sábado, 28 de julho de 2018

O Pão oferecido por Jesus e o pão que podemos oferecer




    Estamos celebrando o 17º domingo do tempo comum. Com a graça de Deus concluindo mais um mês e preparando para retomar às atividades do segundo semestre. No Evangelho de João 6, 1-15, vemos que novamente Jesus está rodeado pela multidão, porém em um contexto bastante diferente da semana passada. Nessa narrativa de João, nos encontramos no contexto de uma das grandes festas judaicas: a festa da páscoa, onde o povo faz memória da passagem da escravidão do Egito para a liberdade, porém a lei Judaica havia se tornando fria e massacrante para a maioria do povo, que por sua vez reconhecem Jesus a presença de Deus, o novo Moisés, no qual colocam todas as suas esperanças e expectativas messiânicas. 

    A passagem ocorre em uma região montanhosa do mar de Tiberíades ou mar da Galileia, onde Jesus havia se retirado com os seus discípulos. 

    É interessante notar que o povo segue a Jesus e deixa de subir para Jerusalém, aquilo que era obrigatório para todos os judeus uma vez por ano, especialmente na festa da páscoa. Isso já nos indica o conflito que seguirá com as autoridades, pois Jesus "estava atentando" contra a fé judaica e seus preceitos. No entanto, se contemplamos a Jesus, percebemos que o seu ministério estava totalmente focada em realizar a missão do Pai e resgatar aliança perdida entre Deus e a humanidade. Ele realiza uma missão completamente descentrada de si mesmo. Em suas relações deixa transparecer a paternidade de Iahweh e seu amor indiscriminado por todas as suas criaturas. Ele revela a "humanidade de Deus". 

    Vemos que na passagem de hoje, é ele quem percebe a necessidade da multidão e se preocupa por sua subsistência, e desejo que os seus tenham este mesmo cuidado. 


    Para o Papa Francisco, a principal mensagem de Jesus é a misericórdia, em uma profunda capacidade de sentir com outro, sensibilizar-se perante a sua miséria. Esta realidade podemos constatar em todas as narrativas do Evangelho, onde ele sempre é movido pela compaixão e pelo amor, pois vê diante de si pessoas e suas necessidades. Jamais julga ou condena, mas sempre busca uma brecha para realizar o Reino de Deus. Vemos que a partir de dois pães e três peixes ele faz possível a multiplicação dos pães: mistério do dom de Deus e dom da partilha entre irmãos. Jesus não vê a dificuldade como fez Felipe e faríamos a maioria de nós, mas vê a possibilidade partindo do pouco que se tem, desde que haja o desejo da partilha e abertura de coração. 

    Jesus oferece aquela multidão a liberdade de filhos de Deus, pois o gesto de sentar era algo para as pessoas livres. Jesus resgata não só a fé e a esperança daquelas pessoas, mas também a sua dignidade de ser humano, que vivia oprimida pelo sistema opressivo: político e religioso, tanto por parte do império romano, como das autoridades judaicas. Quais são as forças que hoje nos oprimem?

    A nossa missão como cristãos herdeiros do legado de Jesus, é sempre em favor da vida, da dignidade humana, e seu cuidado. É preciso ser cristão com coração, com ternura, com compaixão, com zelo e com alegria. É preciso estar atento como Jesus para não nos deixar seduzir pelas oportunidades de poder e de cargos, que muitas vezes podem nos descentrar do essencial do Evangelho. 

    Diante de nós sempre existirá uma multidão faminta, cansada, precisando de alguém que os acolha os escute; que os demonstre carinho e compaixão. O grande diferencial será a nossa atitude, a nossa acolhida. 

     Assim diz Francisco: "Quanto mais experimentamos o Amor e a infinita misericórdia de Deus sobre nós, tanto mais somos capazes de estar perante muitos feridos que encontramos em nosso caminho, com olhar de acolhimento e misericórdia. Por isso, evitamos a atitude de quem julga e condena das alturas de sua segurança". 

    Como o país, estamos atravessando um momento bastante desafiador, onde a situação econômica levou muitas famílias ao desemprego e a situação de mendicância. Essas pessoas têm necessidades extremas do material, mas também extremas de um olhar, de um bom dia, de um sorriso, de pessoas que os veja e não os trate como "lixo", como paisagem urbana ou como se não existissem. Isso doe! Constantemente nos deparamos com esta realidade, mas será que eles se tornaram invisíveis aos nossos olhos? Para a maioria das pessoas é certo que sim, mas para um cristão que deseja ser fiel a mensagem de Jesus, não! É algo inadmissível, incoerente! Esta realidade deve nos provocar e nos questionar. 

    Por maiores avanços científicos e tecnológicos que existam, a humanidade sempre vai requerer no mais íntimo de si, o desejo de um Deus amor, que os acolha e os ame. Reparem, as pessoas estão famintas de amor, atenção e escuta. Quando encontramos uma pessoa, percebemos que ela quer logo nos contar toda a sua vida e problemas. Nas conversas em diferentes ambientes que frequento, percebo a dificuldade do diálogo, da escuta, geralmente de um fala sem que seja escutado, pois o outro também deseja “despejar” uma tonelada de assunto, resultando em um diálogo tropeçado, onde cada um fala de si, interrompe, mas ninguém se escuta. 


Eu mesma tenho extrema dificuldade de escutar com paciência, sem querer dar conselhos ou argumentar. Estou inserida nesse ambiente, mas sei que preciso cuidar isso em mim, pois a minha fé me impele, e o desejo de ajudar as pessoas também. É preciso oferecer às pessoas uma "grama verde", um lugar aconchegante, onde elas possam ser acolhidas e experimentar o amor de Deus que passam pelas relações humanas. 

 A todos uma Feliz semana 
e um bom retorno às suas atividades!

sábado, 21 de julho de 2018

O cuidado a vida é o centro do Evangelho


     Liturgia do 16º domingo do tempo comum. Uma das grandes santas Carmelitas, Teresa de Lisieux ou simplesmente Terezinha dizia: " a vida é um brevíssimo segundo, um só dia que escapa e foge (...)", por isso sua regra máxima de vida foi o amor. Creio que todos nós sofremos com esta realidade do tempo, porém o essencial da vida não pode está à mercê ou a falta dele. No Brasil, estamos curtindo a raspinha das férias do mês de Julho, e que agonia quando nos damos conta disso e constatamos que não fizemos a metade do planejado. No entanto, tudo isso me leva a refletir sobre a vida e seu valor, pois as vezes colocamos nosso valor e segurança naquilo fazemos e não na vida que vai sendo tecida diante de nós. Viver é um mistério supremo e o único, que me faz querer ir além e não apenas me contentar com as aparências ou com as coisas que nos são apresentadas, pois sinto pulsar dentro de mim um espírito de águia que deseja alcançar as alturas e o infinito, mas também aprender e abraçar com tudo o que a vida tem a oferecer.

     O cuidado a vida será o centro da liturgia deste final de semana. No Evangelho de domingo passado, refletimos sobre a missão e o envio dos discípulos. No Evangelho de hoje: Marcos 6, 30-34, temos retorno dos doze, que compartilham com Jesus a alegria da missão e seu sucesso. Veremos também que o cansaço os acompanhava, por isso Jesus sugeriu ao grupo um momento de descanso em um lugar isolado, porém quando chegaram, foram surpreendidos por uma multidão que os seguia e que foi capaz de antecipar os seus passos. Ao se deparar com a situação, certamente os discípulos ficaram irados e incomodados. Reação que possivelmente eu teria, porém Jesus sentiu compaixão e os acolheu com ternura, sentiu sua dor, "pois eram como ovelhas sem pastor": sedentas, famintas e descuidadas, deixadas à sua própria sorte.

      Jesus as acolheu com amor, dedicando a elas toda sua atenção e tempo. Ele as compreendia profundamente, era capaz de transformar suas dores em alegria e esperança.


     Quando a vida está no centro, relegamos aos nossos caprichos e egoísmos. No entanto, que tarefa difícil, mas que não pode passar desapercebida a um cristão! Jesus poderia ter despedido a multidão e ter remarcado para um outro dia, porém abandonou os planos que tinha com seus discípulos e se colocou completamente a disposição daquelas pessoas. Quantas vezes já escutei a reclamação de pessoas que queriam se confessar, conversar ou mesmo que o sacerdote visitasse um familiar enfermo e receberam um não e a lista de horário dos atendimentos. Esta é uma das coisas que Francisco questiona, uma Igreja que apenas administra os sacramentos e centra sua maior preocupação na arrecadação de dízimos e tarefas administrativas, que certamente são importantes, pois uma casa sem organização é impossível de subsistir. 

     A Igreja em saída que requer o Evangelho e é insistência na boca do papa Francisco, não diz respeito somente aos espaços físicos, mas sobretudo, a uma mentalidade engessada, centrada em leis e normas regidas pelo direito canônico. Nossa lei maior é a vivencia do Evangelho. São de cristãos assim que o mundo precisa. Questionamos muitas vezes que ele está perdido e dando sinais dos fins dos tempos, porém nunca refletimos que em algo falhamos, pois podemos dizer que o ocidente sempre foi regido pelo catolicismo, não teremos nós falhado e colocado a centralidade em outras coisas? Quem se detêm com interesse na história verá que sim, porem, em cada tempo nos cabe dar vida a novidade do Evangelho. Ele não deixa margem para a exclusão ou qualquer tipo de segregação e, nos ensina que nada pode sobrepor a vida.

     Que como cristãos, independente de qualquer estilo de vida, possamos rever nossas atitudes diante daqueles que recorrem a nós. Que possamos refletir sobre a nossa relação com o tempo, se nos tornamos seus escravos ou buscamos viver de modo mais pleno. Não importa a situação em que esteja, Deus sempre vela pelos seus filhos.

     Oremos também pelos nossos pastores que são desafiados a inúmeras responsabilidades dia a dia, mas que mesmo diante de toda esta realidade, sejam capazes de ser verdadeiros pastores e animadores de comunidade, pois uma das grandes linguagens do amor, é o cuidado. 


      
Feliz semana para todos vocês meus queridos irmãos! Percebam todos os cuidados recebidos em sua vida e multiplique-os. 

domingo, 15 de julho de 2018

Deus nos envia para ser presença de amor


     Nossa vida é um divino mistério tecido pelas mãos de Deus e pela Liberdade humana. Que ao Celebrar o 15° domingo do tempo comum, sejamos cada vez mais conscientes desta "vida que pulsa em nós!" 

   No Evangelho deste domingo: Marcos 6, 7-13, temos o envio explicito de Jesus aos seus discípulos a serem anunciadores da Boa Nova do Reino instaurado por ele e faz uma advertência sobre o que devem levar e como devem se comportar, pois o essencial da missão deve ser este anúncio e não os apetrechos levados pelos missionários, o que geralmente ocorre muitas missões, sejam elas nos grandes centros ou nas zonas rurais. 

     Como missionária já passei por várias experiências de missão, muitas vezes cometi o erro de me preocupar com o que deveria levar e o que poderia fazer para "catequizar" o povo, esquecendo de viver a alegria da missão e de perceber os sinais de Deus manifestados em cada pessoa e/ou realidade. Isso sempre me fez me sentir insegura e pouco missionária, até o momento em que descobri e aprendi a partilhar o amor de Deus e a minha experiência de Fé com cada pessoa e grupo que eu encontrava. 

      Hoje eu tenho a plena certeza de que ninguém quer ou precisa de um missionário moralista que desrespeita a história da comunidade e seu modo de celebrar. O que o povo espera de nós missionários, teólogos, biblistas, religiosos/as, padres, pastores e agentes pastorais de modo geral, não são discursos formulados sobre Deus, mas uma vivência deste Deus, através da maneira como nos relacionamos, através da nossa alegria, acolhida e jeito de celebrar, de olhar, de tocar... por isso o papa Francisco tem sido tão amado por todos, ele rejeita os formalismos desnecessários e se faz um irmão, um amigo para o povo de Deus.

     Existem muitos missionários invasivos, indiscretos e moralistas que mais se assemelham aos agentes do IBGE do que um servo do Deus. Gente nós nos esquecemos a importância da figura do missionário e o que ele significa para o povo. O missionário é alguém esperado e respeitado, pois se supõe que é uma presença de Deus e seu enviado. Me lembro de várias partilhas sobre missão com meu amigo André (MSF) e nos encantamos justamente com a alegria e o amor com que o povo nos acolhe, nos partilha do que tem e a fé e confiança que colocam em nós. Isso é "Sagrado" e não podemos brincar. Adenias, esta é uma experiência única, que marca nossa vida e alimenta a nossa fé. Por isso que se faz uma sumamente importante a simplicidade, alegria e humildade do missionário, pois estas atitudes congregam, geram comunhão. No entanto, atitudes como arrogância, autossuficiência e soberba, afastam as pessoas e é sinônimo de desprezo e desrespeito com o próprio povo e aquilo que ele tem a nos oferecer.

     Nosso processo de fé é algo muito sagrado e por isso não deve ser forçado. Reparem no versículo 11 do Evangelho, ele não deve ser algo imposto, mas uma atitude livro do coração, assumido na liberdade, e isso não quer dizer que não deva mais existir profetas, pois Deus continua enviando, homens e mulheres para anunciar seu projeto de vida para todos mas também para denunciar as injustiças e os demônios que sugam a vida do povo, seja ele a nível político, religioso, econômico e social. Hoje mesmo estamos escassos de profetas. Ninguém está disposto a assumir esta missão, no entanto, ela pode ser vivida e praticada a partir da nossa realidade, pois desde o batismo fomos ungidos profetas, ainda que não educados para isso. 

     Concluindo, não tenham medo de ser anunciadores de Deus e de ser profetas, pois o principal conteúdo do anúncio do Reino é o amor de Deus pelas suas criaturas. Este é o melhor remédio que podemos oferecer a qualquer civilização, independente da época em que nos encontramos, pois Deus derrama continuamente as suas Graças sobre nós, como nos testemunha a 2° leitura de hoje da carta aos Efésios 1, 3-14.

Desejo a todos uma feliz semana, sem medo de se abrirem a uma experiencia do amor de Deus que bate continuamente a nossa porta. Deus envia pessoas, realidades e acontecimentos para se manifestar a nós, por coração aberto e cheio de esperança.

sábado, 7 de julho de 2018

O amor não foi acolhido em sua Pátria



Neste final de semana, do 14º domingo do tempo ordinário, contemplamos Jesus em seu contexto histórico: para uns ele presença de esperança e manifestação de Deus em meio de seu povo, para outros ele foi motivo de escândalo e de contradição. O Evangelho de Marcos 6, 1-6, nos direciona para a sinagoga de Nazaré, uma vila no interior da Galileia: lugar do qual não poderia sair o Messias prometido, pois Nazaré era um lugar esquecido, a margem de toda a situação sociopolítica e religiosa de Israel, no entanto, ali Deus fez sua morada, no seio de uma família, confundindo toda a lógica de um povo. Jesus como bem nos narra os Evangelhos, viveu no anonimato por 30 anos, no entanto ele marcou um antes e um depois da história da humanidade, porém em seu tempo, Jesus não foi visto desta maneira pelo seu povo e família, mesmo realizando sinais e prodígios em favor de todos. 

O mais irônico do relato do desprezo sofrido por Jesus, era saber quem ele era, de onde vinha e quem eram seus pais. Sentiram admiração por suas palavras, mas ao constatar que era um Nazareno como eles, logo o desprezaram. Sabiam que Jesus não havia estudado em grandes escolas ou havia se tornado um rabino. Mas a sabedoria de Jesus era algo admirável, atraente, especialmente pelo modo como se relacionava com as pessoas.

Como vemos, os contemporâneos de Jesus sentiram algo bom e novo vindo dele, porém se deixaram guiar pela simples razão e aparência. Quantas vezes eu e você cometemos o mesmo erro, de julgar as pessoas pela aparência ou pelo que julgamos conhecer delas, esquecendo que as aparências enganam e que o essencial é invisível aos olhos. Agindo desta maneira deixamos passar a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas, ou até mesmo de aprender com elas ou de ajudá-los em suas dores. Às vezes as pessoas se fecham pelas dores da vida, por tudo o que sofreram e temem sofrer novamente.


Meus queridos, é preciso colocar as pessoas em seu contexto, pois cada um traz uma história única, que nos caracteriza. Nossa história é nosso Sagrado, que merece ser respeitado, acolhido e amado! felizmente Jesus não se deixou abater pela dureza de coração do seu povo, mas permaneceu fiel ao Pai no qual tirava sua força, viveu aquilo que São Paulo exclama na 2° leitura da segunda carta aos Coríntios 12, 7-10, "te basta a minha graça, pois e na fraqueza é que a força se manifesta!" Jesus não buscou grandeza ou se revelou como tal, mas no meio do povo se revelou e foi descobrindo a sua vocação. Na vida e na convivência vamos descobrindo quem somos e nossa missão neste mundo, para isso, precisamos do outro para nos ajudar a descobrir quem somos: nossos dons e limitações. Jesus é o profeta do amor, que não desiste de ninguém, por pior que seja, no entanto ele opera conforme a abertura de coração.

Abra o teu coração, viva com ele tuas dores e alegrias, lutas e vitórias, tuas conquistas e fracassos. Não despreze a ninguém pelo que aparenta ser, acolha cada um em sua dignidade, diversidade, beleza e encanto.

Linda semana para todos!

domingo, 1 de julho de 2018

Dois corações, dois grandes homens e uma Igreja


Hoje celebramos a liturgia do 1º de julho, inaugurando o novo semestre. Certamente os primeiros seis meses do ano passaram muito rápido, com excesso de informação e inúmeros acontecimentos, no entanto, o mais importante é nos rever diante de tudo isso: como reagimos, o que nos acrescentou como pessoa e como comunidade... Ademais, é sumamente importante rever como temos vivido a proposta do Reino de Deus neste tempo, diante de determinados acontecimentos, pois como afirma o filósofo Sartre: “não importa o que a vida nos fez, mas o que fizemos com que a ela nos deu!“ 

Meus irmãos, irmãs, não passemos pela vida sem existir, sem construir uma história, sem ser verdadeiramente pessoas! Contrario disso veremos nas figuras de Pedro e de Paulo, que celebramos solenemente neste final de semana, homens que pela graça de Deus superaram suas próprias limitações e passaram por uma verdadeira metamorfose de vida pela causa do Reino. 

Paulo como bem sabemos, era um homem zeloso ao extremo na defesa de sua fé, ao ponto de perseguir aqueles que se revelassem uma ameaça contra ela, descarregando toda sua ira em nome do zelo que tinha pela lei de Moisés, mas ao ser tocado por Jesus ressuscitado, Paulo trouxe todo seu ímpeto e ousadia para a fé e o testemunho em Jesus Cristo, tornando-se uma nova criatura. Paulo também foi um grande propagador da fé cristã, por meio de suas cartas e viagens missionárias. 

O apóstolo Pedro é uma criatura que me fascina pelo seu jeito de ser narrado nos Evangelhos. Pedro era como uma criança pura de bom coração, que se enamorou de Jesus, sua proposta de vida, da maneira como se relacionava com as pessoas e as acolhia. Pedro era coração aberto, impetuoso, arriscado, mas também covarde, inseguro, ciumento, no entanto, seu medo foi transformado em ousadia, coragem e valentia, ao ponto de entregar a sua própria vida. 

Hoje celebramos dois homens que são modelos de vida, de fé, por isso são pilares da Igreja. São homens transpassados pelo amor do ressuscitado, não viveram uma fé mais ou menos, sendo e não sendo cristãos. A partir desta constatação, podemos nos perguntar: o que em mim se transformou, amadureceu desde que me assume como cristão, como cristã? Quais são as minhas principais motivações para assumir esta fé? O que me difere ou me aprimorar como homem, como mulher como Família, neste mundo a partir da fé cristã? Repito uma vez mais: a fé for somente por status ou tradição de família, se prepare, pois, uma hora a casa vai cair! A fé necessariamente precisa tocar o íntimo de cada indivíduo, ser vivida na alegria, na tristeza da vida, do contrário é uma fé construída sobre a areia, capaz de sucumbir por qualquer vento que passa. A fé precisa ter raízes profundas, precisa ser fecundada pelo amor e podada pelos desafios da própria existência. Mas acima de tudo, ela precisa ser partilhada. 

Na 1º leitura dos Atos dos Apóstolos: 12, 1-11, temos a perseguição do poder romano e judaico sobre os cristãos e seus líderes. No relato da prisão de Pedro, testemunhamos que o poder de Deus é superior ao deste mundo e se manifesta no mistério da vida e na vivência do Mistério Pascal. 

O Salmo 33 parece ecoar a própria experiência de fé de São Pedro: “de todos os temores me livrou o Senhor Deus! ” Este Salmo testemunha a experiência daqueles que como o Pedro fizeram uma verdadeira experiência de Deus e seu amor, sendo capazes de testemunhar com a própria vida a bondade do Senhor. 

A 2º leitura da segunda carta a Timóteo 4, 6-8.17-18, apesar de não ser escrita por Paulo, mas por seus seguidores e comunidade, expressa algo de sua vida: a entrega total (combati o Bom Combate), motivo pelo qual sua vida foi martirizada. 

No Evangelho de Mateus 16,13-19, temos uma passagem bíblica bastante conhecida: “quem dizem os homens que sou? ” Como vemos, Jesus questionou a muitas pessoas sobre quem ele era. Cada qual o concebia conforme a sua expectativa messiânica, no entanto Jesus queria saber o que seus seguidores compreendiam e esperavam dele: “e vós, quem dizeis que eu sou? ” Pedro se adiantou ao grupo e fez a sua profissão de fé em Jesus como seu Senhor e Deus. 

A igreja nasce a partir da fé e não de uma herança cultural: “ não foi um homem que te revelou isso, mas o Pai que está no céu! ” Jesus apostou em pessoas simples, impulsadas pelo poder da sua graça, para levar adiante a missão do Reino. O ligar e desligar não se refere a um poder mágico, mas dentro da teologia mateana, significa preservar a causa da Justiça. 

Do Reino instaurado por Jesus, Pedro se destaca como um dos líderes, chamado a manter a unidade da comunidade, segundo os valores deixados por Jesus. Oremos pelos nossos líderes espirituais, que não sejam apenas administradores paroquiais, mais encarnem a verdadeira missão do presbítero de estar a serviço da comunidade e da vida, velando para que a Igreja seja o lugar da acolhida, da alegria, da vivência do amor cristão, sem exclusão, sem poréns, sem burocracia, mas a casa do perdão da misericórdia e da comunhão. 

Oremos pelo nosso querido Papa Francisco, que como representante Universal da Igreja não busca méritos para si, mas o autêntico seguimento a Jesus Cristo, sendo fiel à realidade de cada época.


Feliz semana para todos!

1º Domingo da quaresma 2020