sábado, 23 de junho de 2018

Nas pegadas de João Batista


      Neste final de semana celebramos a Natividade de São João Batista, considerado o último profeta do Antigo Testamento. No entanto, a profecia é uma realidade sempre presente na história de cada povo, pois ela nos ajuda a manter o equilíbrio da vida mostrando, os excessos e abusos cometidos contra a vida, a nível social, político e religioso, mas também aponta para os caminhos de revitalização e libertação de um povo, de um determinado grupo e cultura. O Profeta não é alguém extraordinário, mas alguém profundamente encarnado na realidade que o circunda, sendo capaz de ouvir com o coração os clamores abafados e oprimidos que ecoam de seu povo. O Profeta não é  necessariamente alguém religioso.

      João Batista era filho de sacerdote, seu pai Zacarias, pertencia à baixa classe sacerdotal de Israel,  que geralmente vivia no interior da Judeia e trabalhava para se sustentar, servindo ao templo quando o seu grupo era convocado. João como todos conhecemos, foi concebido de pais de idade avançada, nasceu na região montanhosa da Judeia. Dele pouco se sabe, mas é inegável que ele foi um homem ungido de Deus, pois encontrou na radicalidade de vida o modo de servir e demonstrar o seu amor a Deus. Como vemos, é  sumamente importante que cada um de nós encontre o seu próprio caminho de vida e a partir dele, dê o melhor de si para o mundo e para as relações construídas. O importante é ser feliz e viver de um modo que nossa vida seja farol para outros, tal como João Batista, que apontou para Jesus. 

      Se contemplamos um pouco de sua vida, temos muito para aprender: ele diante dos fariseus não teve medo de reconhecer que não era o messias prometido, tal como nos afirma a 2º leitura de hoje, dos Atos dos Apóstolos 13, 22-26:" eu não sou aquele que pensais que eu seja...". Neste versículo temos duas grandes virtudes que se complementam: a humildade e o autoconhecimento, sem que haja nenhum vitimismo. Em outra passagem bíblica, estando João diante de Herodes e Herodíades, não temeu  denunciar a mentira e a hipocrisia vivida por ambos, o que levou à sua morte. João era um homem que não se deixava influenciar, por mais que sua vida corresse perigo. Hoje quantas vezes vendemos e trocamos nossas convicções a troco de banana! Estamos diante de uma grande crise moral, onde a vida já não é mais o bem maior, pois vivemos segundo os nossos caprichos e subjetivismos, sem que haja uma menor preocupação com o outro e seus direitos.

      Celebramos a natividade de um homem que viveu há mais de 2 mil anos, que no entanto, deixou os seus passos registrados na história de um povo. Que história estamos construindo? Pelo o que queremos ser lembrados? Uns são esquecidos, outros lembrados pelo bem ou pelo grande mal que fizeram. 

      Você é o protagonista e o sócio majoritário da tua vida, faça ela acontecer, não com arrogância, mas com alegria e ousadia, sabendo que tua vida é um dom de Deus.


      Que possamos ler a 1º leitura do profeta Isaías 49, 1-6, nos apropriando dela e nos sentido como este amado/a de Deus, visto/a, sonhado/a, desde o ventre materno e protegidos pela mãos amorosas de Deus. Como podemos ver nesta mesma leitura, Deus nos criou com uma missão particular que só pode ser realizada por cada um de nós. Por isso, reafirmo uma vez mais, o quão importante que cada um abrace sua própria realidade pessoal e desenvolva ao máximo seu potencial. 

      O salmo 138, exclama de modo admirável uma ação de graças de quem se sabe Dom e amado por Deus: "eu vos louvo e vos dou graças, ó Senhor, porque de modo admirável me formastes! O gesto de ação de graças também faz parte da vida, especialmente de uma vida fecunda e bem vivida que saber reconhecer que tudo é dom de Deus e resultado esforço, dedicação. Esta foi uma das primeiras atitudes de Zacarias após o nascimento de João, que resultou em um lindo hino de ação de graça conservado na liturgia das horas. Eleve você também um hino de ação de graças ao Senhor Deus, pelo dom da tua vida, das pessoas que ama e de todo o bem recebido de Deus.

Um feliz final de semana para todos,
 sabendo que o amor nos humaniza  
desperta o divino que nos habita!

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Neste dia tenho muito a dizer e agradecer

   

    Este artigo escrevo para partilhar as maravilhas do Senhor em minha vida desde que me aventurei por novos caminhos, mas também agradecer a todos as pessoas que fizeram e fazem parte desta história.

    Nesta nova etapa a palavra que destaco é amor, nunca me senti tão amada e cuidada por Deus. O tempo de discernimento foi duro, de muitas lágrimas e estresse, mas também de crescimento e novas descobertas. É certo que nos momentos de alegria estamos rodeados de amigos, colegas e conhecidos, no entanto são nos momentos de dificuldades, onde baixamos aos infernos emocionais que percebemos a presença daqueles que realmente nos amam. Graças a Deus amigos nunca faltaram, mesmo nos piores momentos.

    Para estar onde estou, tive que passar pelo deserto da vida, chegando a um ponto que praticamente perdi o sentido da vida, em um curto espaço de tempo Mas mesmo ali Deus estava cuidando de mim e enviando seus anjos. 

    Sou devota dos cuidados e atenção que teve comigo minha amiga Vilma, período no qual nossa amizade se fortaleceu. A fantástica teóloga Tânia Mayer me fez refletir muito a partir desta frase: "nada está atado a prego"! Refleti muito em cima desta frase e aos poucos fui encontrando o caminho de libertação. Obrigada minha querida!

    Ir. Francisca, Ir. André, Ir. Anderson, Ir. Ailton, Ir. Alexandre (lenhador), tia Drica, Evaldo, Rosinha, Agustina e Padre Jandir (orientador espiritual), Nicinha, são pessoas mais que especiais que muitas vezes me ofereceram um ombro amigo e me ajudaram a não desistir, mas a sorrir e ver as flores em meio aos espinhos.

    Outras pessoas que mesmo sem saber o que me passava, me fizeram sorrir e sentir bem com sua simples presença, aqui destaco o frei Jacir (nosso querido reitor), Robinho sr. Irineu, meus colegas de sala e tantas pessoas do meu querido Parque São João, no qual vivi por mais de dois anos.

    O momento do adeus (de BH, da facu, dos, das pessoas queridas) foi doloroso, em um laço rompido sem mesmo saber o porquê, um adeus que não esperava voltas, mas que foi surpreendido pelas leis da vida.

    A decisão de sair foi da congregação foi antecipada, na cara e na coragem me lancei ao novo, ao desconhecido. Mas a vida foi generosa comigo: a casa materna reencontrei de portas abertas, com o aconchego da minha mãe e seu super apoio. As conversas vespertinas com minha irmã Nanda e meu cunhado Reges, regadas ao sabor de um bom chimarrão, foram fundamentais. Eles me mostraram novas perspectivas de vida e apoiaram minha decisão. Neste momento sentir profundamente o amor e a acolhida daqueles que verdadeiramente me amam e me querem bem. Não posso me esquecer das palavras do meu querido Bené e da minha Zuzu (avós de coração), palavras de incentivo e coragem, mesmo que tivesse desistido de algo que eles se orgulhassem. Confesso que temi decepciona-los, assim como a outras pessoas.

    O natal foi em família, estilo Cagliari: com muita alegria, brincadeira e casa cheia. O ano novo chegando e vocês não imaginam quanta alegria. No dia 28 de dezembro me despedi das irmãs, para voar a um novo céu. A primeira coisa que busquei foi descanso e curtir a liberdade, busquei dedicar tempos comigo mesma e realizar pequenas coisas que me davam prazer: estar aqui com aqueles que com aqueles que amo, ler e escrever, dormir ver filmes, ir à praia no fim da tarde... Vocês não imaginam o significado de tudo! Precisavam ver quando andei de bicicleta depois de anos, parecia uma criança com presente novo, de tanta alegria.

    Os dias foram se passando e o desejo de fazer a vida acontecer se acentuando, não sabia como, mas a teologia queria seguir. Me deparei com o desemprego, mas também com novas oportunidades. Foi em uma delas que decide retornar a Belo Horizonte, pois aqui esta a minha vida e a maioria dos meus amigos. Sobre a decisão deste retorno, agradeço profundamente o incentivo e total força que recebi do magnífico reitor: Jacir de Freitas Faria. Certamente não me arriscaria se não fosse a oportunidade que ele me deu para seguir meus estudos, pois a principio não tinha onde morar e onde trabalhar. As coisas aconteceram de um modo muito rápido e com certeza, querer de Deus. Logo me apareceram três opções de casa para morar e vários amigos se movimentando para conseguir um emprego. Agradeço muitíssimo a minha amiga Mariza e seu filho Frederico, por me acolherem em sua casa durante os 3 primeiros meses. Sou gratíssima as minhas tias: Drica, Cely, Marly, Irany, Marieny, Dulce, também a minhas irmãs Bia e Nanda, a vovó Darci, a Zuzu, a Ceci e aos queridos amigos: Walter, Lenice, Ormy, Cida e Adolfo. Pessoas que me acompanharam desde sempre, onde quer que estivesse. Os agradeço pela ajuda financeira e total apoio que me ofereceram.

    Cheguei com um mês de atraso na faculdade, mas nada melhor do que dedicação, motivação e bons amigos para colocar as coisas em dia. Quero agradecer também o carinho dos padres e dos irmãos Maristas, dos irmãos de São Gabriel, dos Franciscanos, dos Orionitas e dos Missionários da Sagrada Família. Igualmente todo o carinho e cuidado dos amigos, funcionários e professores do meu amado ISTA, este lugar é minha "casa" e razão de alegria.

    Agradeço ao bom Deus pela acolhida que recebi da equipe do Pontofrio e a oportunidade de retornar ao mercado de trabalho. Assim como a oportunidade de conhecer novas pessoas, como o Daniel, Marilha, Gislange, Andressa, Robert, Wendel... que tem acrescentado em minha vida. 

    Falando em gente nova, não posso deixar de citar a Ivna Sá que tanto bem me tem feito.

  Esta de tapa tem sido de imensa alegria, encontro, decisões, resgate da minha feminilidade, liberdade de me relacionar como sou e não subjugada ao parecer de outros. Sei que na vida nem tudo são flores, mas me descubro a cada dia uma filha muito amada de Deus, segundo a minha essência. Hoje completando 33 anos, vivo a vida que escolhi: trabalho, estudo, moro sozinha e muito abençoada, por ter amigos tão queridos. 

    O Reino de Deus será para mim sempre um projeto infinitamente apaixonante, do qual jamais me afastarei, pois se Deus me permitir, grande teóloga serei, a favor da vida e do projeto de Jesus, na realidade encarnada, ouvindo a voz do coração, do Sagrado que me habita e do clamor dos irmãos.

    Ainda não cheguei ao fim, estou feliz no caminho, sentindo o sabor de cada coisa e da brisa suave que me abraça. Há pessoas que me acham maluquinha, eu sou e assim seguirei: sorrindo e brincando, porque cresci, curei minhas feridas, vence os medos, aprendi com as lágrimas, com a dor doida e com os desafios. Vi o bem e o mal e escolhi o meu caminho, que traço com ousadia e cantoria. Aprende com o que a vida me deu: errando e acertando fui me construindo e sei que todo o vivido, faz de mim quem sou!

Obrigada por me ajudarem a construir esta historia!

domingo, 17 de junho de 2018

O êxodo operado por Jesus



      O sinal da multiplicação dos pães é o 4º sinal dentre os sete apresentados por João. A passagem se encontra no capitulo 6, “conhecido como o mimi-evangelho de João, que contém a mensagem central sobre Jesus” (Konings). “O capitulo esta subdividido em 4 episódios: o sinal dos pães (6, 1-15); o caminhar de Jesus sobre as águas e seu reencontro com a multidão (6,16-25); o discurso sobre o pão (6, 26-65) e a opção por Jesus (6, 66-71)” (Xavier Léon Oufour). 

      O relato da multiplicação dos pães, também se encontra nos evangelhos sinóticos: Marcos 6, 32-42; Mateus 14, 13-21 e Lucas 9, 10-17, sendo que Mateus e Marcos apresentam uma segunda versão da multiplicação dos pães: Mt 15, 32-39 e Mc 8, 1-10. No entanto, existem diferenças sutis que podem passar desapercebidas aos olhos dos leitores. O grande diferencial da narrativa joanina, é a primazia dos gestos de Jesus: ele é quem percebe a necessidade da multidão faminta e reparte o pão. João 6, 1-15, traz muita relação e contraste com o Antigo Testamento. 

    A narrativa inicia com um marcador temporal: “depois disso”, que pressupõe uma ação continuada de Jesus, especialmente sobre os fatos ocorridos no capitulo 5, com a cura de um aleijado (5, 1-47), o que gera admiração por parte da multidão e conflito com os judeus. A partir do capitulo 6, o conflito com os judeus, ficará cada vez mais acirrado, o que demanda dos discípulos, uma opção de fé por Jesus (Jo 6, 59-71). 

      O relato da multiplicação dos pães, ganha seu pleno sentido, no discurso do Pão da Vida, pronunciado na sinagoga de Cafarnaum (6, 26-65). Em João 6, existe uma ruptura literária e geográfica na narrativa. “Muitos estudiosos acreditam que capitulo 6, foi deslocado, talvez por uma troca acidental ou adicional das páginas” (Konings). Seguindo a ordem correta teríamos: Jo 4,54 e Jo 6, e Jo 5, 7 e 8, narrativas que se dão em Jerusalém, enquanto que o capitulo 6 ocorre no interior da Galileia. 

Aprofundando o sinal 

V.1 Jesus se encontra com seus discípulos a beira do mar da Galileia, também conhecido como mar de Tiberíades ou Genesaré. “O termo mar serve para aludir ao mar que se atravessou no antigo êxodo” (Juan Mateos e Juan Barreto). Não se diz de onde Jesus veio, mas “a cena se desloca sem transição da capital (Jerusalém), para o interior da Galileia” (Konings). “A menção de Tiberíades é importante, pois era a sede de Herodes e sua corte” (J. Mateos e J. Barreto), que possivelmente se encontrava em Jerusalém para os festejos da pascoa judaica. 

V.2 Uma grande multidão os seguia pelos sinais que Jesus realizara em favor dos enfermos. “A terminologia, ver os sinais, já nos põe de sobreaviso: ele aponta para uma fé superficial” (Konings,). “Tais sinais antecipam o êxodo de Jesus, afim de tirar o povo da opressão, por isso os sinais que apresenta são sinais de amor e não de temor” (J. Mateos e J. Barreto). Segundo os mesmos teólogos, o primeiro êxodo termina na terra prometida, enquanto que o êxodo proposto por Jesus, parte dela, pois transformou-se em terra de escravidão. 

V.3 Subiu a montanha... “a menção a montanha confere um caráter solene: Jesus se senta com seus discípulos. O gesto faz uma profunda alusão a Moisés subindo ao monte Sinai” (Oufour). “Em vista da aliança, Moises subiu ao monte duas vezes, Jesus igualmente subirá duas vezes, na primeira com seus discípulos e na segunda quando tentam faze-lo rei” (J. Mateos e J. Barreto). “A discrição também nos remete ao sermão da montanha de Mateus 4,23-5,2, onde Jesus se apresenta como o novo Moises” (Konings). 

V.4 O autor situa a proximidade da festa da pascoa celebrada pelos judeus, a expressão surge com um tom de indiferença: “a festa dos judeus”. Por um lado, existe uma chamada de atenção para o que vai acontecer, mas também um gesto de descontinuidade com o judaísmo: Jesus não sobe para Jerusalém, mas para a Galileia, o que na visão de Konings, seria uma possível alternativa cristã para rememorar a pascoa e o êxodo). Por outro lado, a multidão, não acorre ao templo como de costume, mas a Jesus. 

V.5-7 “ Jesus vê a multidão que o seguia”, aqui ao contrário dos sinóticos, Jesus é quem percebe a necessidade da multidão e provoca a questão: com o que vamos alimentá-los? Jesus se revela como um verdadeiro pastor que se preocupa com suas ovelhas. “Aqui como no deserto, coloca-se a questão da subsistência do povo, que foi motivo de tentação para Israel” (J. Mateos e J. Barreto). Jesus põe Felipe a prova, que por sua vez, raciocina materialmente e não segundo a fé em Jesus. Na sua concepção, seria impossível alimentar a multidão, pois um denário equivalia a um dia de trabalho e não bastaria para saciar a multidão. “Jesus não aceita esta estrutura que subjuga e quer verificar, até que ponto a aceitam seus discípulos” (J. Mateos e J. Barreto). 

V. 8-9 André é quem aparentemente apresenta a solução: há aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixinhos. Este versículo está repleto de simbologia: o menino representa a comunidade cristã, pequena, mas que é capaz de partilhar o que tem. O número sete, representa dentro da cultura judaica, o número da perfeição, “neste relato indica a totalidade do alimento pela comunidade” (J. Mateos e J. Barreto). 

Os pães de cevada, faz menção ao profeta Eliseu que alimentou uma milícia de soldados, em tempos de fome e escassez (2 Rs 4,42-44) e ao próprio êxodo, quando o povo caminhava pelo deserto (Êx 16 e Nm 11, 22). O pão de cevada, era o alimento típico dos pobres, assim como os peixes, que eram considerados impuros, visto que o mar era símbolo do mal, de perigo e etc. O número 5 representa a Torá enquanto que o número 2, representa o livro dos profetas (Nevi im) e os livros sapienciais (Ketuvim), que formam os livros sagrados do judaísmo. João relativiza uma vez mais a instituição judaica. “Jesus se revela maior que Eliseu, Abraão, Jacó, Moises...“ (Konings). 

V. 10-11, Humanamente não há como saciar a multidão, porém Jesus entra em ação, sem levar em conta o pessimismo dos discípulos. Pede aos discípulos para acomodar a multidão na grama. “Comer reclinado era próprio de pessoas livres, particularmente na ceia pascal, via-se nisso a passagem da escravidão para a liberdade. Na pascoa de Jesus, a multidão dos oprimidos mudará de condição” (J. Mateos e J. Barreto). 

João como sempre é rico em detalhes: “havia muita grama! “O lugar, era denominação do templo, em oposição ao lugar situado em Jerusalém, onde jazia a multidão dos oprimidos, agora Jesus é o lugar onde reside a gloria de Deus, ou seja, o lugar onde se manifesta o amor incondicional ao homem, é o lugar dos homens livres, fora da instituição opressora” (J. Mateos e J. Barreto). 

Jesus tomou os pães e deu graças, um gesto profundamente judaico do cotidiano do povo, onde reconheciam que tudo provinha de Deus. Diferente dos sinóticos, é Jesus quem reparte o pão para a multidão. “À pascoa que Jesus anuncia não se come de pé e as pressas como a antiga, come-se deitado, reclinado, por ser a pascoa dos homens livres. É a pascoa dos que chegam e não dos que fogem. O maná era limitado, Jesus pelo contrário, responde a necessidade humana até a satisfação total” (J. Mateos e J. Barreto). 

V.12-13, Jesus pede aos discípulos para recolher as sobras. Sobra é sinal de abundancia. “Não é mais o maná que dá a vida, mas Jesus” (Oufour). “Em comparação com o sinal operado por Jesus, aparece uma superabundância” (R. Fabris e B. Maggioni). O maná apodrecia se fosse recolhido para o acumulo, mas as sobras, são recolhidas para que não se pecam. O número 12, algo completo, mas também se refere as tribos de Israel. 

V. 14-15, os que viram o sinal, creram nele como o profeta que deveria vir. O povo vê em Jesus uma continuidade com o antigo Israel, veem nele o messias davídico esperado e não a novidade de sua proposta. “Os judeus esperavam o para tempo messiânico, a renovação do maná, sabendo disso, Jesus quer evitar o fanatismo, quer mostrar que o entusiasmo da multidão é falso.... (R. Fabris e B. Maggioni). Ao se retirar a montanha, Jesus mostra que seu messianismo é diferente. “Jesus pretendia tornar o povo livre, mas eles querem renunciar a própria liberdade” (J. Mateos e J. Barreto). 

Similar a Moises após a traição do povo (Ex 34, 3-4), Jesus retira-se sozinho para o monte. “O monte representa a esfera divina, a gloria, o amor de Deus. 

      O capitulo 6 com sua riqueza literária e teológica, nos apresenta Jesus como um Deus plenamente encarnado na realidade, sendo capaz de perceber suas necessidades mais intimas, ajudando-as a fazer um caminho de fé profundo e não segundo os moldes do mundo, através uma fé mercantilista. Jesus se revela o verdadeiro Pão de vida que se oferece e nos ensina o dom da partilha, reconhecendo que tudo que temos é um dom de Deus, oferecido na liberdade de seu amor. João nos mostra que no caminho de fé, sempre existirá uma tensão onde devemos fazer uma opção continua por Jesus e seu projeto, não ao nosso molde, como fez a multidão que viu os sinais realizados por ele, mas na verdadeira acolhida que parte sempre da vida, perpassa o humano e retorna para Deus. 

Boa leitura minha gente!

sábado, 16 de junho de 2018

Sementes de vida

   
    
     Neste final de semana, a liturgia vem nos lembrar a dinâmica do Reino de Deus, Reino que não se resume ao céu ou a uma realidade após a morte, mas algo concreto, que se constrói a partir da realidade em que estamos inseridos. Muitos não suportam esta concepção do Reino associada à vida, porque ela nos diz desacomoda e exige de nós uma ação concreta para que este Reino seja uma realidade. No entanto, a Palavra de Deus, deve nos interpelar, incomodar e cativar. Há cristãos que dizem amar a Deus, porém são incapazes de amar os crucificados da história. No lugar de amor e defesa da vida, dão um testemunho concreto contra o próprio Evangelho, revelando-se anti-cristo dentro fé cristã, munidos de discursos vazios e moralistas. 

     Minha gente, a vida e a proposta de Jesus são fascinantes, e não algo engessado, imóvel pelo peso das estruturas... leiam mais os Evangelhos, percebam que ele rompeu com tudo isso, começando pela sua religião materna. Hoje em seu nome ditamos palavras de ordem ao povo, dizendo o que pode ou não pode. Jesus andava com os marginalizados, com os últimos, com as mulheres, crianças, doentes de todos os tipos, o que representava um escândalo para o Judaísmo e sinal de desrespeito à lei. Jesus rompeu com todo rigor, ele se deu como Palavra de Deus para todos. Por que em seu nome excluímos? Marginalizamos? 

     Sua morte foi a radicalidade última desta entrega. Que palavras temos dado a sociedade? Dado a nós mesmos? A nossa família? Aos nossos colegas de trabalho?

     O nome de Deus/Jesus se tornou moda na boca do povo, mas não uma realidade, uma consigna de vida. Fazer Deus realidade em nossa vida, não se resume no cumprimento de preceitos religiosos, mas na prática do amor, como tão bem nos narra São João em seus escritos.

   Ao contrário do que muitos pensam, nem tudo que está na Sagradas Escrituras, são palavras de Deus, mas ressonâncias da experiência de Deus em diferentes épocas, feita por um povo. Foi na história de vida que Israel foi descobrindo a presença de Deus e selando com ele uma aliança de vida. Neste ponto, cabe ressaltar que existem diversas expressões e passagens bíblicas que contradizem a imagem do próprio Deus, imagens que chegaram até nós e que permanecem no inconsciente do povo. Ao mesmo tempo que compreendem que Deus é amor, também o concebem, como um Deus castigador, que salva a uns e condena a outros. Tais passagens e expressões, são resultados da compreensão de um povo, expressões que foram reunidas ao longo de vários séculos, passando por diferentes contextos e gerações. No entanto, o mais importante de tudo isso, é que em meio de inúmeros fatores puderam fazer uma verdadeira experiência de Deus e transmitir para nós sua fé. 

     Agora compete a nós, meditar esta Palavra, trazê-la para nossa vida e atualiza-la. Porém, vale recordar, que nossas palavras serão divinas, na medida em que elas forem inclusivas, pois a diversidade em nada fere a Deus, sendo que o mesmo Deus é uma realidade Trina, formada por diferentes pessoas que se relacionam a partir da sua alteridade (identidade). 

    O mesmo Jesus quando nos apresenta o Reino, utiliza diferentes linguagens e simbologias, pois o Reino é dinâmico e deve estar aberto para os homens e mulheres de todos os tempos, cada qual com sua diversidade, pois todos nós somos sementes de Deus (irrepetível), ele espera que demos folhagens e frutos, capaz de abrigar a vida (1° leitura Ez 17, 22-24). Não podemos ser árvores secas e infrutíferas, pois o sopro do Criador nos habita. 

     O Sl 91, traz a expressão de pessoas verdadeiramente felizes, que fizeram uma profunda experiência de Deus, que dilata pela vida, pelos poros... O salmista exclama: "como é bom agradecermos ao Senhor"! Esta frase é de uma beleza, me transmite leveza e liberdade sem igual. Que possamos expressar com ele: "meu Deus, o meu Rochedo", em uma fé límpida, sem temor, sem escrúpulos.

     Paulo em sua 2° carta aos Cor 5, 6-10, se expressa em uma linguagem tipicamente judaica: prêmio, castigo, tribunal e etc, mesmo que o ponto de partida seja a pessoa de Jesus Cristo. O mais importante que Paulo destaca, é o nosso caminhar para Deus, caminho que não se dá as claras, mas em meio às dificuldades da vida.

    Cristo será nosso farol agindo misteriosamente no seio da nossa vida, fazendo com que ela aconteça (Evang. de Mc 4, 26-34). 


Existem muitas pessoas que perderam o sentido de vida, pois lhes faltam a seiva da vida e uma terra fecunda onde Deus possa brotar. Nenhuma planta sem raiz sobrevive, nenhum cristão com a fé superficial é capaz de fazer germinar a Vida Nova de Cristo Jesus.

Um bom final de semana para todos!

sábado, 9 de junho de 2018

Jesus o mestre da vida, o mestre do amor



     Em tempos de desafio, "as casas construídas sobre a rocha", serão capazes de subsistir. No evangelho do 10º domingo do tempo comum: Marcos 3,20-33, nos deparamos com os novos conflitos enfrentados por Jesus, não somente por parte das instituições judaicas, mas também pela sua própria família, que tem dificuldade para compreender o seu messianismo. O evangelho de Marcos é o que mais ressalta o conflito familiar de Jesus, que na maioria das vezes é desapercebido pelos leitores. Jesus sendo um jovem judeu, decide seguir uma orientação distinta da sua família, decide viver uma vida peregrina, casta e que se opõe as estruturas da sua época, o quê traria não somente consequências para si, mas também para sua família e seus seguidores. 

     No contexto judaico a família ocupa um lugar central, de extrema importância. Ela era sinônimo de benção de Deus e era a responsável de orientar e encaminhar a vida dos mais jovens. Como podemos perceber, Jesus encontrou muitas dificuldades, além daquelas narradas pelos Evangelhos. Ele rompeu com as estruturas e seguiu o seu próprio caminho.

     Como cristãos conhecemos muito pouco a Jesus e sua vida, temos sempre em mente um Deus glorioso, rei e majestoso. No entanto, esta figura foi sendo incorporada a ele quando o império romano assumiu o cristianismo como religião oficial do império, a partir do ano 313, quando ganhou liberdade de culto, e a partir de 381, quando foi assumida pelo império como religião oficial. Aos poucos as casas de oração onde os fiéis se encontravam, foram substituídas por suntuosas basílicas, repletas de esplendor e adornos reais. A fé que antes era vivida como escolha de vida, passa a ser imposta as multidões. 

     No entanto, em meio a tudo isso, sempre existe uma escolha última, que depende de cada um de nós,  aderi-la ou não. Isso fez Jesus em sua vida! Assim como nós, Ele viveu o drama de ser humano, o drama das escolhas, de esta subjugado a uma cultura, a uma época e realidade.Todos nós em um momento ou outro da vida, passamos por esta mesma realidade, porém muitos param nela e vivem uma vida frustrada. No cenário da vida é preciso ocupar o lugar que nos cabe, ninguém fará isso por nós! É preciso seguir construindo a obra mais difícil da vida: a obra da própria construção e reconstrução!


     Jesus viveu a realidade de ser humano, "foi acusado de agir pelo poder de belzebu, príncipe dos demônios" (v. 22b), mas não se deixou abater, pois estava convicto de sua missão e era sensível a cegueira dos mestres da lei que eram incapazes de reconhecer o próprio Deus presente nele e em seus atos.

   Nossa cotidianidade com sua realidade pode nos cegar, tirar nossos sonhos e até o sentido de vida. É preciso aprender de Jesus e não desistir frente aos obstáculos, mesmo que sejamos levados a cruz, mas tenhamos a certeza de viver uma vida plena de sentido, sem farsas, máscaras ou mediocridade. Viver não é uma tarefa fácil, mas professamos a fé no mestre da vida, no mestre do amor, que nos deixou pistas para o bem viver. 

     Seja fiel aos teus sonhos e ao projeto que Deus tem para você, não se deixe iludir pelas vozes mansas e sorrateiras que chegam a nossa vida, (ex. da 1° leitura: Gn 3, 9-15). Coloquemos em Deus nossa esperança, nossa vida, medos, fracassos e sonhos. Espere meu irmão, minha irmã, no Senhor (Sl 130). Deixemos de olhar tanto para a materialidade da vida, "voltemos os nossos olhos para as coisas invisíveis" (2 Cor 4, 18), pois o essencial é invisível aos olhos, é algo impalpável mas lembremos que fomos criados segundo o sonho de Deus, em sintonia com toda a criação e não fora dela. Jesus vem recordar que somos família de Deus. Acolher a sua Palavra e dar-lhe vida, é recuperar a nossa filiação divina e toda a potencialidade da vida humana.

Um Feliz final de semana para todos. Minhas felicitações aos namorados, lembrando que o amor é o que diviniza a nossa vida. O outro não é objeto de prazer, mas é objeto de amor, de respeito e cuidado, onde o eu se completa.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Viva a sua real beleza



“Viva a sua real beleza”. Esse evento promete! 


      Escrevo esse artigo para fazer um convite a você, minha amiga, e a todas as mulheres de boa vontade. Mulheres capazes de transcender os esquemas mentais dessa sociedade que dita normas e padrões às mulheres, retirando delas o direito de serem livres e de se expressarem como são.

      Refiro-me ao evento VIVA A SUA REAL BELEZA que acontecerá no auditório do Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA), no dia 4 de agosto, das 8h às 18h. O evento é uma promoção da fotógrafa, jornalista e professora Ivna Sá que também é casada, mãe de 3 filhos e palestrante. 


      Com uma experiência de 12 anos na fotografia de família e 5 anos na fotografia de mulheres, a fotógrafa ajuda mulheres a redescobrirem a sua real beleza, que vai muito além da aparência física. Ela tem um olhar místico, profundo e transcendente, que ultrapassa o simples olhar, "pois sabe que o essencial é invisível aos olhos" (Pequeno Príncipe). 

      Justamente por ter esse olhar, a fotógrafa tem se destacado por inúmeros trabalhos diferenciados com mulheres cadeirantes, com deficiência visual, mulheres em tratamento de câncer, mulheres de idade avançada e mulheres comuns que vivem o desafio da própria aceitação. O objetivo é promover um espaço de acolhida e diálogo para todas as mulheres por meio de palestras, rodas de conversa, experiências sensoriais, música, momentos de relaxamento e de humor, para que possam vivenciar a complexidade e a beleza do “ser feminino”.

    Além das atividades previstas, Ivna também fará o lançamento de um livro que escreveu em parceria com a psicóloga Raquel Araújo. Por meio de cartas, elas trocam partilhas sobre temas como felicidade, sofrimento, o desafio da educação dos filhos em tempos atuais e a comunicação do amor. O livro leva o nome de “A vida que pulsa em nós”. 

      Venha e “viva a sua real beleza”! Venha sem medo e ouse fazer esse caminho de descoberta e encanto com a Ivna Sá: uma mulher como você que protagoniza, dia a dia, a beleza de ser mulher em uma sociedade ainda machista e padronizada. Eu já reservei a data e, com certeza, estarei presente. Participe também. Tenho a certeza de que você se surpreenderá. 

      No link abaixo você confere a programação e faz a sua inscrição
       https://www.sympla.com.br/viva-a-sua-real-beleza__272003

       Conheça um pouco do trabalho de Ivna Sá


Rafaela Nunes: perdeu a visão aos seis anos de idade. Para ver as fotos do seu ensaio foi utilizado o método da audiodescrição e da memória sensorial


Valéria Oliveira: já sofreu 66 cirurgias plásticas devido a queimaduras de terceiro grau na infância.


Priscila Fonseca: com paralisia cerebral, já escreveu dois livros é formada em Design Gráfico pela UEMG


Maria Aparecida Martins: uma mulher comum celebrando a vida e sua real beleza, 52 anos.



Acompanhe as programações semanais do seu canal e descubra a tua real beleza! 

https://www.youtube.com/channel/UCozI8joJ9XxZ9ncq31WHIMw

sábado, 2 de junho de 2018

Vida que se constrói, vida que segue


      Estamos iniciando um novo mês. O mês de junho é o mês de festa e de muita alegria. É também um mês muito significante para mim, onde completo meus 33 anos de idade e desejo compartilhar com vocês as maravilhas do Senhor em minha vida.

     Estamos celebrando o 9º domingo do tempo comum, onde em meio aos desafios e rigor da lei, Jesus faz a opção pela vida e dá testemunho do Reino de Deus. No entanto, quando alguns padres destacam em suas homilias a crítica ao governo e a política, muitos cristãos se revoltam e os acusam de serem comunistas. Não nego que existem muitas pessoas politizadas e que polarizam as coisas, mas negar este caráter do Evangelho, é desconhecê-lo, é desconhecer o próprio Jesus, que foi condenado e morto por razões políticas. Isso nós podemos conferir em todos os Evangelhos, onde Jesus constantemente tem conflitos com as autoridades judaicas que se sentiram profundamente ameaçadas por Ele, mesmo sendo judeu como eles. O diferencial de Jesus era seu agir a segunda sua liberdade interior, sempre em prol da vida, porque não queria que nenhum dos que o Pai lhe dera, se perdesse (Jo, 17), por isso, Jesus assume até as últimas consequências a entrega de si mesmo.

    Jesus será sempre nosso maior modelo, por ele existem os cristãos, mas será que somos cristãos a nível de Jesus? Olhemos irmãos cristãos, nossa realidade de Brasil e América Latina, frente a tanta atrocidade contra a vida e a dignidade humana. 

   Em um país em crise damos margem à corrupção, dizemos sim e exploração, ao superfaturamento das coisas que são básicas na vida do povo: alimento, gás, moradia, direito de ir e vir...  Gasolina é uma necessidade secundária para a maioria da população, por que tantas filas? Tantas brigas? Nosso país está quebrando e afundando pela enorme divisão que existe entre nós, já não nos vemos como nação, o que prevalece são os interesses pessoais de cada um, um povo assim e fácil de manipular, é fácil de jogar uns contra os outros. Estamos nos  destruirmos como povo, próprio evangelho fala que um Reino dividido não subsiste. 


     Nesses dias conturbados de greve, de escassez de alimento e gasolina, me chamou muito atenção a falta de senso crítico da população, os brasileiros mostraram seu sorriso passivo e senso de humor para rir de sua própria desgraça. Quantas imagens irônicas no WhatsApp, face... Onde está o povo que foi capaz de sair da ditadura, da fome e da miséria? Cadê o país que era capaz de se unir e gritar pelos seus direitos? Hoje nos faltam lideranças, mas o espaço precisa ser preenchido por cada um de nós, não podemos ser explorados e seguir sorrindo. Murmurar pouco funciona. Acorda Brasil! Acorda América Latina! Somos o continente da Esperança! Nosso solo é fecundo pelo sangue de muitos mártires que lutaram pela justiça e igualdade. Nós podemos, somos herdeiros de um povo guerreiro! Há mais de 200 anos, Tiradentes foi assassinado por questionar os impostos abusivos de Portugal, hoje nós nos matamos para consumir produtos superfaturados. O poder está no povo e com o povo. As lideranças religiosas e políticas estão a serviço de seu povo, e não o contrário! Nós nos deixamos explorar, colocaram em nós cabrestos e vendas, para nos conduzir ao abismo. Acorda Brasil, ou nos tornaremos uma nova Venezuela: faminta miserável e refugiada. Quem pede intervenção militar é porque não conhece a história do próprio país e a dor de tantos brasileiros que foram exilados, torturados, mortos e desaparecidos. Intervenção militar não é a solução, mas regressão! Acorda Brasil conheço seu passado e transforme teu futuro! 


A 1° leitura do livro do Deuteronômio 5 12-15, tem uma profunda relação com o Evangelho de hoje. Quando Deuteronômio fala do Sábado se refere a um dia de descanso para o povo, pois quando eram escravos no Egito, morriam pela sobrecarga de trabalho, mas agora como homens livres, podem descansar. O sábado seria também um dia para o Senhor que os libertou da escravidão do Egito. Após se constituírem como povo, estabelecem novos parâmetros de sociedade e de relação, porém na época de Jesus, o sábado havia se transformado em uma lei fria, que não estava mais a serviço da vida. 

      No confronto com as autoridades, Jesus questiona a dureza de seus corações. Reparem que a cegueira dos judeus era tão grande que já não eram mais capazes de perceber a presença de Deus em meio deles, através dos gestos de Jesus que realizava sinais de vida, libertando as pessoas de sua escravidão, como fez com o homem da mão seca. Eram incapazes de perceber Deus se manifestando e atualizando o Êxodo de Israel, Êxodo que também deve acontecer na vida de cada um de nós. Será que o mesmo acontece conosco hoje como Igreja, quando não acolhemos alguém por ser diferente, por ser fora dos paramentos das leis da Igreja? As leis da Igreja são reflexões e decisões humanas, mas o grande e eterno mandamento de Jesus é o amor. Jesus não tinha a intenção de fundar uma nova religião, mas resgatar a verdadeira lei de Yahveh para Israel: o mandamento do amor, que foi capaz de livrá-los da escravidão e constituí-los como o povo.

      Observe o gesto de Jesus: Ele pôs o homem enfermo no centro, lugar que deve estar a vida, pois do contrário, o poder e o autoritarismo terão a primazia. Todos sonhamos com o Reino de Deus, mas sem perceber semeamos as sementes do anti reino dia a dia. Por isso, voltemos ao senhor "ele é nossa força" ( Sl 80/81).

      Meus irmãos, é preciso reconhecer o que somos: barro, mas que levamos dentro de nós um grande tesouro 2° Cor 4, 6-11). Lembremos meus queridos, "que somos afligidos de todos os lados, mas não vencidos; postos entre os maiores apuros, mas sem perder a esperança; de que somos perseguidos, mas não desamparados; derrubados, mas não aniquilados. 

Levanta Brasil! Acorda cristão!
Um Feliz final de semana para todos!

1º Domingo da quaresma 2020