sexta-feira, 31 de agosto de 2018

TÃO DIVINOS E TÃO HUMANOS


    Bem-vindo seja o mês de setembro e com ele a beleza da primavera em sua diversidade e encanto. Como Igreja nos dedicamos de modo especial a um maior tempo de reflexão sobre as Sagradas Escrituras, dedicando a cada ano uma explanação sobre um de seus livros. Este ano refletiremos sobre o livro da Sabedoria, que desejo partilhar com vocês futuramente em um outro artigo.

    Infelizmente constatamos que muitos cristãos não se preocupam em conhecer as Sagradas Escrituras, permanecendo num conhecimento raso. É sumamente importante identificar o contexto no qual uma determinada passagem foi escrita e qual era a intenção do autor e da comunidade, pois mesmo sendo Palavra de Deus, ela foi escrita a partir da experiência humana e sua percepção sobre Deus, pois tudo isso nos ajudar a compreender a mensagem a ser transmitida.

    As Sagradas Escrituras diferente do que muitos acreditam, foi sendo escrita dentro de uma grande diversidade cultural, mas com o foco na fidelidade a YAHWEH, como vemos na 1º leitura de hoje (Dt 4, 1-2.6-8), onde Moisés transmite as leis de Deus a Israel, que está se constituindo como povo e se prepara para entrar na terra prometida. É interessante perceber como Moisés expressa a sua experiência de Deus, como sendo um Deus próximo, ligado as suas vidas (v.7). No entanto, esta percepção de Deus e da vida foi perdida, pois com o passar do tempo e dos acontecimentos: perseguições e dominações, o povo Judeu foi se fechando ao "mundo" em uma busca de resguardar a sua identidade, fé e cultura, se tornando um grupo fechado, uniformizante, centrado na lei. 

     Jesus como um autêntico judeu, buscou romper com o peso da lei e das estruturas judaicas, que no lugar de defender a vida, como era a proposta inicial, passou a oprimir e excluir. Esse confronto de Jesus com as autoridades podemos constatar nos Evangelhos. Se lemos atentamente as Sagradas Escrituras, percebemos que elas nos dão pistas para melhorar a nossa sociedade ou afunda-la, conforme estejam as lentes dos olhos da nossa fé e da percepção da realidade. 

    A fé não pode estar desligada do chão da vida, é aí que ela acontece e cresce. "Quando nos reunimos em nome do ressuscitado e lemos as Sagradas Escrituras, é o mesmo Jesus quem fala, é o Espírito dele que se derrama sobre nós, que recorda o sentido dos acontecimentos da salvação, nos dá a capacidade de compreender a sua mensagem e nos coloca em comunhão com ele" (Ione Buyst). Por isso meus irmãos, " participar da liturgia sem participar ativamente da vida e missão da Igreja presente no mundo, significa não compreender o evangelho de Jesus Cristo e a liturgia celebrada em sua memória" (Ione Buyst, em seu livro, o mistério celebrado: memória e compromisso -I). Como vemos, toda a liturgia é vida, a Bíblia é vida. A experiência de Deus só ocorre encarnada na vida. 

    Nossa fé precisa fecundar o chão da existência, o chão da dor pessoal, o chão da dor dos irmãos e do planeta. Viver assim é divino! É ser fiel ao projeto de Jesus onde a vida sempre está no centro. Nossos líderes políticos também deveriam assumir em seus planos de governo estes mesmos princípios, pois afinal de contas, estão em tais cargos para servir ao povo e proporcionar-lhes os direitos básicos em favor da vida, da justiça e equidade. 

    Um político, um representante religioso, deve ser um líder diante do povo, um bom pastor que guia e orienta, porém estamos em tempos de lobos que roubam a fé e a esperança do povo, por meio de argumentos que manipulam a consciência da população, argumentos polarizados e subjetivos, com pouco senso da verdadeira situação do país e seus habitantes. Incentivar a violência, defender o uso da mão armada, não é sinal de sanidade ou solução para a violência. Por isso, é necessário investir em políticas públicas e rever os nossos representantes. 

    A 2° leitura (Tiago 1, 17-18. 21b-22. 27), nos apresenta uma autentica conexão entre a fé e a vida. O v. 22 nos convida a ser praticantes da Palavra e não meros ouvintes, pois quem o faz engana a si mesmo. O v. 27 ainda complementa: “a verdadeira religião, pura e sem mancha diante de Deus Pai, é assistir os órfãos e as viúvas em suas necessidades e não se deixar contaminar pelo mundo" (da ganância, do capitalismo desmedido, da corrupção da Injustiça e etc). 

    O evangelho de Marcos 7, 1-8. 14-15. 21-23, denuncia o abandono do mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens. Nesta passagem existe um claro conflito entre os fariseus e doutores da lei com Jesus e seus discípulos, pois Jesus rompe com algumas tradições que são excludentes e sem razão de ser para os seus dias. Jesus não descarta a necessidade da higiene pessoal e o devido cuidado com os alimentos na hora de consumi-los, mas questiona os exageros dos rituais de pureza, onde a única preocupação era sobre o externo e o aparente, enquanto que o interno estava longe de Deus e do projeto inicial que deu a vida Israel. Adverte sobre o que realmente nos torna impuros: tudo o que sai do ser humano: calunia, ofensa, mentira..., pois como bem afirma o ditado popular: "a boca fala daquilo que o coração está cheio". 

    Quão importante é a consciência de nós mesmos, de nossas intenções, motivações e pensamentos, pois não somos computadores programados, mas seres que vivem em constante transformação, aperfeiçoamento, crescimento e amadurecimento, ou declínio e morte. Nós decidimos, pois somos seres racionais, temos esta liberdade, contrário à dos animais que vivem dominados pelos seus instintos. Temos a cada dia, a oportunidade de fazer a diferença no mundo. 

    Meus queridos irmãos e irmãs, que o peso da lei com sua rigidez, não tire de nós a vida divina, a beleza da vida humana, da convivência, da esperança e do amor. Uma feliz semana e um excelente início de mês.

sábado, 18 de agosto de 2018

Assumida por Deus em sua glória



    Saudações carinhosas a todas as queridas famílias que nesta semana foi celebrada e refletida de modo muito especial pela nossa Igreja. Que sempre possam se sentir amadas e cuidadas por Deus. Que ele derrame sobre cada uma o Dom do amor, do respeito e do cuidado. Que o amor seja uma constante decisão, para que não haja em nossos lares o espinho da divisão e do desamor. 

    No 20º domingo do tempo comum, celebramos a festa da Assunção de Nossa Senhora, onde "Maria é assumida na glória divina" ( Ir. Afonso Murad, em seu livro: Maria toda de Deus é tão humana). 

    A liturgia como sempre nos traz uma grande riqueza inserindo-nos cada vez mais no mistério de Cristo. Celebrar a assunção de Maria é celebrar o mistério de Deus presente na vida humana. A centralidade deve permanecer em Jesus que realiza a obra do Pai, do contrário, não seremos fiéis a Deus. No entanto, há cristãos que creem em Maria a semelhança de uma idolatria, como uma deusa. Maria não é deusa ou semideusa, mas é alguém que se abriu plenamente ao projeto de Deus e foi capaz de enfrentar todas as adversidades para ser fiel a ele! 

    Cultuar a Maria como deusa não corresponde a sua figura na Igreja e na história da salvação. Ela é justamente destacada pela sua simplicidade e humildade. Como mãe de Deus não se enalteceu, mas assumiu o seu lugar de serva. Sua vida e virtudes devem servir de modelo para todos os cristãos e não objeto de idolatria como tem ocorrido. 

    Nossa reflexão será a partir da 1° leitura e do Evangelho. 


    A primeira leitura é tirada do livro do Apocalipse 11, 19; 12, 1-6, 10. Este livro para muitos é sinônimo de ameaça, castigo e fim do mundo, no entanto, o livro é encantador, portador de esperança e encorajamento aos cristãos perseguidos pelo império romano. Porém, a mensagem é transmitida por meio de uma linguagem simbólica (apocalíptica), onde os cristãos não podiam expressar livremente a sua fé. A linguagem simbólica era compreendida pelos iniciados na fé cristã e incompreendida pelas autoridades romanas. Algo semelhante ocorreu na ditadura do Brasil, onde políticos, poetas e artistas se manifestaram por meio de poemas, músicas e outros, para denunciar a violência e protestar contra um governo opressor 

    É interessante notar que a linguagem do livro do apocalipse sempre se dirige como algo que irá acontecer, porém refletia e denunciava tudo aquilo que os cristãos estavam sofrendo. 

    O apocalipse é um livro de resistência e esperança para animar as comunidades perseguidas. O trecho de hoje é relido a partir da Virgem Maria, ainda que o texto não se refira a ela. Analisemos um pouco o texto e contemplemos a finura do autor e a mensagem que ele deseja transmitir. 

    "Abriu-se então, o Templo de Deus que está no céu, e apareceu no Templo a arca da Aliança" (v. 19). "Com essa imagem o apocalipse mostra que mediante a profecia e a resistência das comunidades, acontece a nova aliança entre Deus e a humanidade. Ao dizer que a Arca reapareceu no céu, o apocalipse afirma ter chegado o tempo em que Deus se mostrou misericordioso e reuniu o seu povo. Relâmpagos, vozes, trovões, terremoto e tempestade de pedra são modos de dizer que Deus, de fato, se faz presente e reina mediante a profecia e a resistência das comunidades" (Pe. José Bortolini). 

" Apareceu no céu um grande sinal... (v. 1-2). 

“O autor afirma que a mulher é um sinal. Não se trata, portanto, de uma pessoa concreta, e sim de um sinal que indica uma realidade mais profunda que vai além do sinal” (Pe. José Bortolini). 

    "A mulher recorda Maria mãe de Jesus. Para o autor a mulher é símbolo das comunidades que num tempo de grande tribulação, mantém a profecia e a resistência, dando assim a luz o projeto de Deus na história". A mulher está vestida com o sol e adornada com a lua e as estrelas. Sol, lua, e estrelas tem como lugar natural o céu, que representa a morada de Deus para o apocalipse. Portanto, dizer que a mulher está assim vestida e adornada, é afirmar que Deus a envolve completamente e a protege fazendo com que ela seja de algum modo o esplendor de Deus. Em linguagem simbólica o autor está dizendo que Deus protege e envolve continuamente dia e noite as comunidades que profetizam e resistem” (Pe. José Bortolini). 

    “O parto é um esforço de dá continuamente a luz o projeto de Deus mediante a profecia e a resistência. É assim que o Apocalipse vê as comunidades perseguidas: no sofrimento e na fraqueza que estão gerando o projeto de vida que vem de Deus” (Pe. José Bortolini). 

    “Aparece o segundo sinal: um grande dragão... (v. 3-4a). O dragão é o oposto da profecia e da resistência. É a grande mentira que gera e conserva a sociedade injusta. O dragão impressiona por sua violência e arrogância. Domina o mundo inteiro com sete cabeças e sete diademas (referência ao império romano e seus governadores presentes nas diversas províncias e pelas estátuas do imperador espalhadas pelas cidades, sinal de seu poder opressor). O chifre é sinônimo de força e poder” (Pe. José Bortolini). 

    “O dragão arrogante da mentira que gera e sustenta a sociedade injusta, se põe diante da mulher para devorar o filho. É o conflito entre a profecia e a mentira presente no passado do povo de Deus e novo das comunidades perseguidas. O menino que nasceu também é figura simbólica, representa as vitórias da justiça contra injustiça” (Pe. José Bortolini). 

    "A mulher fugiu para o deserto... (v. 12,6). O deserto recorda o tempo do Êxodo quando Deus fez aliança com seu povo. As comunidades se encontram nessa situação: perseguidas, mas protegidos, amadas e alimentadas diariamente enquanto durar o tempo da tribulação. A perseguição vai acabar, garante o apocalipse. Mas o dia a dia das comunidades compreende, por um lado, tribulação e, por outro, a presença carinhosa do Deus que sustenta a profecia e a resistência" (Pe. José Bortolini, do livro: como ler o apocalipse). 


    No Evangelho de Lucas 1, 39-56, temos vários movimentos e cenas. Após a anunciação do anjo, Maria sai (interior da Galiléia) ao encontro (Judéia) de sua prima Isabel que também fui agraciada por Deus e espera um filho na sua velhice. Na narrativa se dá mais que o encontro entre familiares, ambas são cada vez mais envolvidas no projeto de Deus. "Isabel compreende que não se trata apenas de uma visita de parente em razão da sua gravidez, mas que é a mãe do seu Senhor que a visita. Isabel fica extasiada e Maria não tem dúvidas da sua missão e das palavras que ouviu do anjo. Em lugar de se encher de orgulho e soberba, Maria assume seu papel de serva e acompanha e Isabel até o nascimento de João Batista". (Pe. Johan Konings). 

    Creio que esta liturgia é muito rica e profunda, espero que esta reflexão ajude a cada um mergulhar também no mistério salvífico, atualizando a obra de Deus a partir da própria realidade. Neste final de semana a Igreja agradece e ora pelas vocações a vida religiosa consagrada. Que cada consagrado leve a luz, a misericórdia e o amor do ressuscitado a cada um sem distinção, começando seu serviço e missão pelos irmãs e irmãs de comunidade. Que não sejam um espinho na carne, mas uma oportunidade de amar e de crescer, pois o Senhor os reuniu em comunidade para que formem “uma só alma e um só coração”. Intrigas, fofocas, rigorismo, laxismo, inveja, mediocridade e hipocrisia não são sinais do Evangelho, mas de pobreza existencial, infantilismo e ferrugem da Igreja e da vida consagrada, como já alertou o Papa Francisco. 

    Felicidades meu irmão, minha irmã consagrada. Felicidades aos meus amigos consagrados que dia a dia partilham a minha vida. Um bom final de semana a todos!


quinta-feira, 16 de agosto de 2018

As 5 linguagens do amor


     Este livro de Gary Chapman é uma obra fantástica, que conheci em um do chatelaines no canal de Ivna Sá. É um livro que contém muitos ensinamentos para a vida e para o modo como nos relacionamos. Esta obra faz parte de uma coleção de 7 livros: 

As 5 linguagens do amor para as crianças; 
As 5 linguagens do amor para os adolescentes; 
As 5 linguagens do amor para os solteiros; 
As 5 linguagens do amor de Deus; 
As cinco linguagens da valorização pessoal no ambiente de trabalho;
As 5 linguagens do amor para casais, no qual de teremos a nossa atenção. 

     Ao representar este livro, desejo que você caro leitor, possa aguçar o teu desejo de crescer e apostar em uma relação mais saudável e harmoniosa, onde você e seu cônjuge se realizem plenamente. O desejo do autor é ajudar os casais a se descobrirem sua própria linguagem de amor e que possam descobrir o modo como o outro deseja se sentir amado. O livro é de fácil acesso e de fácil compreensão, pois o autor sempre expõe diversos exemplos conforme cada linguagem de amor. 

     Assim como em qualquer comunicação, precisamos partir de uma linguagem que o outro compreenda, na relação a dois, isso também se faz necessário, pois passado o tempo da paixão, já não sabemos nos comunicar ou demonstrar nosso amor, por isso Gary Chapman afirma que é necessário aprender a linguagem do amor primário do outro se quisermos ser comunicadores eficientes de nosso amor (p. 15). 

     Amar como bem sabemos, não é uma tarefa fácil, mas todos carregamos dentro de nós um desejo de ser amado, porém pode ocorrer que a forma como demonstramos nosso amor não é captado pelo outro, pois não se identifica com sua linguagem de amor primária. 

    Ler este livro me permite reler a minha própria história e perceber claramente algumas circunstâncias da minha infância e compreender coisas que jamais havia compreendido. Durante muitos anos vivi longe da minha mãe, sendo criada pelos meus tios, todas as vezes que minha mãe ia nos visitar era uma grande festa e alegria. Ela sempre chegava com muitos presentes e novidades, porém por muitos anos não me senti amada por ela, pois a minha linguagem de amor era diferente da dela, eu precisava de tempos de qualidade com ela, de sentir o seu toque, o seu cheiro, queria estar com ela, receber seu carinho, seus abraços e afagos. Só com o tempo, muito tempo depois compreendi que ela realmente me amava e que não precisava me sentir insegura em relação ao seu amor. Dar presentes era uma forma de demonstrar seu amor e de compensar a sua ausência, pois esta também é uma linguagem de amor como veremos. 

     A coisa parece simples, porém  notem que muitos casamentos e namoros terminam, porque as pessoas não se sentem amadas e compreendidas. Com este livro você tem a oportunidade de restaurar e investir na tua relação. Não deixe de buscar e investir naquilo que realmente vale a pena na sua vida! 


     Reparem que diante do outro, seja em um relacionamento de amizade ou conjugal, muitas vezes nos apresentamos com inúmeras expectativas, projetando no outro o modo como desejamos ser tratados e amados. E o que acontece? Decepção e desilusão. 

     As cinco linguagens emocionais do amor descobertas pelo autor são: 

Palavras de afirmação
Tempo de qualidade; ~
Presentes; 
Atos de serviço; 
Toque físico. 

     No entanto, o autor ressalta que do mesmo modo como no campo da linguística existem diversos dialetos e variações, dentro das 5 linguagens emocionais básicas do amor também existem. 

      O autor acredita que é muito difícil o marido e a esposa terem a mesma linguagem de amor o que dificulta a relação e alerta: "não podemos confiar em nossa linguagem nativa se nosso cônjuge não a compreende. Se quisermos que o cônjuge sinta o amor que tentamos comunicar, devemos expressá-lo na linguagem do amor primária dele" (p. 17). 

     Os psicólogos concluíram que sentir-se amado é uma necessidade emocional primária do ser humano, pois o amor desempenha um papel central na nossa vida

     Os psicólogos igualmente afirmam que toda criança tem necessidades emocionais básicas que devem ser satisfeitas a fim de que ela seja emocionalmente estável, pois sem esse amor ela terá dificuldades emocionais e sociais. 

      O autor acredita que dentro de cada criança e ser humano existe um tanque de amor, que pode estar cheio ou vazio conforme a linguagem de amor recebida (p. 21). 

"A necessidade emocional de amor não é um fenômeno exclusivo das crianças, é uma necessidade que nos acompanha ao longo da vida adulta e do casamento" (p. 21). A necessidade nos sentimos amados por nosso cônjuge está no cerne de nossos desejos conjugais". O isolamento é arrasador para psique humana. O casamento existe para saciar essa necessidade de intimidade e amor. É por esse motivo que os escritos bíblicos falam que o homem e a mulher se tornam uma só carne, isso não quer dizer que os indivíduos percam sua identidade, mas que eles entram um na vida do outro de maneira profunda e íntima" (p.22). 

     Nas palavras do mesmo autor: seja qual for a qualidade do casamento neste momento, ele sempre pode ficar melhor! Não deixe seu tanque de amor emocional no indicador vermelho, pois manter o tanque de amor emocional abastecido é tão importante para o casamento, quando manter o nível correto do óleo num automóvel (p. 23). Se o tanque de amor não estiver suficientemente abastecido, qualquer motivo ou acontecimento abalará este amor e o colocará em cheque. 

     O autor dedica todo um capítulo para falar da paixão, das suas características, mas também o seu fim. Acredita que o período da paixão é de obsessão, onde somos capazes de fazer de tudo pela pessoa amada, porém isso ainda não consiste no amor verdadeiro. O ciclo da paixão, segundo pesquisas realizadas, pode durar por cerca de dois anos, passado este período, somos confrontados com a realidade e nos deparamos com os defeitos e limitações do outro. 

     Muitos casais acreditam que ao fim da experiência da paixão, restam apenas duas opções: resigna-se uma vida infeliz ao lado do cônjuge ou pular do barco e tentar de novo. Mas ainda existe uma terceira e melhor alternativa: reconhecer a experiência da paixão como ela é de fato, um pico emocional temporário e buscar o amor real com o nosso cônjuge. Esse tipo de amor requer esforço e disciplina. O amor verdadeiro não pode começar se a experiência da paixão não tiver concluído o seu ciclo (p. 31 e 32). 

      Não desista de um amor, mas invista nele. Nos próximos artigos apresentarei as cinco linguagens de amor trabalhadas pelo autor.

     Gary Chapman, é um renomado autor americano que há muitos anos dedica seus trabalhos e reflexões em favor do matrimónio e da família. É pastor palestrante conhecido mundialmente.

sábado, 11 de agosto de 2018

Pai e Pão




O evangelho de hoje: Jo 6, 41-51, está em plena sintonia com domingo anterior, onde refletimos sobre o Maná (pão do céu) oferecido por Deus. Neste domingo o mesmo Jesus se revela como "pão de vida" enviado pelo Pai para alimentar o Novo Israel. Este alimento não se destina somente aos habitantes da Judeia ou Galileia, mas a toda humanidade que tem Sede e Fome de Deus. 

Jesus se revela “pão” do céu, como aquele que não age por si mesmo, mas faz a vontade do Pai, mesmo que sua vida seja triturada como o grão de trigo. 

Infelizmente as lideranças judaicas não compreenderam a Jesus e o seu projeto, seus corações estavam endurecidos para perceber os sinais de Deus ocorrendo diante de seus olhos, pois mantinham uma imagem de Deus muito diferente da representada por Jesus. Creio que algo semelhante ocorre com a nossa fé. 

O pão oferecido por Jesus não se resume a algo material que alimentava por um momento e falta no outro, ele oferece um pão existencial que confere sentido de vida, instaura novas relações e pauta novos valores para a vida humana. 

Alimentar-se deste pão é tornar-se profeta da esperança, da gentileza e do amor que sai ao encontro da humanidade em suas dores, lutas e sonhos. Comungar Jesus na sua Palavra, vida e Eucaristia é ser pão de vida a exemplo dele. Temos sido este pão ou nos limitamos a ser igrejeiros? Todas as orações, devoções e ritos são para nos configurar com Cristo, do contrário, vivemos uma fé aparente que se apoia em estruturas rígidas, em rezas e mais rezas, sem que haja qualquer transformação de vida. Muitos cristãos são criticados e com razão, pois o que mais deveria nos caracterizar é a vivencia indiscriminada do amor, no entanto, é onde mais pecamos. 

Cada vez mais creio que o mundo precisa de profetas/cristãos da esperança, por meio de uma fé mais humanizadora e menos ritualista, que aqueça e cative o coração, a exemplo do mesmo Jesus, que em tão pouco tempo de vida pública, arrastou multidões atrás de si, por transmitir amor, antes de qualquer outra coisa. Tenho plena consciência que ao afirmar tudo isso, posso incomodar a muitos cristãos e líderes religiosos, sendo que cada vez mais vivemos um reflorescimento imposto do tradicionalismo, da insistência em resgatar coisas que caducas e engessadas, mas minha fé cresce a cada dia e me impele a uma ruptura com aquilo que não é vida em mim e na minha fé. 

Como o cristã, como teóloga creio e me apaixono cada vez mais pelo Reino implantado por Jesus, assumido pela sua Igreja, mesmo que hoje esta Igreja esteja um pouco fria e distante desta linda missão. Eu creio nela como mãe, capaz de gerar vida e cuidar de muitos filhos. E ao celebrar o mês das vocações em agosto, desejo que seja realmente vocações a serviço da Vida em todas as instâncias, pois creio uma Igreja servidora e testemunha do Pão da Vida. Desejo ardentemente que ela reencontre seu caminho, para isso, me disponho como simples servidora ao seu serviço, partindo daquilo que Deus põe em mim e no meu coração. 

Algum tempo já venho crendo que tudo que passamos na vida é para crescer e ser luz na vida de alguém. Isso me move: ser sal e luz de Cristo para a realidade que me cerca. Não sei o que serei amanhã, mas busco construir-me a cada dia, na certeza de ser amada e cuidada por Deus a todo instante, o que permite ser uma mulher imensamente feliz, apaixonada pela vida. 

Neste final de semana (19º domingo do tempo comum) nos dedicamos agradecer a Deus o dom da vida de nossos pais. Que esta festa não se resuma ao comércio, apresentes e outros, mais seja o momento de celebrar o amor, à vida e de estar junto de quem amamos, pois, ser pai, ser mãe é participar ativamente da criação de Deus que se renova a cada instante. 

Gostaria de me dirigir também aos jovens e aos homens de meia-idade, pessoas que podem se envolver sexualmente sem nenhuma responsabilidade com alguém, sem pensar nas consequências posteriores, isso quando não há prevenção e cuidado na relação. Um filho não pode ser um acidente! Um filho é uma escolha amorosa, o resultado do amor entre um casal. Quantos filhos sem pais! Quantas feridas e cicatrizes são abertas em crianças e adolescentes inocentes que são marcadas por toda a vida. Eu sou filha destas mesmas circunstâncias, sofri por anos as consequências de tudo isso, e que graças a tantas lágrimas derramadas, desafios, oportunidades e ao próprio Deus, fui cicatrizando e preenchendo as lacunas abertas no meu coração e na minha história, que fizeram de mim quem sou. Já tive muita vergonha da minha história, já sofri por ela, mas hoje ela se tornou motivo de salvação, pois é desde aí onde Deus me ama e se faz presente. No entanto, tudo que sofri não gostaria que ocorresse com outras crianças e adolescentes. Cuidem delas! Graças a Deus tive pessoas certas que me ajudaram, mas pode ser que elas não tenham. A paternidade é um dom, é responsabilidade, é alegria, é decisão, é desafio constante, é continua doação de amor, em uma entrega generosa. É um amor Ágape. 

Desejo a todos um feliz final de semana e que repensem a sua paternidade a luz do Evangelho e a luz daquilo que Deus espera de cada um, pois o pão do amor, do cuidado não pode falta para aqueles que geramos. 


domingo, 5 de agosto de 2018

Aonde a Sua fé tem te levado?


       Saudações a todos os queridos amigos (as) e irmãos (as) que me acompanham nas diversas reflexões. Infelizmente o trabalho, os estudos, o cansaço e demais responsabilidades me impedem de dedicar mais tempo ao blog como gostaria. A reflexão da liturgia deste final de semana, chega um pouquinho, bastante atrasada, mas desejo que seja uma palavra que aqueça e ilumina sua semana. 

       A liturgia 18º domingo do tempo comum, continua na mesma sintonia dos domingos anteriores, onde Deus se revela como um Pai bondoso e misericordioso com seu povo, alimentando não somente sua fome material, mas velando por todas as suas necessidades, ao ponto de se oferecer a si mesmo na pessoa de Jesus, como pão de vida eterna. 

     Este pão de vida eterna, alimenta na medida em que acolhemos a pessoa de Jesus Cristo e aderimos ao seu projeto de vida. Aderir a este projeto nos dias de hoje não significa retroceder ou optar por algo caduco, pois o Evangelho é o testemunho do desejo de Deus para toda a humanidade. Quando este (o Evangelho) é bem anunciado e compreendido, é capaz de nos fazer perceber a beleza da vida e romper com aquilo que seja contrário a ela, seja em nós ou nos ambientes onde estamos inseridos. 

       Acolher ao Evangelho hoje, significa romper com toda a onda de desesperança e desilusão que parece atingir a todos em diversos momentos da vida. A esperança é o que nos move, é um fio de vida que não pode ser desligado do seu gerador (Deus como princípio de tudo e a essência de cada ser humano, de cada cultura) do contrário seremos submersos pela noite escura da indiferença, do relativismo, do descartável, do individualismo e do subjetivismo, que querem ter a primazia, mas são frutos de morte e perda de sentido. 

       O individualismo narcisista não faz parte do plano de Deus. Podemos conferir nos diversos relatos bíblicos que Deus sempre se dirige a um povo, a uma comunidade, não somente a indivíduos isoladamente, e quando isso acontece, parte de uma realidade concreta e com uma missão específica. 

     Por que insistimos em um individualismo egocêntrico? Fomos criados na comunhão da Trindade, de um Deus amor, de um Deus Trino, que a todo instante vela pelas suas criaturas. Na história de salvação do povo de Israel, contida nas páginas do Antigo Testamento, contemplamos a paternidade de um Deus com características antropomórficas: que caminha com seu povo, senti suas dores, vibra com suas alegrias e com ele sela uma aliança, que não se rompe mesmo frente às suas infidelidades. 

       Na 1º leitura do livro do Êxodo 16, 2-4.12-15, veremos a ingratidão do povo e a murmuração que fazem contra Moisés e Aarão, diante das dificuldades enfrentadas na caminhada pelo deserto rumo à Terra Prometida. Quantas vezes nós também desanimamos e nos queixamos diante dos desafios da vida, esquecendo de olhar adiante e de nos perguntar o para que das coisas que nos sucedem. Na maioria das vezes caímos no vitimismo, nos "por que" e "se", culpamos a Deus e ao mundo. Somos pessoas mimadas, queremos tudo a nossa maneira e, sem perceber relegamos estes caprichos ao campo da fé, sem saber apreciar as estações da vida e a beleza de cada fase. 

        Não duvidem meus irmãos, assim como no deserto sofrido por Israel, Deus também nos acompanha nos tantos desertos da vida, promovendo o pão necessário para a caminhada. 

        Como nos apresenta a 2º leitura: Ef, 4,17.20-24, é necessário nos despojarmos do homem velho, da mulher velha que nos habita e endurece o nosso coração. Revistamo-nos do homem novo, Abramo-nos as surpresas e belezas da vida, e como diz Jesus no v. 27 do Evangelho de hoje: João 6, 24-35, "esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna". 

      A vida é única, onde estamos depositando a nossa felicidade? Quais são os nossos verdadeiros sonhos? Quantos deles temos realizado? Em que gastamos a nossa energia? De que pão estamos nos alimentando e alimentando a nossa família? 

       Na vida tudo passa, por isso, saiba ser grato, saiba pedir a Deus o pão necessário para sua vida, pois quem nele crê, nunca mais terá sede, pois ele é o Pão da nossa vida. 

Uma feliz semana queridos amigos

1º Domingo da quaresma 2020