sábado, 19 de janeiro de 2019

A festa da vida


"Enchei as talhas de água!" Neste 2º domingo do tempo comum, nos encontramos na querida Bodas de Caná, em uma cidade do interior da Galileia, que ficou conhecida por um dos grandes sinais realizados por Jesus: a água convertida em vinho (Jo 2,1-11). Nesta narração do evangelista João, se encontram muitos detalhes e simbolismo. A passagem de começa com "no terceiro dia..." O terceiro dia representava um momento último da manifestação de Deus, mas também tem ressonância na ressurreição de Jesus. O casamento era uma das festas onde se encontravam as famílias e os amigos. A família de Jesus também se encontra, tanto a família sanguínea representada pela mãe, quanto a família que se forma com o anúncio do Reino de Deus, representada pelos discípulos. 

O detalhe observado por Maria indica que ela era muito próxima a família dos noivos e talvez ajudasse no serviço, pois lembrem-se que era uma festa dispendiosa que durava 7 dias. Seria um escândalo se o vinho acabasse, a festa estaria terminada. 

A presença de Maria mais do que advogada dos aflitos, representa a verdadeira discípula que permanece com Jesus do início ao fim. Também representa a comunidade cristã que se coloca a serviço daqueles que necessitam e oferece o vinho novo que é Jesus. Muitos questionam o porque Jesus a chama de mulher e não de mãe. Todo o evangelho é escrito na dinâmica do discipulado, onde não existem privilégios de uns sobre os outros, e nele Maria também se torna discípula. Ademais, na cultura judaica, a família exercia total controle sobre os jovens e o pai sobre todos. Tudo já estava pré-determinado, inclusive os matrimônios para levar adiante o nome da família. No entanto, Jesus para realizar a sua missão rompe com essa estrutura familiar patriarcal, optando por um caminho completamente diferente. Ao romper com os laços familiares ele deixava de ser filho a exemplo da parábola do pai misericordioso de Lucas 15.

Muitas vezes olhamos com olhos inocentes sobre a vida de Jesus, achando que tudo foi fácil porque ele era filho de Deus, mas ele assim como nós, nasceu em um contexto bastante dominador, que não deixava margem para muita coisa. Jesus se o estudamos um pouco mais a fundo em seu contexto histórico, se revela ainda mais apaixonante. Jesus foi um rebelde pela causa de Deus e pela causa humana. Dentro do Judaísmo relativizou às instituições que não geravam mais vida, o que ocasionou muito conflito com as autoridades judaicas. 

As seis talhas de pedras se destinavam para um dos ritos de purificação, mas que se encontravam vazias de sentido, no entanto, Jesus a partir delas demonstra a abundância de Deus sem limites. Se revela o vinho da vida, mas ao mesmo tempo, o noivo que desposa a humanidade com máximas de amor até a cruz. 

Através do mistério da vida celebramos a cada dia as "bodas" deste amor de Deus para conosco. Aproveite que estamos no início de um novo, permita que Deus renove seu vinho e recomponha o que está faltando. Faça a opção de uma fé renovada, sem mesquinharias ou superficialidade. Muitos criticam os cristãos pela incapacidade de fecundar a vida com a Boa Nova de Jesus. Ele não pode ser um fenômeno ocorrido na história. Ele deseja ser o vinho bom no seio da humanidade, o que não significa que devemos impor a nossa fé, mas testemunhá-la. 

Que talha da tua vida hoje está vazia? 
O que tem armazenado dentro da tua talha: água fresca e o vinho da alegria ou vinagre, azedume, água barrosa que não gera vida ou sacia a sede? 

O importante não é se culpar, mas a decisão e a determinação de onde quer chegar. 

Abraço e desejo de uma feliz semana
July Lima

sábado, 12 de janeiro de 2019

Mergulho nos mistérios de Deus


Neste final de semana recordamos o batismo de Jesus realizado no rio Jordão por João, mas também, o batismo do Espírito de Deus que reafirmou e conduziu à sua missão. A partir deste evento, Jesus não foi mais o mesmo, deixou de ser um rosto anônimo na Galileia e passou a ser a presença do próprio Deus no meio do povo, anunciando o reino de seu querido Pai, até consumir a sua própria vida. 

As leituras nos ajudam a reconhecer em Jesus nosso Senhor, a quem por livre e espontânea vontade, aderimos através do compromisso do batismo e da pertença a uma comunidade. A questão se torna um pouco complicada quanto ao batismo de crianças, que não fizeram a opção e tampouco são orientadas para a vivencia cristã. 

A 1ª leitura de Isaías 40, 1-5;9-11, se encontra no contexto do fim do exílio babilônico, quando o rei Ciro (Persa), começou a ter suas primeiras vitórias sobre o império babilônico. O autor do dêutero Isaías, escreveu uma mensagem de esperança para o seu povo. Como é possível constatar no v. 2, Israel compreendeu o exílio como um castigo da parte de Deus a causa de sua infidelidade (sua conta está paga, da mão do Senhor já recebeu por suas faltas o castigo dobrado), e com o fim do exílio estava pago.
A mensagem dirigida ao povo é de ânimo, de esperança e encorajamento, pois novamente veriam a glória de Deus se manifestar. A fé de Israel se reavivou, inclusive consideraram Ciro como um enviado do Senhor, que os libertou das mãos dos inimigos. Mas o cristianismo ao relê as Escrituras judaicas, compreende Jesus Cristo como este Senhor libertador, no entanto, sua manifestação se deu de um modo inaudito, não correspondendo as altas expectativas messiânicas dos judeus. Mas nos gestos e palavras de Jesus, podemos encontrar um poder sem igual: o poder do amor, que atraiu sobre ele inúmeros seguidores que reconheceram nele a presença do mesmo Deus. 

O Salmo 104/103, nos apresenta um ser regozijado em Deus. 
A segunda leitura da carta de Tito 2, 11-14; 3, 4-7, nos recorda que a graça de Deus manifestada em Jesus, se derramou sobre toda a humanidade, iluminando-nos contra as obras das trevas: impiedade, injustiça, mentira, soberba, etc. Lembra que o gesto oblativo de amor realizado em Cristo, foi gratuito e não por nossos méritos. Para nos fortalecer, nos recobriu de seu Espírito. 

O Evangelho de Lucas 3, 15-16.21-22, traz o testemunho de João Batista sobre Jesus, dando mostras de máxima humildade: "eu não sou digno desatar a correia das suas sandálias" (trabalho realizado pelas mulheres e pelos escravos gentios). Reconhece em Jesus o único capaz de nos transmitir a Ruah de Iahweh. A voz vinda do céu teria motivado e impulsionado a missão de Jesus e toda sua existência. Uma vez mais, ele se soube amado e realizando a vontade do Pai: "tu és meu filho amado." Nosso batismo é um abrir-se para Deus e viver na dinâmica de ser um filho amado, amada de Deus. Batismo é um mergulho nas águas profundas do mistério de Deus, é um compromisso sem volta, é sinônimo de pertença a Deus e a uma comunidade. 

Grande abraço e ótimo final de semana!
Com carinho July Lima

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Meu desejo pra vocês em 2019


Saudações meus queridos amigos e amigas! 
Um tempinho que não escrevo, creio que faltava inspiração suficiente, pois geralmente escrevo porque as palavras já estão em meu coração e saltam de dentro de mim. 
Nesses últimos dias vivemos muitas coisas: festas natalinas, comemorações de todo tipo e do fim do ano. Tudo parece ter passado em um piscar de olhos. Mas nesta época uma certa magia nos envolve, renovando a esperança, os sonhos, nos fazendo sentir mais capazes para viver os 365 dias que despontam diante de nós. Isso é maravilhoso! 
Que não percamos este ânimo, a garra e esperança. Para que isso não ocorra, é necessário cuidar e zelar sobre o dom de nossa vida, dia a dia, pois somos como as simpáticas e frágeis orquídeas, que exigem constante cuidado, temperatura adequada, água a seu tempo e sol sob vigilância. Também nós precisamos destes cuidados, cada qual a seu modo, segundo as características pessoais, temperamentos, projetos, vida e sonhos. 
A natureza tem muito a nos ensinar se paramos e a contemplamos. Assim fazia Jesus, contemplava a obra da criação, as meditava e falava aos corações. Considero de fundamental importância que cada um saiba o que lhe toca no mais intimo, mas também o quê lhe suga a energia, tempo, esperança e sonhos. 
Quando cuidamos das flores e das plantas, de um modo geral tiramos as pedras, os insetos peçonhentos e as ervas daninhas que tiram sua vitalidade. 
E por que permitimos que pessoas invejosas, mentirosas, negativas continuem a ter influência sobre nós? 
Por que somos omissos, covardes para romper com coisas e situações que nos fazem mal e nos sufocam?
Minha gente, aproveite que o ano é novo e nos renovemos também, optando pelo que nos faz mais gente, mais bonitos e saudáveis de corpo e alma. 
É hora de proporcionar uma limpeza no jardim interior, adubando com terra nova e novos ingredientes dosando cuidadosamente a "água" que nos é fonte de vida e faz de nós quem somos (cada um saberá qual é a sua fonte vital, o que lhe motiva, viver, luta e etc). 
Neste ano de 2019 desejo flores no teu jardim, alegria, beleza, coragem, valentia, auto confiança para suportar a dor dos espinhos e os ventos contrários que vem e que vão. 
Também um novo amor no coração, um céu azul, inúmeros sorrisos e a certeza de uma vida com sentido! 
Não desperdice tua existência, faça-a valer a pena, use com maestria teus dons e teu livre arbítrio, seja ousado, otimista e humilde para reconhecer erros, voltar atrás e pedir perdão se for necessário. 
Seja um homem e uma mulher de fé; cultive uma íntima amizade com Deus, fale com ele de teus sonhos e deixe-se iluminar sempre. E lembre-se, nem tanta a razão, nem tanto instinto ou coração, mas equilíbrio. 
Viva a cada dia como se fosse o último: com sentido, gratidão e alegria. Ame de verdade, abrace e descubra a cada instante a força de um amor. Faça a diferença no teu meio, sem pretensões de ser o melhor, mas de dar o teu melhor.

Com carinho
 July Lima

sábado, 22 de dezembro de 2018

Uma grande luz brilhou entre nós



A liturgia do 4º domingo do Advento e propriamente a do natal, se voltam sobre o mistério da Encarnação, nos convidando a reviver o mistério de um Deus amor que se aproxima mais de suas criaturas, se fazendo um entre nós e como nós. É interessante ressaltar que Jesus não se encarnou como soberano ou alguém de destaque no meio do seu povo, mas se encarnou e viveu entre os mais simples da sociedade Judaica da Palestina. 

A própria condição humana assumida por Jesus já diz muito sobre Ele, pois o termo humano vem do latim humus: terra. "Trata-se do oposto de tudo aquilo que significa grandeza, poder, honra e importância. Falar da humanidade de Jesus equivale a falar não só de sua condição terrena, mas sobretudo de sua forma ou estilo de vida. Trata-se do extremo oposto de tudo aquilo que significa dominação sobre a terra" (teólogo José Maria Castillo). O que o teólogo deseja mostrar é que a própria condição humana de Jesus já desfaz uma errônea concepção de Deus como um ser distante, vingador que está pronto para agir de acordo com a sua ira e castigar qualquer transgressão que não se enquadre em seus parâmetros.

A Encarnação é um ousado projeto empreendido pela Trindade, que só pode ser compreendido pela ótica do amor, pois é um mistério que escapa à nossa compreensão. O natal é mistério e ação fecunda de Deus no seio da humanidade. Por isso, não pode ser uma festa vivida superficialmente. Natal é a festa da fraternidade, da solidariedade, da percepção da necessidade do outro. Isso foi o que Deus fez por nós. 

Natal é ação de graças, é encontro, é reconhecimento. Por isso, neste natal irmãos, abrace alguém pra valer, não por aparências. Dedique um momento pessoal ou familiar para agradecer o dom de Deus derramado sobre nós. Cuide da família e não alimente antigos rancores, mágoas, lembre-se que o Natal também é perdão, pois se Deus veio até nós, foi porque o amor sobrepassou nossos limitações e pecados.

Faça o natal acontecer através de teus gestos e palavras e, lembre-se que o significado do Natal vai muito além dos engradados de cerveja, vinhos, churrascos ou banquetes. Revista o teu ser de luz e não a tua árvore! Ornamente também o teu caráter, a tua alma. Faça uma faxina e realce a grande mulher, o grande homem e é a grande fé que existe neste/a cristão/a. Existem pessoas que perderam o contato com a própria essência e buscam preencher com adornos e pinduricales desnecessários, fazendo o mesmo com suas relações e com tudo aquilo que se refere a sua existência. Pouco adianta decorar a casa com luzes e pisca-pisca se a luz verdadeira não é acolhida.

O evangelho da noite de natal nos narra que Deus nasceu na simplicidade e assim viveu. Sirva a Cristo nos menores, nos abandonados, nos desgraçados pela sociedade corrompida e encontrarás o menino da manjedoura.

Feliz Natal meus queridos amigos e irmãos!
July Lima

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

E um ano depois de mi vida


Gostaria de compartilhar com vocês um ano de graça que vivi ao longo de 2018. No dia 23 de dezembro de 2017 entreguei minha primeira carta pedindo a dispensa dos votos e desvinculação da congregação a qual pertencia. Muitas coisas sucederam depois deste evento. Poucas pessoas sabem o grande drama que vive ao longo do discernimento e crise vocacional. 

Dei um salto no escuro e decidi recomeçar a minha vida, o que consistiu em em um desafio encantador. Contava somente com a graça de Deus e a coragem de seguir adiante. Me lembro que antes dessa decisão tive muito medo do futuro, muitas dúvidas e inseguranças, pois tinha muito medo de fracassar e me perguntava o que faria? Como seria minha vida... O medo foi enorme, perdi noites de sono e a paz interior. Mas sobretudo, decidi não ser covarde, não me acomodar atrás de uma vida onde "tinha tudo" e não precisava me preocupar com emprego, aluguel, contas a pagar e etc. Lhes digo sinceramente que quando entrei na vida religiosa consagrada, senti verdadeiramente Deus me chamar, e quando saí senti Deus me acompanhar e me cuidar. O processo não foi fácil como alguns acreditam, são dores de parto rsrsrs. Esta foi uma das grandes coisas que vivi este ano: eu me lancei, Deus me cuidou e abriu inúmeras portas! Me cuidou como nunca, me fez crescer, me faz valente e saber-me mais amada a cada instante. 

Quando saí, voltei para casa da minha mãe, fiz novos planos, mas Deus traçou outros. Com muita alegria concluo este ano, sendo muito grata ao Senhor e aos inúmeros instrumentos que Ele pôs no meu caminho.

Decidi compartilhar com vocês esta alegria vivida na carne para animar a todos aqueles que em algum momento o outro passam por dificuldades, dúvidas e medos, assim como eu. Convido-os a não desanimar, mas a rever a própria vida e seus projetos diante de Deus, pois Ele nos surpreende e me surpreendeu. Espero não ser cabeçuda e querer buscar as coisas por mim mesma sem Ele, pois nem sempre é fácil saber e viver segundo os propósitos de Deus.

Pessoas muito, muito próximas e de confiança sabiam realmente o que eu estava interiormente sofrendo, e hoje ao acompanhar minha ação de graça, sabem o que ela significa para mim. Eu não sei do futuro, desejo muito concluir o curso de teologia e iniciar a psicologia para ajudar aqueles que estão no limite da vida, perdendo o sentido da própria existência e ajudá-los a enxergar o belo da vida, mesmo que exista a dor, o cinza e os espinhos, mas sobretudo, com sonhos e projetos, entrego uma vez mais a minha vida a Deus, quero ser disponível e me deixar surpreender. Sou dele, sou muito feliz, plena e amada. Não mudaria nada, mesmo diante da morte, pois vivo com sentido a cada dia, sendo eu mesma e sem medo de lutar por aquilo que acredito. 

Também sou grata aos amigos e familiares que caminharam comigo ao longo do ano. Agradeço aos meus padrinhos por assim dizer, frei Jacir e o Carlos Toty por darem tanta força para seguir a graduação em Teologia (mesmo com os boletos atrasados). Agradeço igualmente aos franciscanos da Província Santa Cruz, pela força nos estudos. Agradeço o carinho de tanta gente, que fez transbordar o meu "tanque de amor". Agradeço a Deus pela coragem e sagacidade da qual me investiu. Agradeço não ter sofrido o desemprego e clamo pelos que sofrem esta dura realidade. Agradeço ao Giovannini e ao André, meus facilitadores e padrinhos de livros rsrsrs. Agradeço muito ao diretório acadêmico Dom Oscar Romero, pela força, carinho e apoio acadêmico. Na verdade são muitos os detalhes que não dão para descrever, pois faltaria papel e cansaria a todos rsrsrs. 

Meu amigo, minha amiga, te encorajo a não desanimar frente aos desafios da vida e a não se contentar com uma vida aparente, ligada no piloto automático e acomodada as circunstâncias. Lute pelos teus sonhos e eles se realizarão com o tempo. Lembre-se que "a sorte segue a coragem e que não nascemos prontos" (Cotella). Se em algum momento sentir que nada tem sentido, é porque você está no sentido errado, pare, ouça a voz do coração, perceba os sinais do teu corpo para saber encontrar o caminho certo. "Espera no Senhor, seja firme, fortaleça teu coração e espere em Deus" (Sl 27). 

Obrigada Senhor pelo que fez em mim e por mim! Deixo esta frase que tem me acompanhado por muitos anos e acalentado nos momentos de angustia: "Nada te perturbe, nada te espante... Quem a Deus tem nada lhe falta. Só Deus basta! Sta. Tereza de Jesus
Feliz ano! 
Com carinho, July Lima

domingo, 16 de dezembro de 2018

O essencial não salta aos olhos de todos


Neste final de semana celebramos o 3° domingo do Advento: domingo da alegria, onde a liturgia nos revela que Deus tem um plano salvífico para toda a humanidade. A alegria proposta não é alegria da euforia momentânea, mas uma alegria que se converte em um modo de vida. A alegria que tanto tem nos convidado o Papa Francisco, que perpassa os seus escritos e homilias. Para elucidar ainda mais esta alegria evangélica, faço presente a figura da irmã Clare, uma jovem irlandesa que deixou tudo, inclusive uma promissora carreira de atriz, para seguir a Cristo dando tudo por ele. Ir. Clare, se destacava por uma alegria sem igual que tocava a todos e orientava para Deus. Infelizmente ela morreu no terremoto de 2016 no Equador. Outra figura conhecida por sua alegria e simplicidade, foi São Felipe Neri que se fazia criança entre os pequeninos e lhes falava de Deus através de seu próprio modo de ser. 
Para aqueles que desejam conhece-la: 


Como veem, a verdadeira alegria provém das coisas simples e de um modo de vida, não do ter, do possuir, de ser o melhor e o maior. Marcelo Jeneci em sua música felicidade, soube captar esta verdade, em um dos versos ele diz: Felicidade é só questão de ser. 

Quantas alegrias, quantos amores podemos está perdendo por achar que a felicidade se resume em ter uma carreira perfeita, um corpo fitness, uma casa invejável, entre outras coisas. Como dizia Saint Exupéry na obra do pequeno príncipe: o essencial é invisível aos olhos! As coisas de Deus também são assim, sendo invisíveis aos olhos da arrogância, do poder e do ódio. 

O evangelho de hoje João 1, 6-8. 19-28, temos uma passagem que está em sintonia com a narrativa de semana passada. Novamente aparece a figura de João Batista como a voz que clama no deserto, mas a centralidade está em Jesus. João Batista é apresentado pela comunidade joanina como aquele que testemunha a luz verdadeira. Desde o princípio do evangelho já aparecem as autoridades judaicas, que se oporão ao ministério de Jesus e estão preocupados com seus esquemas de poder e manter a própria comodidade, o messias prometido faria uma restauração completa em Israel. Por isso, querem saber quem é João e por que faz o que faz. Para alguns certamente ele se enquadrava no papel do messias esperado, pois falava com autoridade e despertava o interesse de muitas pessoas que acreditavam em sua pregação. Os enviados de Jerusalém querem saber a identidade daquele que batiza e convida à conversão. João por sua vez, desconstrói uma imagem que outros fizeram de si: eu não sou! Uma atitude que diz muito sobre seu caráter. Ele se disafirma, o que é ao mesmo tempo diferente de se desvalorizar, pois ele se reconhece como tal, em sua inteireza, mas sabe que não é o messias esperado, que já desponta em Israel.

João se comporta como um verdadeiro enviado de Deus, não pretendendo para si qualquer privilégio.Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. 

Jesus é a luz que nasce nas trevas da escuridão que desumaniza o mundo e cada ser humano. Isso deve nos alegrar e gerar em nós esperança frente aos desafios que nos são apresentados e parecem ser maiores que nós. Não desanime, volte a Ele seu coração e sua vida. Ele é aquele que é e faz presente em sua práxis o espírito de Deus e nos liberta das amarras da escravidão da cegueira e da surdez (primeira leitura). 

Semana passada você falava da atitude de gratidão, o cântico de Maria, proposto como salmo na liturgia de hoje, é um grande exemplo de gratidão e reconhecimento das obras de Deus em nossa vida. Faça o seu próprio magnificat e deixe o Emanuel (Deus conosco) habitar em ti. 

Feliz semana! 
July Lima

domingo, 9 de dezembro de 2018

Um novo tempo ou o tempo de sempre?


Um novo tempo ou o tempo de sempre? A escolha é nossa! A abertura sempre vem de Deus e se renova a cada instante, a cada ano e a cada ciclo. Há uma semana atrás entramos no período do advento, alguém notou? Que diferença faz? A Igreja nos propõe um tempo de preparação para algo maior que está por vir. Na vida também seguimos o mesmo esquema: sempre nos preparamos para algo novo, para algo maior que está para acontecer. Os exemplos podem ser das coisas mais notáveis às coisas mais simples: um noivado que prepara para o casamento; uma gravidez que antecipa um nascimento; a organização de uma festa; estudar para uma prova... No entanto o advento faz um convite ainda mais profundo: voltar para nós mesmos, refletir sobre a nossa existência: dom de Deus. 

O Natal não quer ser uma festa do capitalismo, mas a festa da vida, onde rememoramos algo inaudito: Deus que se fez humano  e habitou entre nós. Quem ainda se lembra disso? Nosso advento em lugar de nos preparar para reviver o mistério da Encarnação, se tornou simplesmente, a preparação de grandes banquetes, inúmeras confraternizações, amigo x para lá e pra cá, presentes decorações americanizadas e a crença em um velho gordo e barbudo de vermelho que distribui presentes. Centenas de animais são sacrificados para nos dá um remoto prazer! Celebrar faz parte da vida, eu também amo festas, mas acredito que relativizamos o essencial e demos primazia ao supérfluo. A preocupação se volta sobre as aparências. Tem gente que termina e inicia o ano endividado, por causa de roupas, presentes e luxúria de todo tipo. Onde está o novo? O inaudito? Conheço algumas pessoas que não gostam desse período, e talvez tenham razão, mas por outro lado, estejam completamente erradas, pois não fizeram a experiência de Deus doidinho por nós, doidinho por suas criaturas. Um Deus louco de amor, que foi capaz de se Encarnar e se sacrificar. É certo que até as igrejas se esquecem desta verdade. 

O advento nos proporcionar refletir, planejar a vida que queremos, pois ele antecede o natal e o ano novo cívico. E um novo ano, é algo realmente novo, não repetitivo como acreditavam os gregos "em um eterno retorno", viver assim seria terrível! Minha gente, não é possível um ano novo fazendo coisas velhas: as mesmas reclamações, murmurações, pessimismos, preguiça e atitudes. É tomar a vida nas próprias mãos, em uma atitude construtiva. O professor Mário Sérgio Cortella repete constantemente: a sorte segue a coragem! Então coragem! Adiante! 

Uma outra atitude que nos proporciona o advento é uma grande ação de graças elevada a Deus, por tudo que Ele fez por nós e em nós ao longo do ano. Porém, esta ação de graças, não pode se resumir ao culto institucionalizado, mas em um estilo de vida que transparece em nossas relações, que vão desde o chefe, amigos, filhos, até o cachorro. 

O Evangelho do II domingo do Advento: Lucas 3, 1-6. Nesta narrativa temos o grande anúncio que perpassa o advento: "convertei-vos... endireitai os vossos caminhos para a chegada do Senhor". Este anúncio é posto da boca de João Batista, uma das figuras que fazem conosco o caminho do advento. 

No início da narrativa, Lucas faz a descrição das autoridades do poder romano e judaico da época, aos quais o Reino apresentado por Jesus vai se chocar. João Batista também é apresentado distante desta realidade: ele se situa no deserto, enquanto que as notáveis autoridades reluzem em seus palácios nos grandes centros. 


Uma voz que grita no deserto, pode alguém escutar? O próprio nome deserto já indica um lugar despovoado, isolado. Somente é capaz de ouvir esta voz, àqueles que "descem" ao deserto de sua existência e se deixam interpelar pela Boa Nova de Deus gestada a cada instante. Somente dali saberá reconhecer-se em seus excessos e  dons, só aí poderá se preparar para a chegada de Deus em si, e de modo consciente, pois Deus já nos habita e nos cuida independente de nossas escolhas. 

A missão de João não é conferida por si ou por outra pessoa, mas pelo mesmo Deus que o envia ao batismo de conversão (metanoia), mudança de vida e direção. Aqueles que se deixam conduzir realizam um caminho exodal para a verdadeira liberdade dos filhos de Deus. 

A liturgia nos apresenta um meio de escutar a Palavra de Deus, mas é sumamente necessário deixar-se tocar por ela, ruminá-la e atualizá-la, para não ser cristãos a meias. Esta semana o Papa Francisco pediu que nos questionarmos: somos cristãos do dizer ou do fazer? Construo minha vida sobre a rocha de Deus ou sobre a areia da mundanidade, da vaidade? Sou humilde, procuro sempre caminhar por baixo, sem o orgulho, e assim servir ao Senhor? 

Uma feliz semana a todos, com o desejo de que cada um se volte sobre si e viva segundo o tempo proposto!
July Lima
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1º Domingo da quaresma 2020