sempre estejam aí. 

   Quem sou eu? Não sei dizer ao certo, mas descubro que sou uma peregrina na passarela da vida, chamada a completar-me com as lições e experiências da vida. Isso é duro e doloroso, porque contraria meus planos e aspirações, mas como disse em outro artigo, os desafios servem para que cresçamos e para que possamos descobrir novos caminhos e inclusive o de superar-nos. O mais importante não é parar nas contrariedades, mas saber contornar, tendo claro quem queremos ser e com quem queremos estar. Este querer implica ação e determinação de nossa parte. 

O que importa não é o que a vida fez conosco, mas o que fazemos com que a vida nos dá. 


   Quem somos? Esta é uma pergunta essencial e de nada vale perguntar o que queremos ser ou fazer, se não conhecemos a nós mesmos.

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Um olhar diferente, compassivo e amoroso

6º Domingo do Tempo Comum


Muitas vezes para ser fieis aos nossos princípios, precisamos nadar contra a corrente. Esta realidade vemos na vida do próprio Jesus, que para ser fiel a sua missão, teve que ser ousado para ultrapassar todas as barreiras que se opuseram ao projeto e ao Reino de Deus. 

Na liturgia de hoje, vemos que o convite é para que coloquemos a lei a serviço da vida, pois a misericórdia deve preceder qualquer norma e seus rigorismos. 

   Na 1º leitura, Levítico 13, 1-2.44-48: vemos a prevenção que tomam os hebreus em relação aos leprosos. A lei era clara, porém desumana ao meu parecer, pois os leprosos eram abandonados a sua própria sorte, sofriam a solidão, o desprezo social e religioso. Semelhante situação viveram os leprosos do nosso país, que tiveram seus direitos negados, razão pela qual Irmã Cleusa, mártir e serva de Deus, tanto lutou. 

   O salmo 31 (32) Sois Senhor para mim, alegria e refúgio: contém a oração de um coração que se regozija em Deus, pois experimentou seu perdão e proteção. 

   Na 2º leitura, da 1º carta de Paulo aos coríntios 10,31-11,1, temos um conteúdo bastante apropriado para as festividades que estamos vivendo: o carnaval. Festa da qual não somos proibidos de festejar, mas advertidos de que somos cristãos em qualquer lugar, por isso não devemos ser motivo de escândalo para ninguém. 

   No evangelho de Marcos 1, 40-45, conhecemos o verdadeiro coração de Deus pelos gestos misericordiosos de Jesus. Coloquemos atenção nos verbos utilizados pelo leproso e por Jesus: aproximar, ajoelhar e pedir com fé. Não podemos querer que Deus nos ouça se estamos distantes dele, se não o reconhecemos como Deus em nossa vida. Geralmente só pedimos, mas não cultivamos em nós um lugar de Deus e para Deus. Jesus não é indiferente ao leproso, ao contrário, ele olha, acolhe e atende o seu clamor. 

   A primeira barreira que precisamos romper é a do orgulho que nos impede de reconhecer que precisamos de ajuda, que precisamos de ter a coragem de dobrar os joelhos para clamar e dialogar com Deus, desde a nossa pequenez. Jesus é o maior exemplo que temos, do quanto teve que suportar para nos revelar o verdadeiro rosto de Deus.

Uma feliz semana para todos, 
lembrando que na quarta-feira iniciamos a quaresma.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Somos preciosos aos olhos de Deus

Esta música certamente é conhecida por muitos, contém uma letra fantástica, lembra o que realmente somos: preciosos aos olhos de Deus. Somos seus amados. Nunca se esqueçam disso!

Raridade de Anderson Freire

Não consigo ir além do teu olhar
Tudo o que eu consigo é imaginar
A riqueza que existe dentro de você

O ouro eu consigo só admirar
Mas te olhando eu posso a Deus adorar
Sua alma é um bem que nunca envelhecerá

O pecado não consegue esconder
A marca de Jesus que existe em você
O que você fez ou deixou de fazer
Não mudou o início, Deus escolheu você
Sua raridade não está naquilo que você possui
Ou que sabe fazer
Isso é mistério de Deus com Você

Você é um espelho que reflete a imagem do Senhor
Não chore se o mundo ainda não notou
Já é o bastante Deus reconhecer o seu valor
Você é precioso, mais raro que o ouro puro de ofir
Se você desistiu, Deus não vai desistir
Ele está aqui pra te levantar se o mundo te fizer cair

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Quem me roubou de mim?

Existem pessoas que nos roubam!


Existem pessoas que nos devolvem!



   Esta obra do Pe. Fabio de Melo, contém um título bastante interessante, onde revela uma triste realidade, conhecida por poucos, mas sofrida por muitos: o roubo da nossa subjetividade, o roubo da nossa essência. Como bem diz o Pe. Fabio, este é um roubo sutil, sem armas de fogo ou coisa parecida.



   Este livro caiu em minhas mãos no ano de 2016, quando sofria o roubo da minha própria identidade. Ao ler este livro me identifiquei bastante e pude ver o que passava em minha própria vida. Ao nascer, “cada um tem a sua essência e não adianta tentar ser um outro, porque não é possível” (Rollo May). Cada um de nós somos únicos e preciosos, mas há pessoas ou sistemas que são barreiras no desenvolvimento desta identidade. As vezes esta barreira não é proposital, como creio que foi no meu caso, pois fizeram o que consideraram certo, segundo o grupo que pertencia. Os sistemas fechados são os meios mais propícios para afastar as pessoas de sua essência, porque trabalham com a uniformidade, repelem a diversidade, mas não se enganem, muitas relações de amizade, matrimonio, empresarial, também nos levam ao roubo da subjetividade, tal como mostrará Pe. Fabio no desenrolar de sua obra.


Que este livro te ajude, “pois onde houver um ser humano realizado, nele Deus estará revelado!”

Quanto mais nos conhecemos, mais difícil será o roubo de quem somos. 

   As pessoas que vivem uma vida totalmente para fora e marcada pela necessidade de excessivas comunicações, sem saber se tornam presas fáceis, pois tal estilo de vida, estrangula o tempo, retira de nós a necessidade de encarar nossas feridas, nossos problemas. Pe Fabio espera que ao longo da leitura, cada um se motive a abrir portas, mudar atitudes, romper cativeiros, ascender luzes e promover liberdade em nós e nos outros.




O sequestro da subjetividade é a privação de nós mesmos. É um vínculo que mina nossa capacidade de ser quem somos, de pensar por nós mesmos, de exercer nossa autonomia, de tomar decisões e exercer nossa liberdade de escolha. Trata-se de um roubo silencioso, que nos rouba de nós mesmos. Por incrível que pareça, são acontecimentos comuns. São sutis e altamente destrutíveis. Deste modo, a pessoa abre mão de si mesma e passa a obedecer às ordens e desejos de seu algoz.

      O roubo da subjetividade nasce a partir de toda relação que priva o ser humano de sua disposição de si, de sua pertença e que priva de administrar sua própria vida. O sequestro da subjetividade pode acontecer em todas as instancias de relacionamentos. Um só descuido e as relações podem evoluir para essa violência. Basta que as pessoas se percam de suas referências, que confundam o amor com posse, que abram mão de suas identidades e que se ausentem de si mesmas.

“Só podemos oferecer aquilo que temos. Se nos falta amor próprio é porque não teremos amor a oferecer”. 

O que vai encontrar:
  • Reflexões sobre os cativeiros afetivos e suas desastrosas consequências sobre aqueles que os protagonizam;
  • Uma convocação para que leitor revise seus relacionamentos, identificando neles posturas que possam nutrir em nome do amor que dizemos sentir, uma postura que atenta contra a sacralidade do outro, negando-lhe o direito de exercer sua liberdade interior;
  • Ajuda o leitor a compreender que esses crimes estão inconscientemente socializados, que eles são cometidos diariamente;
  • Também mostrará os caminhos que nos conduzem ao roubo da subjetividade.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Entendendo o Deus vingador

Um Deus ciumento, como entender isso?


Muitas pessoas têm estrema dificuldade para compreender algumas passagens do Antigo Testamento, especialmente as que se referem a Deus como um deus de coração duro, vingador, que pune. Estas imagens infelizmente são constantemente reforçadas por vários líderes religiosos e por fieis que leem as Sagradas Escrituras ao pé da letra, ignorando completamente todo um contexto histórico. Mas graças a Deus, a ciência avançou e com ela inúmeros avanços a favor da teologia e do campo religioso de modo geral. As descobertas arqueológicas, os pergaminhos encontrados, a exegese e os vários métodos científicos alavancaram as reflexões teológicas. 
Muitos devem estar se perguntando: por que tudo isso não chega ao conhecimento do povo? Por um lado, pela ignorância e despreparo dos líderes religiosos, e por outro lado, existe todo um contexto ao longo da história da Igreja e do cristianismo. Um contexto de ameaças, de erros e acertos. Querendo ou não, a religião exerce um certo poder sobre a vida do povo, que pode ser manipulador ou libertador. As pessoas que vivem na ignorância, são seres manipuláveis, que facilmente podem ser controlados. Mas quando damos conhecimento a uma pessoa, é sinônimo de dar-lhe poder. AÍ resposta da questão!

A maioria das religiões atualmente, trabalham com a imagem do Deus carrasco, vingador, porque elas inspiram medo, terror e subjuga as pessoas. Por isso, quero dar conhecimento a vocês, para que possam se aproximar de Deus, sem máscara ou projeções. 

Na seguinte reflexão teremos o aporte do monge alemão Anselm Grum.

   Na passagem do profeta Naum 1, 1-3 encontramos: 
o Senhor é Deus ciumento e vingador; o Senhor é vingador e cheio de furor; “o Senhor toma vingança contra os seus adversários, e guarda a ira contra os seus inimigos”. 

    Estas palavras podem ser assustadoras, por isso é sumamente importante compreender seu contexto. O profeta escreveu suas alocuções ameaçadoras numa situação histórica em que os povos da Ásia Menor sofriam pesadamente sob o poder de Assur. E assim descrevia a Deus como um Deus vingador e retaliador, cujo juízo viria certamente, mesmo que se faça esperar longamente. Não se pode considerar as frases deste livro de modo isolado das outras. É preciso ter sempre em mente a situação daquele tempo. Neste sentido, deve-se entender como palavras de consolação. O profeta exprime sua confiança em que Deus venha a romper o poder de Assur. Para ele, é Deus quem tem o poder de proteger seu povo. Mas não devemos entender esta descrição de um Deus vingador, ciumento e castigador como uma descrição verídica de quem realmente seja Deus. [...]o profeta tem a esperança de que Deus vai restituir o direito de seu povo, quebrando o poder do opressor.

    Ao mesmo tempo, Naum contrapõe a esta frase a outra, segundo a qual Deus é lento para a ira e muito poderoso. Ele tem paciência conosco quando cometemos erros. O castigo de Deus significa que não podemos viver arbitrariamente. Não podemos viver segundo nossos instinto e impulso. Assur certamente terá seu castigo algum dia, mas no tempo de Deus. A injustiça não perdurará por longo tempo. Neste sentido o profeta encorajou o povo de Israel.

    O exemplo desta passagem serve para inúmeras outras que podemos encontrar nas Sagradas Escrituras e nos mitos de nossas culturas. Não perca tempo temendo a Deus, mas ganhe tempo amando-o e descobrindo-se amado (a) por ele. 

    Este vídeo também pode ser bastante esclarecedor.




Fonte:
experiência da vida e o livro: passagens intrigantes da Bíblia, como entender espiritualmente. Autor: Anselmo Grun, editora Vozes. P. 63-64.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Presença amorosa e libertadora de Deus



Segundo Domingo do Tempo Comum
Jesus por onde passa, revela a presença amorosa e 
libertadora de Deus.


São Paulo na carta aos Coríntios: 1 Cor 9, 16-13, não se gloria por ser um anunciador do Evangelho de Jesus Cristo, porque sabe que esta não é uma tarefa fácil e de iniciativa própria, mas que Deus mesmo o chama e conduz. O Evangelho não é um simples conteúdo, mas é a presença de Deus junto ao seu povo por meio de Jesus, seu enviado. 
   Sem Deus ou a crença em seu ser, podemos ser reduzidos ao desespero e a angustia, como vemos na primeira leitura de Jó 7, 1-7. Por isso, o salmo de hoje, 146 nos convida com tanta veemência a louvar a Deus, porque Ele é bom e conforta os corações. 
   Toda a herança de fé recebida, a temos em grande parte dos judeus que por anos alimentaram a fé em um enviado de Deus que os libertaria da opressão romana e qualquer outra que fosse. Como vemos, Jesus surge do meio do povo, cresce sem distinções, fazendo-se pequeno com os pequenos e último com os últimos. Conhecia muito bem seu povo e seus clamores, sofria com eles a indiferença religiosa e política. Diante dos outros povos os judeus sempre foram rejeitados e mal compreendidos. Assim, deste mesmo modo Jesus se encarnou, fazendo-se semelhante a raça humana, fazendo-se irmão e não um soberano arrogante e distante.
Por isso na narração de hoje: Marcos 1, 29-39, contemplamos alguém simples, sensível, que se fez amigo, um conterrâneo, que acolhe as pessoas, entende suas dores, suas lutas, que se aproxima, toca e sem medo, olha nos olhos. Seu preço? Era ver as pessoas livres e felizes, sendo senhoras de suas vidas, crendo-se capazes. Muitas pessoas, até mesmo entre os seus discípulos tentaram retê-lo, no entanto, ele sabia que o que fazia não era por si mesmo, mas que era uma obra de Deus, por isso sem medo se aventurava constantemente em novos caminhos, transmitindo em gestos e palavras a Boa Nova de Deus para o seu povo.

Deus não morreu, ele continuamente envia seus sinais e seus enviados. No mundo existe muita bondade, mas somente a violência ganha ibope nos jornais, porque ela gera mais violência e medo. Deus é um cavalheiro que chega de mansinho e não faz nada sem o nosso consentimento. 

Feliz semana!

1º Domingo da quaresma 2020