Para ser sábios precisamos constantemente fazer escolha, ponderar e discernir.
O prometido artigo sobre o livro da Sabedoria vem fechando o mês de setembro com a grata memória de São Jeronimo. Espero que apreciem o conteúdo e se lancem cada vez mais no mistério de um Deus que se revela na história continuamente.
O livro é conhecido como a sabedoria de Salomão ou livro da sabedoria. Foi escrito em grego na cidade de Alexandria, pelos judeus da diáspora, em torno do 50 a. C, motivos pelos quais não entrou no cânon judaico, visto que umas das maiores exigências do cânon consistia em escritos na língua hebraica ou aramaica.
Cronologicamente foi o último livro escrito do Antigo Testamento, sendo atribuído a Salomão, símbolo da sabedoria de Israel. O autor escreveu para dois públicos específicos: judeus e pagãos: para os judeus escreveu em uma tentativa de fortalecer sua identidade como povo de Deus, e aos pagãos para demonstrar que a sabedoria de Israel era superior à grega.
Nos capítulos iniciais sobretudo insiste que a sabedoria e a imortalidade se alcançam pela pratica da justiça.
O livro pode ser dividido em três parte:
- 1º parte: sabedoria dá sentido à vida: 1,16-5,23;
- 2º parte: natureza da sabedoria: 6,1-9.18;
- 3º parte: longa meditação sobre o Êxodo: 10,1-19.22.
Na primeira parte do livro (1, 1-6,21) há uma clara formulação da doutrina imortalidade”, que exigia dos judeus uma fidelidade a Deus e a pratica da justiça para alcançá-la, enquanto que aos ímpios estava destinado as tribulações e sofrimentos.
Na segunda parte: 6, 22-9,18, o conceito de sabedoria passa a significar a relação entre Deus e o ser humano.
Na segunda parte: 10,1-19,22, é uma grande releitura e interpretação da história para aplicar as novas circunstancias. O autor faz uma releitura teológica e moral da libertação do Egito para atualiza-la aos contemporâneos.
O capitulo 10 se refere a sete figuras patriarcais, desde a origem até o Egito: Adão, Abraão, Noé, Ló, Jacó, José e Moisés, mostrando que a Sabedoria conduz a história e nela realiza a justiça divina. Os capítulos 11 aos 19, descrevem a manifestação do juízo histórico de Deus, através de sete acontecimentos ocorridos durante a saída do Egito. Se acentua fortemente o castigo contra o Egito, símbolo dos ímpios e a salvação para os hebreus, símbolo dos justos, que abraçaram a sabedoria de Deus.
Para o autor, a sabedoria será sempre o único meio que os governantes têm para fazer o que é justo, por isso abre seu livro com um apelo à justiça para todos os governantes: “amem a justiça, todos vós que governam a terra” (1,1). Também se refere a sabedoria com uma noiva que devem desposar para bem administrar. Os capítulos 7 e 8 elencam os diversos atributos da sabedoria.
A sabedoria representa o próprio Deus. Outrora Deus libertou Israel, agora esta tarefa se reserva a sabedoria, pois ela está presente na história.
O último se versículo resume em uma expressão de fé e esperança, que resume a história e os lança para o futuro: “Em todas as coisas, ó Senhor, tens feito com que o teu povo tenha grandeza e glória; e não deixaste de estar junto deles em todos os tempos e em todos os lugares” Sab 19,22.
Alcançar a sabedoria consiste num continuo processo de abertura a Deus, que nos-la concede como um dom para bem discernir e praticar a justiça, para fazer presente o Reino de Deus. O livro da sabedoria nos ensina a contemplar criticamente a história para saber ler os acontecimentos presentes em nossos dias.
- 1º parte: sabedoria dá sentido à vida: 1,16-5,23;
- 2º parte: natureza da sabedoria: 6,1-9.18;
- 3º parte: longa meditação sobre o Êxodo: 10,1-19.22.